MONTEZUMA CRUZ e CHICO ARAÚJO
Agência Amazônia
BRASÍLIA – Bispos diocesanos brasileiros e bolivianos vão mexer com a maior chaga social da América Latina: o narcotráfico, atividade que movimenta US$ 300 bilhões anuais e é atualmente uma das três atividades ilegais mais lucrativas do mundo, conforme o Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UnoDC). Reunidos durante dois dias da semana passada em Guajará-Mirim (RO),
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Dom Geraldo Lyrio: Brasil e Bolívia têm problemas comuns /ELZA FIÚZA-ABr |
a 362 quilômetros de Porto Velho, representantes dos departamentos (estados) de Beni e Pando e dos estados do Acre e de Rondônia decidiram promover um encontro de sacerdotes de fronteiras e um seminário sobre a Amazônia, ainda sem data definida.
Depois de dois dias de reunião em Guajará-Mirim, mobilizando prelados dos dois países, eles elegeram o narcotráfico e os direitos humanos entre os mais graves problemas enfrentados pela Igreja Católica na fronteira amazônica. Os bispos irão consultar as Conferências Episcopais dos países próximos a respeito da possibilidade de se fazer uma campanha sobre o tema narcotráfico.
Na atividades previstas para 2008, a Igreja Católica obedecerá a uma seqüência de discussões internas e com órgãos governamentais de segurança e de justiça, informou o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio, que participou do encontro.
Brasil-Bolívia, a mesma dor
No documento final, os bispos afirmam que "não há fronteiras, nem limites na Igreja". Eles assinalam que existe "uma só e grande família de filhos de Deus para construir um mundo mais solidário e justo, fazendo da diversidade e da diferença um motivo de enriquecimento mútuo". "Sendo Brasil e Bolívia países vizinhos, além de partilhar riquezas humanas e culturais, vivem também problemas comuns, que devem ser denunciados com clareza", afirmam.
Para os bispos, a "chaga do narcotráfico" é cada vez mais preocupante. "Ela destrói os jovens e as famílias e gera violência nos nossos países e nas nossas cidades". Eles manifestaram também sua preocupação com "a intensa e constante emigração das pessoas em busca de melhores condições e oportunidades de vida, bem como a sua situação de clandestinidade que as marginaliza".
Já o tráfico de pessoas ocupa grande parte dos relatos de rotina dos bispados. Muitas vezes ele se associa e extrapola os limites fronteiriços, com espaço para a – ultimamente combatida – exploração sexual e comercial de crianças e adolescentes. Segundo Dom Geraldo Lyrio, a reunião contribuiu para aprofundar os laços de comunhão e fraternidade entre as dioceses de fronteira. "Também foi uma forma dos dois países ajudarem-se mutuamente, por meio da análise de seus problemas comuns", assinalou.
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Camuflagem de droga em conduíte descoberta pela PF /VALTER CAMPANATO-ABr |
América Latina produz
100% da coca do mundo
BRASÍLIA – O narcotráfico é a forma mais hedionda do crime internacional organizado, afirma o delegado da Polícia Federal Mauro Spósito, atualmente responsável pelas investigações sobre o contrabando de diamantes da Terra Indígena do Roosevelt, no município de Espigão do Oeste,em Rondônia.
"Para falar do narcotráfico é preciso entender a realidade da América Latina,que hoje é responsável pela produção de 100% de toda cocaína consumida no mundo e 15% da heroína no mercado internacional", diz o delegado.
Segundo Spósito, mesmo sendo a Amazônia cercada pelos maiores produtores de cocaína do mundo – Colômbia, Peru e Bolívia –, a incidência de consumo ainda é pequena quando comparada com outras regiões do mundo. "O que nos aflige é a questão da influência dos países produtores de cocaína. Outro agravante é que muitas vezes a exploração mineral está ligada ao narcotráfico.
Os garimpos, as empresas mineradoras, a invasão das divisas e a lavagem do dinheiro podem muitas vezes mascarar essa atividade clandestina", assinala. A Amazônia ainda não enfrenta problemas de terrorismo, lembra Spósito. "No entanto, estamos cercados por países que sofrem de problemas dessa natureza, particularmente a aliança de movimentos guerrilheiros com o narcotráfico e a exploração clandestina dos garimpos", alerta. Para o delegado, em decorrência da proximidade e das facilidades proporcionadas pelo narcotráfico, o Brasil precisa ter mais cuidado com essa questão.
Saiba mais
• A cocaína passa por fases de produção. Um hectare produz mil quilos de folhas por colheita, com quatro a seis safras por ano.
• Um ha pode produzir de três a seis toneladas (t) de folhas, numa média anual de 4,5 toneladas.
• Em 2003 foram plantados 216 mil ha de folhas de coca, o que equivalente a 216 mil campos de futebol.
• Os 216 mil ha rendem 7,6 toneladas de folha que podem ser transformados em 3,8 mil t de pasta à base de cocaína.
• Cada 120 Kg de folhas se transforma em um quilo de pasta de cocaína. Ou seja, em 1 ha pode se produzir 36 Kg de pasta.
• De cada 2 Kg de pasta de coca se obtém 18 Kg de pasta à base de cocaína. A pasta à base de cocaína é posteriormente transformada em cloridrato de cocaína, o sal da cocaína.
• O cloridrato é a substância da droga de maior excelência. Não é como a pasta à base de cocaína usada na região norte na forma de cigarro ou de aspiração.
• A pasta não oferece condição de ser aspirada e produzir os efeitos rapidamente. Ela precisa ser queimada para ingressar no pulmão, e por meio da capilarização pulmonar, produzir seus efeitos.
(Dados do delegado Mauro Spósito)
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião
Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)