Sábado, 9 de outubro de 2010 - 09h13
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
“Estado de clima hostil, cercado pela selva amazônica, que nos relega ao isolamento econômico e cultural” – dizia a peça publicitária. Quatro anos depois de abrir as porteiras, o governo estadual advertia que Rondônia renunciava ao sonho do povoamento acelerado, pretendendo erguer um dique ao fluxo migratório – o maior em dez anos (1976-1986).
Houve mudanças entre o governo militar e o civil. Para o governador-tampão Ângelo Angelim (PMDB) tornava-se insuportável receber famílias do sul com a dignidade merecida. Em parte estava certo, mas a seca no sul do País causaria a expulsão de muita gente em 1986, aumentando a população de Rondônia para mais de um milhão de pessoas – duas vezes e meia o total de 1980.
“Não temos mais condições de acolher tanta gente. Nenhum estado brasileiro ou país estrangeiro, mesmo os mais desenvolvidos, absorveria 20% de aumento populacional por ano” – discursava o professor Angelim.
De fato, a ocupação rondoniense não tinha precedentes na história. Até São Paulo, em seu período de maior crescimento (meados do século XX) levou 20 anos para duplicar sua população. O secretário de segurança Solon Michalski admitia a perda de controle das estatísticas no centro de triagem, ao tempo em que apontava a entrada de migrantes por “estradas clandestinas”, em lanchas, canoas e de avião, na fronteira Brasil-Bolívia.
Angelim mandou mapear a origem da “invasão”. Famílias procedentes de 50 núcleos principais de êxodo (nove no Paraná), com viagens pagas pelas prefeituras, viajando em ônibus e carretas cobertas de lona, desembarcavam em Cacoal, Pimenta Bueno e Rolim de Moura – três vértices da “terra prometida”. Iporã, noroeste paranaense, mandava de uma só vez 108 bóias-frias (trabalhadores rurais volantes) excedentes das frentes de trabalho criadas para mitigar os efeitos da seca.
Em Rolim de Moura, maior centro exportador de mogno do País (vendia para Alemanha e Inglaterra), morria a esperança de emprego dos lavradores sem terra: a economia municipal não tinha trabalho a oferecer aos seres humanos que transitavam diariamente por suas ruas lamacentas. “Primeiro foi a usina hidrelétrica de Itaipu, agora esses retirantes da seca. O jeito vai ser abrigar todo mundo na casa de amigos ou esperar o Incra”, justificava-se o primeiro prefeito do município, Valdir Raupp. Solidário, ele fez o que pôde, com o apoio de comerciantes, madeireiros e da Igreja.
Qual era o argumento usado em outros estados para convencer migrantes a se instalarem no mais jovem estado brasileiro? Os mesmos do período de Teixeirão: fartura de terras.
Quarenta mil pessoas já haviam feito inscrições para obter um lote cada. O plano de reforma agrária federal previa apenas a fixação de mil famílias naquele ano. Foi uma grande frustração.
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