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Montezuma Cruz

Blá-blá-blá não vence o narcotráfico




MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias


Em 2008 visitei a Delegacia do Departamento de Polícia Federal em Guajará-Mirim e percebi algum entusiasmo no delegado Pedro Maia, ao dar a notícia de que receberia uma lancha-voadeira, armamentos e alguns equipamentos. Brasília só não lhe autorizou o essencial: mais homens. Nem para ele, nem o suficiente para atender aos mais de 15 mil quilômetros da fronteira brasileira com países vizinhos.

Ou seja: a burocracia estatal pressupõe muito mais agentes em Brasília do que nas escancaradas zonas fronteiriças, nas quais o narcotráfico deita e rola com suas destilarias de cocaína, empresas de papel, “laranjas”, enfim, um monumental disfarce.

Lembro-me da Eccentric, em 1983, a maior operação antidrogas em Rondônia, na qual o DPF apreendeu dezenas de aviões, tambores de éter, acetona, papel higiênico e muita cocaína. Houve prisões fantásticas por aqui.

O combate aos cartéis colombianos e bolivianos exige políticas públicas internacionais, vontade política e pulso de aço. Contra eles, cujos tentáculos há tempos foram estendidos pela Bolívia, Peru e Brasil, não se admitem frouxos, nem políticos medíocres, daqueles que propugnam o social, mas varrem para debaixo de tapetes dourados tragédias causadas pelo flagelo da droga.

Esse pulso de aço certamente iria chacoalhar famílias inteiras que, por conveniência, se mantêm omissas nas fronteiras. Ou seja, vendo a banda passar e fechando a janela. Tal qual o governo com seu tapete dourado.

Qualquer comentário a respeito da avalanche das drogas na vizinha Bolívia e o seu transporte para fazendas em diversos estados sítios brasileiros têm a ver com a sucessão presidencial? Os beicinhos do momento fazem supor que sim.

Lastimável ver tanta cultura e juízo de pulgas dilacerados em raciocínios assim: “Não, o Brasil não é conivente com a importação de droga”. Quantia miopia!.

 

Blá-blá-blá não vence o narcotráfico - Gente de Opinião
General Luiz Garcia Meza Tejada (à frente): tortura e envolvimento com o narcotráfico / VE.KALIPEDIA


Ditadura e narcotráfico

Há 30 anos denunciamos o avanço das drogas sobre o Acre e Rondônia, penetrando por florestas, rios e pelo ar, no Beni e no Pando. Naquela época, Evo Morales ainda era um Aymará de verdade e talvez se importasse com a juventude vítima viciada na América Latina e no mundo. Talvez.

Em 1980, a ditadura do general Garcia Meza torturou e assassinou quinhentas pessoas, entre as quais, deputados, religiosos e líderes políticos. Colocou na prisão outras 4 mil.

O narcotráfico infestava o País, como ainda infesta. Eu e o jornalista Carlos Alberto Luppi conseguimos furar o cerco da censura, que era mantida a mão de ferro pelos “gorilas” de Meza.

Conseguimos fontes seguras de informações, notadamente militantes oposicionistas ao regime boliviano. Elas estavam refugiadas no Acre. Conversávamos por telex, todas as noites, entre Porto Velho e Rio Branco. Nominamos quem torturava e matava e também quem morria. Folha de S. Paulo (Luppi), JB (Jorcêne Martínez) e O Guaporé (eu e Paulo Queiroz) assinamos reportagens preciosas. Modéstia à parte demos um banho na imprensa mundial.

Mostramos as relações entre a ditadura de Garcia Meza, o narcotráfico e a tortura e morte de militantes esquerdistas. Agimos "politicamente corretos", ou não, senhores patrulheiros diuturnos da cobrança de coerência em posturas e atitudes?
 

O narcotráfico é um pesadelo antigo na Bolívia. Não será xingando Zé Serra, ou aplaudindo Dilma e Marina que a solução virá dos céus. Poupem os tatus, que não suportam tanto. Tampouco fechando os olhos para a invasão cada vez mais avassaladora dos cartéis colombianos sobre a Amazônia. De braços dados com brasileiros, bolivianos e peruanos, ora, pois!

Cocaína em pauta e a saúde da juventude

“O PSDB introduziu na campanha o tema da cocaína vinda da Bolívia. Rapidamente o assunto caiu na gaveta da retórica. Discute-se a forma, se é a mais adequada para tratar um ponto delicado na relação com o país vizinho. O governo reagiu como se o assunto estivesse restrito aos limites da diplomacia” — escreve Alon Feuerweker no Correio Braziliense deste domingo.

Fala, Alon: “Ora, não estamos tratando de gás natural, agenda que aliás Lula conduziu muito bem, preservando ao mesmo tempo o abastecimento e as relações com os bolivianos. Está em jogo a saúde dos nossos filhos e netos, o futuro dos nossos jovens, especialmente os mais pobres — as grandes vítimas do crack”.

“A poucos meses da eleição, o governo percebeu que precisamos lutar contra o crack. Por isso é que é bom ter eleição quase toda hora. Perto dela os governantes lembram rapidinho do que antes cuidaram de esquecer.

“O Brasil precisa de uma política eficaz para diminuir radicalmente o consumo de cocaína, entre outras drogas. É urgente aumentar a pressão sobre o país de Evo Morales, mas não basta. Apertar o mercado consumidor é essencial para maximizar a eficácia da repressão ao narcotráfico.

“Reduzir a demanda e aumentar (muito) o risco do negócio são as duas pernas do bom combate ao mal”.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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