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Montezuma Cruz

Avança o estudo sobre geoglifos na Zona da Mata


Avança o estudo sobre geoglifos na Zona da Mata - Gente de Opinião

  

 

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Ademir Carraro chegou do Paraná em 1979. Dez anos depois, ao trabalhar nas cabeceiras de estradas, encontrou pedras e até cobre, numa valeta.  Cuscuzeira iguais a esta são encontradas com regularidade na região: há séculos foram usadas para cozinhar milho

 
 

MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

 

SANTA LUZIA DO OESTE, Rondônia – Rica em pedras, minérios e geoglifos, a Zona da Mata Rondoniense já não é mais desconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A presença de pesquisadores vindos de Brasília atende ao pedido do farmacêutico e bioquímico Joaquim Cunha da Silva, cujo estudo (leia matéria da primeira série Rondônia Inca) de coordenadas, localização e georreferenciamento foi colocado no programa Google Earth.

“Não há dúvida, isso é milenar”, afirmou o geólogo Amilcar Adamy ao examinar admirado, peça por peça. Em Alto Alegre dos Parecis e Santa Luzia, a mais de 500 quilômetros de Porto Velho, a equipe encontrou peças de quartzo, argila em profusão e algumas cuscuzeiras usadas há pelo menos dois mil anos. Em algumas áreas existem amostras de cobre.

Anteriormente, Cunha encontrara uma calculadora de pedra, correspondente naqueles primórdios às máquinas de somar nos escritórios de contabilidade e lojas nos anos 1950, 60 e 70. Ele brinca: “Se precisarem de provas materiais, além das que já existem, vamos continuar procurando oficinas de cobre do tempo inca; se pesquisarem, um dia ela será encontrada, com certeza”.

Trabalhando desde 1972 em Rondônia, desde a época da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), Adamy participa desse reconhecimento. “O que me preocupa é o vandalismo a cada curva dessas estradas”, disse. Com o que concordou o pesquisador do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan, Francisco Pugliese.

Mulheres Ajuru, Sakariabiá e Tupari apontaram-lhes Alta Floresta do Oeste como destino das peças arrancadas sem técnica, voluntária ou involuntariamente – no caso da abertura de pastagens e roçados.

Não houve conclusões definitivas a respeito das Pirâmides do Condor e da Via Láctea, no município de Alta Floresta do Oeste; dos morros, das hoakas (supostamente oráculos) e dos objetos de imensurável valor histórico existentes nesta região. 

A equipe sobrevoou a região e até agora definiu apenas um geoglifo, num dos trechos da rodovia BR-429.

 

Avança o estudo sobre geoglifos na Zona da Mata - Gente de Opinião
A equipe de visitantes embarcou neste helicóptero do Ibama para desvendar vestígios de uma rica história arqueológica e de civilizações antigas na Zona da Mata

 

 

 

“Cuide bem disso, viu?”


ALTO ALEGRE DOS PARECIS – A equipe chega ao Jardim América, exatamente no quintal do paranaense Ademir Carraro, 44 anos, oito filhos, vindo de Foz do Iguaçu, na fronteira brasileira com o Paraguai e Argentina. Ele saiu de lá em 1979, estabelecendo-se no sítio aberto no Km 42 da Linha P42. Sítio agrícola e, com muitas evidências, sítio arqueológico também, ele já sabe.

“Eu comecei a gradear as estradas na cabeceira e dei de cara com muitas pedras e cerâmicas”, conta Carraro, reportando-se a 2009. Vieram à flor da terra algumas preciosidades, entre as quais um pote inteiro com ossos queimados. “O que seria isso?”, perguntou-se. Ninguém lhe deu resposta convincente, ainda. “É coisa dos índios”, arrisca, sem muito pestanejar.

Deixando a intriga de lado, Carraro seguiu a vida de agricultor, plantando milho, mandioca, arroz e árvores frutíferas. Até que descobriu uma vala na Linha 36. “Um buracão que é só cobre”, frisou, observado atentamente por Pugliese e seus colegas do Instituto Gliphos.

Carraro é uma das dezenas de pessoas decididas a guardar em casa exemplares desses fragmentos que evidenciam claramente a existência de outras populações, cuja história carece de investigações.

