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Montezuma Cruz

Ano da mandioca e do 'pão brasileiro'. Se deixarem




Embrapa faz rastreabilidade para fortalecer o mercado interno e a adequação dos produtos às exigências do mercado externo. 


MONTEZUMA CRUZ 
Agência Amazônia 


BRASÍLIA – Terminou 2009 e a ciência frustrou-se: a mandioca não entrou na matriz energética nacional e o presidente da República não experimentou o "pão brasileiro". Professores chineses participaram da transformação da mandioca brasileira em etanol, experiência já compartilhada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), no Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat). 

Lá nos confins da Amazônia, em Jordão (AC), o litro de álcool etanol custa R$ 6! Por partes, relato o que assisti pessoalmente: 

1) Documento aprovado pelo 13º Congresso Brasileiro da Mandioca, promovido no mês de julho de 2009, pelo Cerat, em Botucatu (SP), reivindicou ao governo federal a inclusão da mandioca na matriz energética nacional. O assunto repousa nas gavetas e nos computadores dos escalões ministeriais e na casa Civil. 

2) Num barracão da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), a mandiocaba (mandioca doce da Amazônia) e outras mandiocas , transformaram-se em álcool etanol. O pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, constatou que a carga de 250 quilos de massa desintegrada de mandiocaba rendeu 25 litros de etanol (C2H5OH). 

3) O cientista constatou, ainda, outros açúcares que não entram na fermentação. O álcool saiu a 96 GL (sigla de Gay Jussac e Cartier, criadores do densímetro para álcool). Castelo Branco Carvalho concluiu que o uso desse álcool serve principalmente à indústria de fármacos e cosméticos. O etanol de mandioca foi produzido numa microdestilaria da USI (Usinas Sociais Inteligentes), de fabricação gaúcha. 


Chineses de olho 

4) O bioetanol tem um custo entre R$ 0,35 e R$ 0,50 o litro. Muitos brasileiros ficaram alheios à experiência de Castelo Branco Carvalho, no entanto, três professores chineses viram tudo de pertinho e levaram a técnica brasileira para lá. São eles: Wenquan Wang, da Academia de Ciência Chinesa para Agricultura Tropical (Catas), Xin Chen, do Instituto Tropical de Biociência, e Bin Liu, PhD do Instituto de Genomas de Beijing (China) e assistente de direção daquela instituição de ensino. 

Ano da mandioca e do 'pão brasileiro'. Se deixarem - Gente de Opinião

Farinha de mandioca, biscoitos e araruta estão á venda nos mercados de Cruzeiro do Sul-AC /M.CRUZ



5) Os professores chineses estudam o seqüenciamento de genoma de suínos, de frangos e do ser humano. Em Planaltina, eles conhecem o uso da mandioca na produção de álcool. Também percorreram o banco ativo de germoplasma de mandioca da Embrapa Cerrados, que reúne uma coleção com quinhentas variedades de diferentes procedências, entre as quais, a mandiocaba. 

Um milhão de empregos 

6) No Congresso Brasileiro da Mandioca, o pesquisador da Embrapa Mandiocultura e Fruticultura Tropical, Marco Antonio Sedrez Rangel, desabafou: “Essa cultura ainda agüenta muito desaforo”. Durante a apresentação do Programa Produção Integrada de Mandioca, disse que o processamento de farinha e fécula proporciona 1 milhão de empregos diretos no País; receita bruta equivalente a US$ 2,5 bilhões; e uma contribuição tributária de US$ 150 milhões. Esse sistema visa produzir alimentos seguros e outros produtos agrícolas de qualidade pela utilização de tecnologias adequadas. Para Rangel, o processo é “contínuo e participativo”. 

7) “O modelo participativo requer a integração e a complementaridade de competências nas ações dentro da cadeia produtiva, e com isso, conquistar a sustentabilidade”, explicou. “Com rastreabilidade, fortalecemos o mercado interno da mandioca e a adequação dos produtos às exigências do mercado externo”, acrescentou. 

8) Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina são os estados onde começaram os levantamentos de produção, capacitação de profissionais, avaliação de impactos ambientais das lavouras e estudos de mercado. Conforme Rangel, essas prioridades são levantadas por comissões técnicas de produção integrada de mandioca em localidades-pólo. 

Aos interessados, eis o rendimento do etanol por cultura: 

▪5 a 7 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela cana-de-açúcar. 

▪ 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela batata-doce. 

▪ 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela mandioca. 

▪ 3,5 a 4,5 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido por sorgo sacarino. 

Segunda cultura alagoana 

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O pesquisador Castelo Branco Carvalho (e) e a engenheira química Sílvia Belém (d) durante a experiência de fabricação do etanol de mandioca /M.CRUZ

A conversa de Rangel em Botucatu bate bem com o que disse o coordenador do Arranjo Produtivo Local (APL) da Mandioca no Agreste, Nelson Vieira. No apagar das luzes de 2009, ele informou que, para os próximos anos vai promover ações para a diversificação de produtos derivados da raiz, buscando agregar mais valor à cultura, que já é a segunda mais importante em Alagoas. 

Somente na região Agreste existem 26 mil famílias de agricultores familiares. “O negócio é a gente somar esforços e ocupar espaços como o fornecimento de 30% da merenda escolar pelos agricultores, conforme já determinado por lei”, assinalou Vieira.
Pão brasileiro 

Todos sabem que Lula é amigo de Lawrence Pih, “rei do trigo” no País. Isso não elimina reconhecer que o presidente conhece mandioca desde menino, em Caetés (PE). Pesquisadores, líderes industriais e produtores de todo o País aguardaram ansiosos pela oportunidade, mas ela não veio em 2009. Lula não provou o pão com fécula diante das câmeras de TV.

Houve um obstáculo no percurso desse projeto, que é uma conquista dos pequenos produtores de mandioca deste País. No ano passado, por recomendação do Ministério da Fazenda, Lula vetou a adição de fécula à farinha de trigo usada na panificação, cuja lei fora aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Novamente, a matéria foi retomada na Câmara, cujos meses de trabalho em ano eleitoral contam-se nos dedos.

O pão brasileiro esteve em mesas especiais, uma delas, promovida em 2009 pela Federação das Indústrias do Estado do Pará. E o pesquisador da Embrapa Mandioca, Joselito da Silva Motta, não se cansa de alardear a sua pré-campanha para transformação o “Mandioquinha” no símbolo da Copa de 2014. Até lá, algumas voltas o mundo dará e, quem sabe, o sonho não se realiza. 


 Fonte: Montezuma Cruz - A Agência Amazônia  é parceira do Gentedeopinião    

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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