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Montezuma Cruz

Amazônia perde o mestre em agroextrativismo Frederico Afonso


 
Engenheiro agrônomo, homem de ouro da Ceplac, assessor e consultor parlamentar, foi o responsável pelo Pólo Cacaueiro da Amazônia e trouxe o cacau de volta da Bahia. 

MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia 
 

BRASÍLIA – O mestre em economia agrícola Frederico Álvares Afonso, 77 anos, pioneiro na instalação do pólo cacaueiro amazônico morreu em Brasília, no primeiro dia da primavera, vítima de câncer de intestino. Não mais resistiu à quimioterapia a que vinha sendo submetido. 

Amazonense de Humaitá, ele era irmão do ex-ministro do Trabalho (no Governo João Belchior Marques Goulart), Almino Álvares Afonso, que também foi deputado federal pelo Estado de São Paulo, e filho do ex-prefeito nomeado de Porto Velho (em 1933), Bohemundo Álvares Afonso. 

Integrante do quadro de pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), ele era graduado em Engenharia Agronômica pela Escola Nacional de Agronomia da Universidade Rural do Brasil, com mestrado em Economia Agrícola pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas da Organização dos Estados Americanos (OEA). 

Afonso, ou “Fred”, como alguns o chamavam, construiu uma biografia e tanto. Além do trabalho amazônico na agricultura, emitindo e defendendo conceitos a respeito do bom funcionamento do sistema agroflorestal, chegou à Câmara dos Deputados e ali não foi apenas assessor parlamentar. Tornou-se consultor de diversas instituições de desenvolvimento regional. Especialista em Amazônia, o engenheiro era ouvido por políticos da região, entre os quais o então 

Amazônia perde o mestre em agroextrativismo Frederico Afonso  - Gente de Opinião

O cacau é nativo da Amazônia. Foi embora para a Bahia. Afonso trouxe-o de volta, pelas mãos de Assis Canuto. É um capítulo importante na história rondoniense /CEPLAC

senador Amir Lando (PMDB-RO), com quem conversava a respeito do período da ocupação do ex-território federal e a respeito da saga do capitão Sílvio Gonçalves de Faria, que coordenou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e morreu de malária. 

Mestre e autor 

Sua primeira função foi coordenador de crédito do Departamento de Extensão da Ceplac. Em 1974, instalou o Pólo Cacaueiro na Amazônia. Trabalhou ainda na Secretaria Geral da Ceplac em Brasília, em 1982, e foi secretário-geral adjunto da Comissão, em 1986. Editou vários livros sobre a história da Ceplac e do Cacau na Amazônia. O último foi intitulado “Rondônia Ocupação Crescimento e Organização Agrária”. 

Afonso assumira no ano passado uma vaga na Academia de Letras de Rondônia, entidade que, a exemplo da Ceplac, lamentou a perda. O jornalista Roberto Gutierrez disse que, em dezembro do ano passado, quando visitou Ji-Paraná, Afonso último ano ele esteve em Ji-Paraná onde lançou o livro “Rondônia – Ocupação, crescimento e organização agrária” Foi autor de outros sete, entre os quais, “De volta às terras do Cacau”. 

O jornalista e amigo dele, Euro Tourinho, 84, diretor do jornal “Alto Madeira”, lembrou que esse livro deu origem a uma série de seis edições. “Ele foi um dos homens mais importantes na consolidação do Estado de Rondônia. Fez um gigantesco trabalho que deixou seu nome na história econômica de Rondônia”, disse Tourinho. 

Afonso exerceu funções de assessoria parlamentar e consultoria para diversas instituições de desenvolvimento regional.  Em nota, a direção da Ceplac lembra que Frederico Afonso dedicou-se com muita vontade às funções que exerceu. “Foi um profissional de altíssima competência, culminando em relevantes serviços prestados à Ceplac, ao cacau e as regiões: sul-baiana e amazônica. Ele nos deixou um legado de conhecimento e foi ao encontro do Pai, depois de cumprir sua missão em prol da Ceplac e de todas as regiões produtoras de cacau do Brasil. Um exemplo a ser seguido. Marcou de fato a história cacaueira”.

Conhecimento e amor pela terra do cacau 

Amazônia perde o mestre em agroextrativismo Frederico Afonso  - Gente de Opinião

Hoje a fruta é muito exigida no País. Além do chocolate, também virou suco. Faz tanto sucesso quanto o açaí e outras iguarias amazônicas / TEREZA CUNHA

PORTO VELHO – O último livro de Afonso é fruto do enorme conhecimento de seu autor sobre a região, onde em 1971, no Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto, o PIC Ouro Preto, hoje município de Ouro Preto do Oeste, dirigiu a Ceplac. Quem fala é o economista Sílvio Persivo, escritor, jornalista, autor do prefácio de “Rondônia Ocupação Crescimento e Organização Agrária”. 