Na janela da casa de madeira, Alexandra Ribas Carraro, filha dele, segura o neto Gabriel, de sete meses. A movimentação no quintal terminou, depois de conversas e análise dos objetos depositados num dos quartos da casa.

“Cuide bem disso, viu?”, recomendou Pugliese, ao se despedir do jovem Alex, 15 anos, filho do agricultor. É ele quem recolhe tudo numa caixa de madeira, ganhando palavras de incentivo também dos demais integrantes da equipe. (M.C.)

 

 

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 Pugliese (Iphan) devolve pedras e fragmentos de cerâmica a Alex, incentivando-o a continuar cuidando bem do material /MONTEZUMA CRUZ


 

 

Iphan espera mais evidências

SANTA LUZIA – O Iphan recolheu o resumo dos estudos feitos por Joaquim Cunha, fundamentado principalmente na cosmologia inca, mas ainda tem dúvidas a serem esclarecidas nas próximas pesquisas. Pugliese prometeu retornar à região em 2011 para um trabalho de campo.

Prossegue assim a expectativa a respeito da constatação de que a Zona da Mata e o Vale do Guaporé abrigavam civilizações expulsas do Peru pelos espanhóis há mais de um milênio e que aqui teriam erguido o imaginário Reino Gran-Moxo, ou o Paititi.

É uma missão longa e exaustiva, reconhece Pugliese. Segundo ele, o Centro Nacional de Arqueologia trabalha atualmente com 18 mil registros de descobertas em todo o País. Logo, o possível tombamento do sítio arqueológico demandará mais estudos, conforme já adiantara a Amazônias a diretora de arqueologia do Iphan, Clara Migliácio.

“À primeira vista, morros de arenito são comuns. A forma lembra os paliocanais”, comentou Pugliese. Do alto, ele percebeu muitos sedimentos, vegetação e o embasamento arenítico. O pesquisador espera encontrar artefatos “que evidenciem mesmo construções do homem”.

O Iphan ainda não se ateve ao aspecto das escadarias de pedra, cuja perfeição leva a crer terem sido feitas por mãos humanas. A visita inicial à Pirâmide do Condor, por exemplo, foi feita num sobrevôo com o helicóptero do Ibama. Anteriormente, acompanhado por um grupo de proprietários rurais, Cunha percorrera toda área a pé, fotografando essas escadas, que se assemelham às de Cuzco e Machu-Picchu, no Peru.(M.C.)
 

 
 

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Gabriel, com a mãe Alexandra, na janela da casa onde a família guarda pedras, cerâmicas e outros objetos recolhidos nas vizinhanças



 

Veja o vídeo do sobrevôo feito em agosto de 2010, período de estiagem na região.

1º vídeo


2º vídeo

 

 

 

QUEM VISITOU AS ÁREAS
 

Viajaram durante quatro dias por terra e ar, na Zona da Mata e no Vale do Guaporé:

■ 
Alexandre Senra, Procurador da República em Ji-Paraná

Amilcar Adamy, do Serviço Geológico do Brasil

Anderson Peixoto, analista ambiental do Ibama

Carlos Gerrard, analista ambiental do Ibama

Evandro Santiago, indigenista que trabalhou na região nos anos 1980

Francisco Pugliese, do Centro Nacional de Arqueologia, do Iphan

Ivan Bispo, do Serviço Geológico do Brasil

JoaquimCunha da Silva, autor do pedido de decretação de sítio arqueológico

José Roberto Pellini, do Instituto Gliphos de Goiânia

Marco Antonio Telles, arqueólogo do Instituto Gliphos, de Goiânia

Maria Leonice, indígena do Povo Tupari

 

Montezuma Cruz, jornalista do site Gente de Opinião/Amazônias

Rosa, indígena do Povo Sakariabiá

Walda, cacique do Povo Ajuru

 


 

Avança o estudo sobre geoglifos na Zona da Mata - Gente de Opinião
Hoaka: pedras bem próximas, supostamente um oráculo construído por mãos humanas numa época em que a Amazônia Boliviana e esta região emendavam-se

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