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Montezuma Cruz

Barco hospital inicia atendimento médico a indígenas e a outras comunidades no Rio Mamoré


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Médica Ana Letícia atende índia macurap. Saúde e Casa Militar do Governo de Rondônia
põem unidade fluvial social de saúde a serviço de ribeirinhos /Fotos Alex Leite

Montezuma Cruz (*)
Em Deolinda, Rio Mamoré

Para chegar à Comunidade Indígena Deolinda na fronteira brasileira com a Bolívia, a 6h de viagem de Guajará-Mirim, o visitante sobe uma escadaria de madeira com 32 degraus inteiros, quatro quebrados e cinco vãos.

Amarrada por um cabo de aço ao barranco do rio Mamoré, numa altura de aproximadamente 30 metros, a Unidade de Saúde Social Fluvial Walter Bártolo atendeu a diversas famílias indígenas Wajuru, Canoé, Jabuti, Macurap, Oro Nao, Oro Waran e Tupari, na quarta (17) e quinta-feira (18).

A unidade é também conhecida como barco hospital da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e da Casa Militar do governo de Rondônia. Viajando a 40 quilômetros/h, desde o porto de Guajará, o barco  ancorou às 23h de terça-feira (16) e abriu seus consultórios às 8h do dia seguinte.

Encerrado o atendimento no início da tarde desta quinta-feira, rumou para Barranquila, segundo ponto do primeiro trecho da viagem inaugural. Agora, outras comunidades serão atendidas.

 “O barco é de vocês. Vamos ficar dois dias aqui, e no mês que vem ele está de volta”, avisou o comandante Johnny Mendes.

Em tempo de seca, marimbondos de fogo fazem voos rasantes perto de cajueiros e mangueiras. Vacas leiteiras e de corte pastam livremente ao redor das casas. Nos quintais, a macaxeira reina ao lado de bananeiras, pés de limão e milho.

O primeiro a entrar no consultório do odontólogo Paulo de Tarso Nery foi o menino Cauã Roberto Oro Nao Vilaforte, 11, que teve um dente obturado. Paulista, de Campinas, o tenente-coronel lotado na Casa Militar, Nery, veio para Rondônia em 1993, e um ano depois coordenou a Ação Cívico Social (Aciso), repetindo-a mais quatro vezes.

Até a manhã de quinta-feira, o odontólogo fez 18 procedimentos. Para ele, em 20 anos a situação melhorou. “Antes, a maioria das benesses se destinava à BR-364, enquanto a sofrida população ribeirinha estava sempre distante dos recursos”, disse.

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Sofrimento

Nery lembrou que no tempo da Enaro [Empresa de Navegação de Rondônia] a extração dentária era feita em condições precárias na cadeira comum, enquanto hoje a restauração tem qualidade. Os equipamentos são confortáveis e os medicamentos bem aceitos por crianças e adultos.

Amparada pelo 2º sargento da Marinha, Magdiel Santos da Silva, a índia Oruao Caraxu Oro Não, 79, desceu a escadaria rumo ao barco, e na primeira consulta com a clínica-geral Ana Letícia Maiorquin, teve constatada dor cervical. “Ela vinha muito ligeirinho, por isso resolvi segurar os braços dela”, explicou Magdiel Silva.

Em seguida, Ana Letícia atendeu a Fernando Oro Nao, 60, vítima de hérnia inguinal no lado direito. A terceira a entrar no consultório foi Geraldina Oro Nao, com vaginose bacteriana.

Vinda de São José dos Quatro Marcos (MT), Ana Letícia  participou em 2013 de experiência em operações de saúde na região do Médio Madeira e no Serviço de Atendimento Médico Domiciliar (Samd), em Porto Velho, onde cuidou de pacientes, inclusive de baleados.

A enfermeira indígena, Alcilene Oro Waran, buscou teste rápido de HIV para mulheres da aldeia. Nascida na Aldeia Tanajura, mãe de Eyshila, 6, já trabalhou na equipe terrestre de Nova Mamoré e há quatro anos atua em Deolinda. Já substituiu a enfermeira da Comunidade de Sotério e participou de campanhas de vacinação, entre elas, contra gripe influenza.

“No ano passado tivemos casos de sarampo e catapora. Usamos o paracetamol com chá de goiaba e orientamos as mães para o banho morno”, contou.
 