“O livro transmite de forma testemunhal, crítica e analítica a história recente do Estado de Rondônia. É um livro, cuja semântica técnica, trata de forma simples e com clareza todo um conhecimento profissional da ocupação de Rondônia. O tema demonstra o conhecimento e amor pela terra do cacau, do ouro, do café, do boi, da floresta, enfim de todo um ordenamento e desenvolvimento agropecuário, socioeconômico, hidrográfico, viário e energético entre outros narrados pelo autor”. 

O jornalista Roberto Gutierrez lembrou em seu blog que os acertos para a instalação da Ceplac em Rondônia começaram em 21 de abril de 1971, na boate “Taba do Cacique”, uma das mais famosas casas noturnas da capital rondoniense. Lá se encontraram, às 22h, o executor do Incra, agrônomo, ex-prefeito e ex-deputado Assis Canuto

Lá estava também o capitão Sílvio de Farias. Conversaram e foram atendidos pelo garçom Ypojucã, que já havia servido a sopa. “A Taba fazia uma sopa maravilhosa”, lembra o jornalista. Canuto não havia notado que Frederico já estava ali. 

“De repente, Canuto olha para o relógio e comenta que estava ali para conversar com Frederico e ele não aparecera”. “Para surpresa, Frederico estava sentado ao lado de Canuto. Ambos não se conheciam. Naquela noite foi traçada a política do cacau para Rondônia cuja implantação foi no Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto”. Essa passagem foi contada a Gutierrez pelo próprio Assis Canuto, que na atualidade, é secretário de Obras em Ji-Paraná. 

Um fato curioso destacado por Canuto é que as primeiras sementes de cacau trazidas para Rondônia foram enviadas por Frederico Afonso, do sul da Bahia. Canuto trouxe-as como excesso de bagagem. O cacau retornava ao solo amazônico, de onde é originário. 


Um conselheiro. Só agora posso ouvi-lo.
 

BRASÍLIA – Ele não falava em outra coisa, a não ser a publicação do seu novo livro. Buscava recursos, queria ouvir os políticos de Rondônia. Conversava muito, dava aulas. Dr. Frederico havia se recuperado de um câncer de próstata no início dos anos 2000 e só recentemente descobrira que o mal que o atingira era outro.

Quando assessor parlamentar na Câmara dos Deputados, procurei-o algumas vezes e dele ouvi o conselho para fazer o exame preventivo numa clínica conceituada na capital do País. Por esses descasos que a gente comete consigo mesmo, ou por excesso de trabalho – não paro desde 1967, quando fui jornaleiro e engraxate no Pontal do Paranapanema-SP – não freqüento consultórios médicos com regularidade. Logo, estou preparado para as surpresas que o interior corporal me reserva. Infelizmente, não pude reencontrar o doutor Frederico para dizer que vou fazer o exame. Ele foi o meu maior incentivador a cuidar da saúde. Sua ausência me faz refletir. 

A primeira exportação de cacau para Hanover (Alemanha) foi feita pelo grupo Fischer e registrada por mim, na seção de Economia de “O Globo”. Foi festivamente comemorada e grande parte do êxito deveu-se a Afonso e ao dr. Paulo Alvim, outro entusiasta dessa cultura e responsável pelo fortalecimento do trabalho da Ceplac em Rondônia. 

Não foram só flores. A safra cacaueira, o ataque da “vassoura-de-bruxa” (fungo Crinipellis perniciosa) e a comercialização cacaueira enfrentaram dissabores próprios da agricultura nacional. Descapitalizados e endividados nos bancos alguns fazendeiros desistiram de plantar. 

Houve uma época, no início dos anos 1980, em que o cacau foi tão falado quanto o ouro dos aluviões do rio Madeira. O produto levou glórias e também fez correr lágrimas entre executores de projetos do Incra e prefeitos. Alguns conseguiram dinheiro, mas também houve muito cacauicultor falido, a exemplo do garimpeiro blefado. Vamos aos livros para entender o que aconteceu por aqui. (M.C.) 


Amazônia perde o mestre em agroextrativismo Frederico Afonso  - Gente de Opinião

"HOMENAGEM MORTE DE FREDERICO AFONSO É RUDE GOLPE PARA A AMAZÔNIA". 
Registro do Jornal Alto Madeira do dia 23 de setemrbo de 2009



Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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