Quarta-feira, 16 de junho de 2010 - 20h34
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
Nossa primeira safra cacaueira teve como destino Hamburgo (então Alemanha Ocidental). Foram apenas quinhentas sacas, cerca de 30 toneladas de um produto com alta qualidade, conforme atestavam na época os homens da Comissão Executiva do Plano da Lavoura (Ceplac).
Quase 32 anos atrás, o grupo Fischer festejou essa conquista. O agrônomo Assis Canuto acreditava no êxito dessa lavoura, apesar dos percalços sofridos por conta da disseminação do fungo da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa). “Essa exportação demonstra a viabilidade de transformar o futuro Estado de Rondônia num importante pólo exportador, via Porto Velho”, ele previa. Depois, elegeu-se deputado federal.
O grupo Fischer havia conseguido financiamento da antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e pretendia beneficiar as colheitas aqui mesmo. A informação saiu na edição de 8 de novembro de 1978, na seção “O negócio é notícia”, de O Globo, do qual fui correspondente.
A partir da repercussão dessa primeira exportação, travou-se uma batalha burocrática e anti-rondoniense nos escalões do poder. Ciumeira de todos os lados. Os de fora, por causa da iminente fartura que um dia aqui se alcançaria; os daqui, temendo o menosprezo pelo fruto genuinamente amazônico – como sempre deveria ter sido, não fossem as mãos do homem, que um dia o transportaram para a Bahia.
Na presidência do Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau, Humberto Salomão Mafuz disparava seus petardos. Em documento entregue ao presidente Ernesto Geisel, ele condenava os investimentos nos cacaueiros rondonienses. Sustentava-se na ocorrência da “vassoura-de-bruxa”.
A Ceplac em Porto Velho, e aqui lembramos o saudoso engenheiro agrônomo e pesquisador Frederico Álvares Afonso, contestou-o. Afinal, a cacauicultura dava seus primeiros passos em Rondônia. Seria um erro, desacreditar no êxito das lavouras de um produto nativo da Amazônia, tal qual é a mandioca, considerada a raiz brasileira.
Perceberam as manobras? Liguem os pontos: na coluna anterior, lembrei que o coronel Humberto Guedes, governador de Rondônia naquele 1978, queixara-se de que o baiano Ângelo Calmon de Sá, um dos donos daquele sinistro Banco Econômico S/A, rejeitara proposta de expansão da lavoura cafeeira em Cacoal. Usava seus poderes de ministro da Indústria e do Comércio.
Com apenas mil pés, o cacau concentrava-se inicialmente na região de Ouro Preto do Oeste, a 330 km da capital. Ariquemes plantaria em seguida, mais nove mil pés, nos projetos Burareiro e Marechal Dutra. Em Ouro Preto ficava a sede do plantio experimental da Ceplac e do projeto integrado de colonização do Incra. Deu muito trabalho a luta contra a “vassoura”, mas esse é outro capítulo, quando lembraremos a situação do então diretor daquele órgão, Nilton Camargo. E também recordaremos a atuação da Aninga, a maior compradora no território federal. Na ocasião, o cacau custava 50 cruzeiros o quilo.
Foi uma peleja para o governo territorial, fortalecido pela Ceplac, persistir e conviver com fungos hoje debelados pela ciência, no momento em que o produtor também sentia seu primeiro desestímulo.
Nada contra bons baianos, mas que houve conspiração, ah! se houve.
O colunista escreve semanalmente neste espaço. A publicação é simultânea, no Correio Popular e nos sites Amazônias e RondôniaSim.
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