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Montezuma Cruz

Amazônia Brasileira, Pantanal, Andes e Pacífico criarão um super roteiro turístico


Amazônia Brasileira, Pantanal, Andes e Pacífico criarão um super roteiro turístico - Gente de Opinião

A trilha proporciona conhecimento botânico e banho na fonte de água cristalina coberta pela floresta /DIEGO LOURENÇO GURGEL
 


MONTEZUMA CRUZ
De Rio Branco (AC)

 

Acre, Rondônia e Mato Grosso anunciaram esta semana mais um passo para a consolidação de um antigo sonho: a exploração da Rota Interoceânica Brasil-Peru e Bolívia, cujos caminhos fortalecem a integração das atividades turísticas e ecológicas nesses três estados. Ou seja, os atrativos amazônicos unem-se, aqui e nesses países vizinhos, com grande chance de crescimento na divulgação de diferentes etnias, florestas, trilhas sinuosas, geoglifos, picos com neves íngremes, desfiladeiros, montanhas e os atrativos naturais de cada um.
 

Um termo de cooperação técnica assinado em Cuiabá por representantes governamentais permitirá gestão de recursos, consultorias, controle, acompanhamento e acessos a dados e informações do setor. Participam diretamente o Serviço de Apoio à Pequena às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Instituto Brasileiro de Turismo e a Agência de Desenvolvimento do Turismo na Macrorregião Norte (Adetur).
 

O  ditado popular é ouvido nos corredores das repartições oficiais em Rio Branco: “É pegar ou largar.” Entusiasmados, guias, turismólogos e autoridades unem-se para conquistar oportunidades de bons pacotes conjuntos. Com base no Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (Proecotur), do Ministério do Meio Ambiente, eles constataram que a Amazônia recebe anualmente 250 mil turistas, tendo um potencial de crescimento superior a 1.000%. Assim, a região teria condições de ampliar o número de visitantes para até três milhões de visitantes, movimentando US$ 5 bilhões. 
 

Segundo o presidente da Adetur, José Raimundo Morais, a região tem ainda a maior permanência média de turistas do País, com 14 dias, enquanto nas demais regiões brasileiras ela é de nove dias. Cada um desses visitantes gasta em média US$ 112,86 por dia.
 

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Secretária de turismo do Acre, Ilmara Rodrigues  Lima negocia com as embaixadas brasileira e peruana o fortalecimento de uma agenda de integração turística /SECRETARIA DE TURISMO MT
 

"A cooperação técnica traduz o atual ritmo de trabalho das secretarias estaduais do setor e isso pressupõe a colheita dos frutos de um projeto concebido há três anos”, destaca ao a secretária de estado de turismo e lazer do Acre, Ilmara Rodrigues Lima. Ela começou a negociar com as embaixadas peruana e brasileira a chamada Agenda Interoceânica. Há dois anos, políticos, empresários e diplomatas adiantaram estudos de cooperação para a união comercial e turística entre as regiões de Huánaco, Tambopata e Ucayali (Peru) e o Vale do Juruá (AC). “Estamos no centro da América do Sul; o Acre é porta de entrada e a aproximação da Copa do Mundo de 2014 traz o ânimo necessário para promovermos eventos que possam movimentar bem mais o turismo na região”, ela assinala.

 

Um mundo a descobrir
 

Tem rondoniense e muitos brasileiros que ainda não sabem: o Rio Madeira, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, nasce no Peru, com o nome de Madre de Dios. Tem acreano e a maioria dos brasileiros que também ignoram a Zona da Mata rondoniense guarda tesouros de pedras e geoglifos tão importantes quanto os do Acre, recentemente descobertos, em pesquisas de campo feitas pelo farmacêutico Joaquim Cunha da Silva, que tomou a iniciativa de chamar representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, visitou museus em Cusco e Lima, e contribuiu com o levantamento minero-turístico supervisionado pelo geólogo Amílcar Adamy, do Serviço Geológico do Brasil (antiga Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais) em Porto Velho.