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Lembrando o pior

Segundo a gestora financeira do barco, Alessandra Maria Costa Conceição, o pior na região foi um surto de hepatite que quase dizimou a população da aldeia.

O barco hospital possibilitou o congraçamento de colegas profissionais e até parentes. A médica Anne Camille Campos, por exemplo, prima de Ana Letícia, veio de Cáceres (MT) para trabalhar em São Francisco do Guaporé. No barco, ela reencontrou Ana.

Às 7h30, a gestora Alessandra Conceição desceu do barco para visitar a comunidade. Passou em frente à Escola de Ensino Fundamental Pedro Azzi, ao pequeno templo da Igreja Assembleia de Deus, encontrando-se com o cacique Bernardo Oro Nao, 33 anos.

Duas salas ainda calorentas, ocupadas por cerca de 80 alunos, constituem a escola. O professor Erivaldo Souza Santos, formado em letras em Guajará-Mirim, elogiou a unidade social fluvial. “Ela é primordial para a região, porque a maioria das pessoas daqui não tem condições para pagar consultas médicas, nem tratamento dentário; a vinda regular desse barco vem tirar a população das dores, e evitar que ela entre em filas”, afirmou.

Muitas crianças nascendo aqui? – lhe perguntamos. “Agora parou um pouco”, ele responde rindo. Bernardo é pai de dois filhos de 7 e 10 anos.

Ele disse já ter comunicado às famílias a respeito da operação. Em seguida, o cacique recebeu em sua casa o funcionário Pedro Braz e a major e assistente social, Eliane Gomes, ambos da Secretaria Estadual da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas), que anotam demandas de serviços.

Nascida em Laranjeiras (RJ), Lana Assis de Astrê, responsável pela recepção dos ribeirinhos, chegou a Rondônia em 1975 depois de 12h de viagem desde Jequié (BA), onde o pai trabalhava numa unidade da Petrobras. Ela morou ainda em Guadalupe (PI), Mangaratiba (RJ) e Ariquemes.

Todos passaram pela pequena mesa de Lana Assis para identificação. Em seguida, a técnica de enfermagem Celli Gadelha de Alencar os encaminhava aos consultórios, salas de curativo, farmácia, laboratórios e nebulização.

Eliane Macurap, 25, chegou com os quatro filhos, Milena, ainda de colo, e sorri feliz: “Fiz os exames hoje e pego os resultados amanhã cedo”, elogiou.

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Vacinas

O barco segue viagem com um carregamento de vacinas contra hepatites A e B, DPTA, HPV, febre amarela, meningite, pneumonia, pentavalente, polionativada, rotavírus, tétano, tríplice viral e tetraviral, informou o técnico em enfermagem Aluízio Carneiro.

“Aplicamos algumas”, disse. “O cacique Bernardo recebeu a vacina antitétano. Domingo passado ele usou uma tábua com prego para desatolar um garrote e furou o pé, que infeccionou”, explicou.

A farmacêutica Kauany Vasconcelos também leva um estoque de medicamentos injetáveis [buscopan, dipirona, ranitigina, entre outros]. E também outros grupos farmaecológicos: antibacterianos, antifúngicos, anti-hipertensivos antiparasitários e gastrointestinais, para serem receitados conforme o perfil epidemiológico, a oferta e a demanda de serviços.

Às 14h de quinta-feira, depois de servir o almoço – arroz, feijão, salada, bife acebolado e peixe frito – a cozinheira Elenilce Pedroso Quintão, conhecida como Morena, preparou o lanche da tarde para 36 pessoas. Experiente desde os seus 8 anos de trabalho no barco do INSS, ela chefia uma equipe de três pessoas responsáveis pela alimentação durante as visitas.

POR ONDE PASSA

Primeiro trecho
Deolinda, Barranquilha, Baía das Onças, Forte Príncipe da Beira, Ricardo Franco e Sotério.

Segundo trecho
Cabixi, Costa Marques, Fazenda Pau d’Óleo, Forte Príncipe da Beira, Santa Fé, Laranjeiras, Pedras Negras, Pimenteiras do Oeste, Porto Rolim e Santo Antônio.

O barco fará este percurso de 15 em 15 dias, a partir de setembro.

(*) Originalmente publicada no Portal do Governo de Rondônia.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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