Sexta-feira, 24 de dezembro de 2010 - 15h39
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
O soldado Geraldo e os jagunços e ex-presos conhecidos por Lourenço e Benigno maltratavam mulheres e crianças às margens do Rio Urupá, em Ji-Paraná. Com grosseria, invadiam casebres à força e sem mandado judicial. Os posseiros não lhes ofereciam qualquer resistência. Iam diretamente para a beira-rio para retirar todos os que incomodavam o “patrão”. Eram cerca de duzentas famílias ocupantes de terras reivindicadas na ex-Vila de Rondônia pelo fazendeiro Walmar Meira Barreto.
O capítulo da história fundiária assinado por Barreto naquele trecho de Ji-Paraná chegava aos anais da Câmara dos Deputados. Jerônimo Santana (MDB) o acusava de grilagem de terras e abusos físicos contra os posseiros. Embora o fazendeiro possuísse outras terras legalizadas, queria ser dono de outras áreas.
Para o presidente da Câmara Municipal de Porto Velho, José Viana, a situação se tornava absurda: “Isto aqui virou terra sem lei, onde predomina o latifúndio protegido pela polícia”, ele dizia.
A lentidão do Incra e da Justiça dava motivos de sobra para que aquele homem de paz, evangélico, se indignasse com a situação. Viana pedia a prisão dos grileiros, mas parecia uma voz clamando no deserto. Se Brasília fazia ouvidos moucos aos discursos do próprio deputado
Ji-Paraná nos anos 1970 se chamava Vila Rondônia |
emedebista, imagine com o discurso de um vereador...
Em síntese: a fala dos vereadores só tinha ressonância nos blocos de anotação e nos relatórios datilografados num canto obscuro do Palácio Presidente Vargas pelo então chefe da espionagem, Argemiro Pedro dos Santos. Ou numa saleta, também camuflada, no prédio da Delegacia da Receita Federal, eficiente colaboradora do temido e sempre amaldiçoado Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão máximo do regime militar.
Ji-Paraná, 1979: agentes policiais espancavam um jovem suspeito de matar o industrial José Coletto. Quando a advogada Cléia Ferreira o defendia, o delegado Sidney Maio ordenava rapidamente a sua soltura, após constatar o terrível engano, já que o verdadeiro assassino era outro.
O tenente PM João Sobral de Carvalho fora incumbido pelo secretário José Mário Alves da Silva para ser o delegado especial que apuraria a ocupação de terras públicas ao longo da rodovia BR-364, em Presidente Médici. Nessa operação, Carvalho incluía o vereador Noé Inácio dos Santos (MDB) no mesmo rol de posseiros e grileiros. Tal qual seu colega Viana, o vereador Noé também era evangélico e defensor de minorias na antiga “Pela-jegue” – apelido dado à antiga Vila de Médici.
Todos eram tratados da mesma forma pela autoridade policial. Grileiros profissionais ameaçavam topógrafos do Incra. Um relatório do governo, reforçado pela Polícia Federal, chegava às mãos do diretor fundiário daquele instituto, Cristiano Machado Neto. Só não sabiam distinguir políticos, justamente os que se encontravam no meio desse fogo cruzado.
A força policial era usada contra a oposição política naquele célebre biênio 1978/79: em Guajará-Mirim o pelotão de choque a Polícia Militar dissolvia a golpes de cassetete uma passeata de correligionários do vereador e candidato a deputado federal Abelardo Townes de Castro Filho (MDB). Queriam carregá-lo nas costas até o Hotel Fênix, onde ele se hospedava.
Em Porto Velho, soldados da PM e do Corpo de Bombeiros agrediram a cassetete e jatos d’água uma multidão de quinhentas pessoas acuadas na esquina da Avenida Sete de Setembro e Rua Joaquim Nabuco, quando elas gritavam palavras de ordem “contra a ditadura”. Alguns foram levados à delegacia para explicar “a razão do tumulto”.
Um tanto distante desses acontecimentos, o comandante da PM territorial, coronel Ivo Célio da Silva palitava os dentes com absoluta tranqüilidade, intocável e insensível à truculência. Ele mantinha para uso próprio uma Brasília (placa AA-8529) roubada, conforme denunciava o jornal Alto Madeira, apontando outros veículos em igual situação, apropriados irregularmente por oficiais da corporação. Poderosa PM.
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