MONTEZUMA CRUZ
Os galhos da única árvore da Avenida Calama desenvolviam-se, quando foram grosseira e inexplicavelmente arrancados. Na primeira semana de junho, sob o Sol do verão amazônico, torcedores dos arredores do bairro Quatro de Janeiro pintaram o fino tronco de verde-amarelo.
“Rumo ao hexa”, eles combinaram as listas com as bandeirinhas esticadas de um lado a outro da rua.
Nesta segunda-feira de cinzas do futebol, lá estava a coitada da árvore, debilitada, porém, dando sinais de recuperação.
Três galhinhos se enchem novamente de folhas. Vamos torcer para que a seiva circule nos meses secos de julho e agosto, e ela possa sobreviver.
Fogos na Avenida Calama, bares cheios, TV no último volume. A Copa do Mundo começaria empolgante, cheia de surpresas, nela desfilando craques pagos a peso de ouro e os quase ocultos árbitros de vídeo, em seus 15 minutos de glória.
Quem sabe, a falastrice do célebre locutor baba-ovo tenha sido a última, pois ninguém mais suporta seus excessivos arroubos.
Estáticos, insensíveis até então, alguns comerciantes do bairro Quatro de Janeiro têm agora a oportunidade de se redimir e regar a árvore agredida, provando para si próprios que sua ligação com a natureza nada tem a ver com o balcão e o tilintar do caixa.
Nesse mesmo trecho da avenida já se desperdiçou muita água na lavagem de automóveis, agora eles poderão se revezar a cada dia, zelando por ela.
Porto Velho um dia teve algumas avenidas arborizadas. Hoje, se curva diante da crueldade e da estupidez humana que tantas vítimas tem feito também na floresta que nos rodeia.
Senhoras e senhores, jovens autores da tosca pintura, despintem. Espantem a vergonha.
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Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)