 

Conhecida pela excelente opção de compras, Cobija (Pando), na Bolívia, situa-se ao lado de Brasiléia e de Epitaciolândia, cidades acreanas, a 235 quilômetros de Rio Branco. É muito visitada, mesmo antes da construção da Rodovia do Pacífico. Já o marco da Tríplice Fronteira Brasil-Peru-Bolívia situa-se em Assis Brasil, a 343 km da Capital acreana, ponto de partida para Puerto Maldonado, no Peru.
 

Com o termo de cooperação técnica, os atrativos naturais e culturais da Planície Amazônica tornaram-se conectados à selva da Cordilheira dos Andes, às fortalezas sagradas do Império Inca, às ruínas de Machu-Picchu (eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno) e à Costa do Oceano Pacífico, nos portos de Illo e Matarani.O trecho peruano da rodovia foi dado por inaugurado em fevereiro de 2011 no governo anterior, do presidente Alan Garcia, entretanto, o governador Tião Viana aguarda, ainda para este ano, a presença da presidente Dilma Rousseff para a inauguração oficial do trecho acreano, o que oficializará a integração.
 

Para o superintendente de turismo de Rondônia, Basílio Leandro de Oliveira, a rota integrada com os países andinos leva a uma aproximação maior: “Estávamos de costa para os nossos vizinhos, agora queremos dialogar de frente na construção de uma parceria forte.” A secretária estadual de turismo de Mato Grosso, Teté Bezerra, destaca a importância da participação do Sebrae na formalização do estudo de viabilidade do roteiro. “A iniciativa privada representada pelo trade de cada federação tem que se empenhar para o projeto realmente sair do papel e ser visto como

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Almoço no seringal: oportunidade única para o turista degustar pratos da culinária regional e escutar bons e velhos contos e causos acreanos /DIEGO LOURENÇO GURGEL
 

produto tanto para o turista interno como externo; hoje, o turismo de sol e de praia já é constituído, por isso precisamos oferecer o que temos de melhor, que é o ecoturismo, de contemplação, de aventura, com sustentabilidade.”

 

Avião para Lima e almoço no seringal
 

Via aérea, o projeto conta com a parceria da TRIP, que já estuda a linha Rio Branco-Lima. Fundada em1998, essa empresa utiliza jatos fabricados pela Embraer, tem 88 destinos, dos quais, 38 na Amazônia Legal – e se tornou a maior empresa de aviação regional da América Latina.“É uma oportunidade única a exploração das belezas naturais nunca vistas em outras regiões”, comenta o diretor de relações institucionais da empresa, Victor Celestino.
 

“Os olhos dos turistas estrangeiros se voltam há alguns anos para a nossa região, por conta do turismo religioso proporcionado pelo chá hoasca, comungado por religiões da floresta. As pessoas vêm para cá como se aqui fosse a Meca”, lembra a secretária Ilmara de Lima.
 

Além da contemplação da floresta, ela destaca a profissionalização e a infraestrutura ao longo dos caminhos rumo ao Pacífico. Em Xapuri (a 189 quilômetros de Rio Branco), berço de ambientalistas, por exemplo, toda atividade nas pousadas vem sendo organizada com vistas à valorização da culinária e do modo de viver dos seringueiros.
 

Famílias já recebem os turistas em casa, mostram-lhes a riqueza da biodiversidade e oferecem-lhes pratos típicos, entre os quais o tacacá, o pato no tucupi e a galinha caipira. Nesse aspecto, a própria primeira-dama do Acre, arquiteta Marluce Cândido, tem um trabalho voltado para a Escola de Gastronomia, que tem o apoio do Instituto do Dom Moacir e da Secretaria de Turismo. 

 
 

Hotel, shopping e centro de convenções

 

Mulheres vendem artesanato nas ruas de Pucallpa, Iñapari e Puerto Maldonado (todas no Peru), e em Cobija (Bolívia). Num só tempo, essa atividade move centenas de famílias pobres e lojas especializadas. No Acre, nove lojas vendem a produção genuinamente local, informa a chefe do Departamento de Turismo e Artesanato, Ediza Pinheiro de Melo.

