Sábado, 25 de junho de 2011 - 09h26
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Um campo livre, mas com poucos atores. Assim era o teatro nos anos 1980. O grupo Porantim contava com cinco atores, o Cipó com outros cinco que restaram de um total de dez, e o Quebra-cabeças com quatro. Alejandro Bedotti, diretor do grupo Cipó, era também ator.
Entre 1980 e 1982 esses grupos não tinham recursos e seus responsáveis sonhavam com uma escola que formasse novos atores. Não bastava contratar teatrólogos nas secretarias de educação e cultura e no Serviço Social do Comércio (Sesc). Mais urgente era a necessidade de aumentar o tamanho dos grupos.
O Porantim apresentava-se aos sábados e domingos, com ingressos a 100 cruzeiros. Ia às escolas e jardins de infância, levando peças populares, entre as quais “O médico”, de Molière, adaptada para o teatro de bonecos. “O sítio de Cairá”, mostrando a exploração capitalista na América Latina seria montada na época pelo esforço de Jango Rodrigues. No palco, o choque entre indígenas, posseiros e invasores, tudo a partir de uma pesquisa de Rodrigues.
Outras peças que marcaram o começo: “Dr. Tijolo e a turma sem miolo”, do Quebra-cabeças, mostrando o diálogo de bichos, atentados ecológicos e outros aspectos da Amazônia então invadida pelo capital estrangeiro; “Falou bicho”, miscelânea de contos adaptados de Monteiro Lobato; e a “A União misteriosa”, trabalho de Sílvia Regina com jovens atores.
Outros integrantes dos grupos pioneiros da capital: Ângela Cavalcanti, Maria da Graça do Nascimento, Francisco Barroso, Julio Iriarte, Sílvia Regina, Beto Cardoso, Chico Cireba, Wilson e William Barbosa. O sociólogo Antonio Barbosa atuava como relações públicas e assessor direto do pessoal que também se apresentava no Sesc.
Bedotti, naquela ocasião um argentino mais amazônico que muitos beiradeiros, insistia na popularização da arte cênica; buscava técnicas e condições de trabalho, roupagem e conteúdo. “O teatro tem de ir ao encontro do povo, e o povo deve se interessar mais pelos espetáculos; isso é importantíssimo no momento em que vamos ser um estado”, ele dizia.
Foi então que o 1º Encontro Estadual de Teatro tomou decisões inadiáveis para suas bases, a partir do encontro de novas idéias e formas de relações internas. Na ocasião uniam-se os grupos Cipó, Porantim e Quebra-cabeças, de Porto Velho; Arco-Íris, Arikême e Juá, de Ariquemes; Nova Estrela e Rui Barbosa, de Pimenta Bueno; Ouro Preto, de Ouro Preto; Ji-Paraná, de Ji-Paraná; Guajará, de Guajará-Mirim; e Colorado, de Colorado do Oeste.
O comércio colaborava: Casa das Frutas, Cerealista Araguaia, Sarks Empreendimentos Reunidos e Casa de Carnes Bandeirantes. Uma comissão cuidou da organização do primeiro estatuto de acordo com as normas da Confederação Nacional de Teatro. Era formada, entre outros, pelos artistas Miguel dos Anjos Brito (Ariquemes), Vicente de Paula Salvador (Ji-Paraná), Ademar Simplício Mota (Pimenta Bueno) e Alejandro Bedotti (Porto Velho).
“É preciso criar um sentimento amazônico, mostrando em pinceladas o que nela ocorre atualmente”, proclamava Bedotti.
Nem tudo foram flores nessa caminhada. Enquanto grupos teatrais paulistas se reuniam em 1977 no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, aplaudindo em pé o deputado Ulysses Guimarães, que ali fora prestigiar o evento, aqui na floresta rondoniense dava-se o inverso. Ao protestar contra o desmatamento na Amazônia em ato na Biblioteca Municipal Francisco Meireles, no Dia das Comunicações (5 de Maio), um grupo de atores e simpatizantes teve que “engolir” militares bravos na platéia.
Tão acuados ficaram os atores que cancelaram a apresentação em praça pública, que viria logo em seguida, juntando-se ao tema do desmatamento os conhecidos saques do capital estrangeiro na região.
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