Amazônia adere à campanha contra o câncer de mama

Doença que mata 12 mil mulheres por ano também ataca homens no Estado do Acre. Campanha Outubro Rosa é um alerta mundial para a prevenção. Lei que vigora desde abril dá direito a um exame mamário gratuito por ano. 


MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia 

RIO BRANCO, AC – Uma mulher morreu vítima de câncer de mama na semana passada na capital acreana. Dois homens contraíram a doença e se submetem a tratamento. Desde o ano 2000, conforme a Organização Mundial de Saúde, para cada grupo de cem mulheres há um homem infectado. O câncer de mama ataca cerca de dois mil homens por ano nos Estados Unidos.

A situação foi revelada à Agência Amazônia na noite de segunda-feira pela direção da Associação Amigos do Peito, quando moradores do Edifício Paradiso, no Bairro Abraão Alab, acenderam lâmpadas rosa para simbolizar a adesão à campanha nacional preventiva contra a doença.

Durante reunião no prédio no qual também é morador, o deputado Fernando Melo (PT-AC) conseguiu muitas adesões para o Outubro Rosa. Ele é também autor de emenda orçamentária individual que contempla o Estado do Acre com R$ 600 mil para aquisição de quatro aparelhos de mamografia para Brasiléia, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Tarauacá. O Estado possuía apenas dois mamógrafos, em Rio Branco; um deles sofreu avaria e não vem sendo usado. 

Edifício Paradiso, em Rio Branco: iluminado para lembrar adesão de acreanos à campanha mundial de prevenção do câncer de mama /M.CRUZ

Com a filha Julia, de apenas 24 dias, no colo, um casal compareceu à reunião para demonstrar apoio e preocupação com a incidência da doença. A moradora Lucinda Cunha de Brito transmitiu otimismo: “Quando o nódulo é detectado, a pessoa se salva tranqüilamente”, comentou. Assim ocorreu com uma irmã do deputado Melo, no entanto, a falta de diagnóstico em tempo hábil tirou a vida de uma comadre dele, em Tarauacá, a cerca de 400 km de Rio Branco.

Maioria das mulheres é 
da região do Vale do Juruá

RIO BRANCO – Começou a vigorar em abril deste ano a Lei nº 11.665, que garante a todas as mulheres com idade acima de 40 anos o direito de fazer o diagnóstico preventivo de mama na rede hospitalar pública. Ela dá direito à mulher brasileira fazer um exame de mamografia gratuito por ano e com isso evita complicações de decorrentes da doença não diagnosticada a tempo.

“O ato de acender a luz rosa também pode ser interpretado como alerta às mulheres acreanas. Que a causa é nobre, todos sabem, mas precisamos fazer cumprir a lei, e isso só é possível dotando os hospitais desses aparelhos”, assinalou. “Felizmente, o Acre tem um hospital do câncer e podemos detectar a doença”, acrescentou.

A maior parte das vítimas de câncer de mama abrigadas na Casa de Apoio das Amigas do Peito na capital vem da região do Vale do Juruá, a cerca de 700 quilômetros de Rio Branco. Durante pelo menos seis meses, o tratamento individual não pode ser interrompido. As mulheres recebem ali quatro refeições diárias. A entidade sobrevive graças às promoções feitas pela diretoria e ao apoio direto da Central de Articulações de Saúde do Governo do Estado.

Até o final de 2008, de cada cem mil mulheres, em Manaus (capital do Amazonas), 220 tiveram o diagnóstico confirmado de câncer de mama, informou o Instituto Nacional de Câncer. Nesse estado, a maior incidência de câncer de mama se dá em mulheres com idades a partir de 40 anos, ou seja, 95% do grupo que possui câncer de mama e se tratam no hospital da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas. A fundação constatou que até mesmo as mulheres que optaram por não ter filhos compõem o grupo de risco que pode vir a ter esse tipo de câncer.

Deputado acreano lembra sofrimento 

Deputado Valter Prado (primeiro à direita, agachado) foi vítima do câncer de próstata e agora apóia campanhas de prevenção /M.CRUZ

RIO BRANCO – Recuperado de câncer de próstata em 2004, o deputado estadual Valter Prado (PSB) defendeu emocionado o exame preventivo. “Eu cheguei ao hospital (em São Paulo) pesando com 99 quilos, mutilado e desenganado. Passei pela quimioterapia, baixei para 63 kg e sei o que é a doença. Quando o câncer ataca uma pessoa, também atormenta toda a sua família e aniquila até as finanças da casa”, disse. Em seguida, cumprimentou Melo pela campanha: “Este é o gesto mais nobre do seu mandato”.

A secretária da Associação Amigos do Peito, ex-portadora da doença, Sueli Medeiros, apontou um dado pouco conhecido: homens são vítimas não apenas do câncer de próstata, mas também de mama. “Eles desenvolvem o tumor de mama igual ao das mulheres, por isso devem se examinar regularmente, sejam magros ou gordos”, aconselhou Sueli.

Aumenta a cada ano

Segundo apura a direção da entidade, embora a incidência da doença em homens ainda seja considerada baixa – equivalente a 1% dos cânceres malignos – ela aumenta a cada ano. Mas os índices de cura estão diretamente relacionados ao diagnóstico, ou seja, as chances de cura crescem à medida que o tumor é descoberto precocemente. 

Ex-portadora: Sueli Medeiros, secretária da Associação Amigos do Peito, em Rio Branco /M.CRUZ

Presidente e também ex-portadora desse tipo de câncer, Graça Reis, lembrou a luta da fundadora da entidade, a juiz da Infância e da Juventude Maria Tapajós Santana. “Foi uma lutadora, morreu sem ter se aposentado”. Atualmente, um dos maiores objetivo da associação é levar os homens a procurar os exames de prevenção do câncer de mama e “perder o medo de conhecer os resultados”. Tal qual o que ocorre com as suspeitas de câncer de próstata.

O tratamento do câncer de mama em homens é semelhante ao das mulheres e começa pelo exame de toque na mama, mamografia, consultas a médicos especializados e depois de detectado a solução é a cirurgia e de acordo com o estágio do câncer são sugeridos alguns tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia. Hoje em dia, a cirurgia de remoção do tumor é bem menos traumática e o/a paciente já sai do centro cirúrgico com a mama reintegrada.

SAIBA MAIS

• O câncer de mama lidera o índice de mortalidade no Brasil. Fica atrás dos acidentes automobilísticos, atropelamentos e assassinatos. A cada ano morrem de câncer no Brasil dez mil mulheres e a faixa etária está acima dos 35 anos.

• Uma das maiores causas da morte por câncer de mama é a detecção tardia e a metástese (transmissão de células cancerosas para um órgão próximo). Sessenta por cento dos casos são identificados em estágios avançados (tumores com mais de 5 cm de diâmetro). Aí a mastectomia (retirada de um dos seios) é inevitável.

• Em tumores iniciais (menos de 2 cm) pode ser feita uma cirurgia chamada quadrantectomia sem retirada do seio.

• Depois da cirurgia, espera-se mais 10 anos. Se durante este período a mulher não apresentar nenhum tipo de câncer, será considerada curada. Pelo menos 10% das vítimas apresentam novamente o problema. Uma das explicações é a metástese da doença que pode começar um ou dois antes da manifestação do tumor, disseminar-se pelo sangue e órgãos vitais e levar à morte. 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião