Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Cacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana


 

Cacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana - Gente de Opinião 

RONDÔNIA DE ONTEM 

 

MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

 

Nossa primeira safra cacaueira teve como destino Hamburgo (então Alemanha Ocidental). Foram apenas quinhentas sacas, cerca de 30 toneladas de um produto com alta qualidade, conforme atestavam na época os homens da Comissão Executiva do Plano da Lavoura (Ceplac).


Quase 32 anos atrás, o grupo Fischer festejou essa conquista. O agrônomo Assis Canuto acreditava no êxito dessa lavoura, apesar dos percalços sofridos por conta da disseminação do fungo da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa). “Essa exportação demonstraCacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana - Gente de Opinião a viabilidade de transformar o futuro Estado de Rondônia num importante pólo exportador, via Porto Velho”, ele previa. Depois, elegeu-se deputado federal.

 

O grupo Fischer havia conseguido financiamento da antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e pretendia beneficiar as colheitas aqui mesmo. A informação saiu na edição de 8 de novembro de 1978, na seção “O negócio é notícia”, de O Globo, do qual fui correspondente.

 

A partir da repercussão dessa primeira exportação, travou-se uma batalha burocrática e anti-rondoniense nos escalões do poder. Ciumeira de todos os lados. Os de fora, por causa da iminente fartura que um dia aqui se alcançaria; os daqui, temendo o menosprezo pelo fruto genuinamente amazônico – como sempre deveria ter sido, não fossem as mãos do homem, que um dia o transportaram para a Bahia.

 

Na presidência do Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau, Humberto Salomão Mafuz disparava seus petardos. Em documento entregue ao presidente Ernesto Geisel, ele condenava os investimentos nos cacaueiros rondonienses. Sustentava-se na ocorrência da “vassoura-de-bruxa”.

 

A Ceplac em Porto Velho, e aqui lembramos o saudoso engenheiro agrônomo e pesquisador Frederico Álvares Afonso, contestou-o. Afinal, a cacauicultura dava seus primeiros passos em Rondônia. Seria um erro, desacreditar no êxito das lavouras de um produto nativo da Amazônia, tal qual é a mandioca, considerada a raiz brasileira.


Perceberam as manobras? Liguem os pontos: na coluna anterior, lembrei que o coronel Humberto Guedes, governador de Rondônia naquele 1978, queixara-se de que o baiano Ângelo Calmon de Sá, um dos donos daquele sinistro Banco Econômico S/A, rejeitara proposta de expansão da lavoura cafeeira em Cacoal. Usava seus poderes de ministro da Indústria e do Comércio.

 

Com apenas mil pés, o cacau concentrava-se inicialmente na região de Ouro Preto do Oeste, a 330 km da capital. Ariquemes plantaria em seguida, mais nove mil pés, nos projetos Burareiro e Marechal Dutra. Em Ouro Preto ficava a sede do plantio experimental da Ceplac e do projeto integrado de colonização do Incra. Deu muito trabalho a luta contra a “vassoura”, mas esse é outro capítulo, quando lembraremos a situação do então diretor daquele órgão, Nilton Camargo. E também recordaremos a atuação da Aninga, a maior compradora no território federal. Na ocasião, o cacau custava 50 cruzeiros o quilo.

 

Foi uma peleja para o governo territorial, fortalecido pela Ceplac, persistir e conviver com fungos hoje debelados pela ciência, no momento em que o produtor também sentia seu primeiro desestímulo.

 

Nada contra bons baianos, mas que houve conspiração, ah! se houve.

 

 

O colunista escreve semanalmente neste espaço. A publicação é simultânea, no Correio Popular e nos sites Amazônias e RondôniaSim.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”

“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”

Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado

Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025

Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025

A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa

PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho

PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho

Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre

"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta

"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta

Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o v

Gente de Opinião Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)