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Geoglifo: vestígio arqueológico representado por desenhos de grandes dimensões sobre o solo; no Acre ele foi descoberto em meados de 1970, no Peru, em 1920 /DIEGO LOURENÇO GURGEL
 


Desde 2008 ela coleciona algumas importantes reuniões b ilaterais com peruanos e bolivianos interessados em melhorar o intercâmbio comercial nesse setor.
 

Ediza destaca os roteiros direcionados pelo Programa de Regionalização do Turismo. “A Interoceânica integra definitivamente os países andinos e aquilo que foi feito a vida toda separadamente, agora é possível fazer com a somatória das forças de cada um”, analisa Ediza de Melo.
 

O Acre exporta peças de artesanato de madeira, látex (bolsas e sapatos), fibras (do buriti), sementes nativas (jarina, açaí e paxiubão). Para a diretora, novos investimentos animam empresários e autoridades. Ela destaca a nova estação rodoviária de Rio Branco (360 mil habitantes), cuja inauguração está prevista para junho próximo; a construção de um hotel da rede Holiday Inn (marca hoteleira mais conhecida do mundo, com mais de 1,5 mil estabelecimentos); a instalação da Zona de Processamento de Exportação no município de Senador Guiomard (conhecido por Quinari), a 25 quilômetros da Capital; e o centro de convenções; e o shopping do grupo Lands na Via Verde.
 

Entre outros, o grupo Lands construiu o Mossoró West Shopping (RN), Shopping Park Taquaral (SP), Shopping Plaza Macaé (RJ), Monet Plaza Shopping (RS) e Shopping Pelotas (RS).
 

 

CONHEÇA A RODOVIA TRANSOCEÂNICA
 

Dentro do Brasil a Rodovia do Pacífico começa na BR-364 em Porto Velho (RO) e no Acre continua pela BR-317, que passa por Rio Branco, rumo à Tríplice Fronteira com o Peru e a Bolívia. Ela atravessa a pequena Assis Brasil (AC) e a peruana Iñapari, Capital distrital e da Província de Tahuamanu, Departamento de Madre de Dios.
 

No Peru, a Estrada do Pacífico se divide inicialmente em duas, uma em direção a Oeste, pela PE-030, desde Nazca, passando por Cusco, até o porto de San Juan de Marcona. A outra rota, em direção ao Sul, subdividindo-se em duas na região próxima ao Lago Titicaca, seguindo depois pela PE-034 até o porto de Matarani, e pela PE-036 até o porto de Ilo.
 

A Estrada do Pacífico é o primeiro eixo multimodal Atlântico-Pacífico na América do Sul. Ela favorece a integração sul-americana, a circulação de pessoas, o turismo e o comércio bilateral entre o Brasil e o Peru. Ela garante o acesso dos produtos peruanos ao Oceano Atlântico e o acesso dos produtos brasileiros ao Oceano Pacífico.

 

777 km

é a distância entre Porto Velho e Assis Brasil (fronteira Brasil-Peru), pelas rodovias BR-364 e BR-317. 

 
1.226 km
 

é a distância de Iñapari até o porto de Ilo, no Oceano Pacífico. O trecho Iñapari- Matarani tem 1.419 km.Iñapari.

 

NOTA DO EDITOR

Estou em Rio Branco e Senador Guiomard, no Estado do Acre, rumo a Cusco e Machu Picchu (Peru), Patrimônio Mundial da Unesco. Em outra reportagem mostrarei o Programa Caminhos do Pacífico: Pousada Seringal Cachoeira, Casa dos Povos da Floresta, Cusco e Machu Picchu. E os caminhos de Rondônia, já elaborados pela Superintendência de Turismo daquele Estado: Rondon, Circuito BR-364, Vale do Guaporé e Travessia do Rio Madeira.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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