Quarta-feira, 27 de junho de 2018 - 14h47
MONTEZUMA CRUZ
Em Rondônia e Mato Grosso, o termo “povo das cinzas” ou “povo cinza” foi amplamente empregado na década de 1980. Trata-se da referência genérica aos mais de 30 grupos que compõem a etnia Nambikwara, distribuída em três ecossistemas distintos: Serra do Norte, Vale do Guaporé e Chapada dos Parecis.
A cinza era o conhecido pó resultante da queima de alguma coisa. Lá no Egito e aqui também. Da beira da fogueira, na qual amenizavam noites frias, os índios amanheciam cobertos de cinzas.
Os mais antigos Nambikwara acumulavam conhecimentos de estrelas da Via Láctea.
O território geográfico Nambikwara, configurado pela BR-364, rios Juína e Doze de Outubro, é caracterizado por linhas demarcatórias em movimento que se deslocam por interesses temporários e que muitas vezes coincidiram e coincidem com as políticas de incentivos fiscais direcionadas à exploração dos recursos vegetais, minerais e hídricos da Amazônia Legal.
O penitente Moisés se cobria com cinzas e indumentárias próprias dos pecadores. Há mais referências:
“Disse, pois, Davi a Joabe e a todo o povo que com ele estava: Rasgai as vossas vestes, cingi-vos de panos de saco e ide pranteando diante de Abner. E o rei Davi ia seguindo o féretro.” (2 Samuel 3.31).
2) que a pessoa ou povo estavam passando por momentos de arrependimento: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza.” (Lucas 10.13).
(3) que a pessoa ou povo estavam passando por momentos de
humilhação: “Pus um pano de saco por veste e me tornei objeto de
escárnio para eles.” (Salmos 69.11).
A Bíblia diz que o pano de
saco ou “cilício” [túnica, cinto ou cordão de crina] era um tecido
grosseiro e resistente feito de pelos de cabra ou de camelo, utilizado
para conter cereais, objetos e alimentos em geral.
Em 1980, o
antropólogo, indigenista e documentarista Vicent Carelli, e o jornalista
Milton Severiano (1980), então vinculados ao Centro de Trabalho
Indigenista, escreveram “Mão branca contra o povo cinza: vamos matar
esse índio?”.
A agropecuária assentava-se fortemente no Vale do
Guaporé. Carelli e Severiano denunciavam diversas atrocidades pouco
antes da aplicação do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste
Brasileiro (Polonoroeste).
Estudo da doutora em História Anna
Maria Ribeiro Costa, do Centro Universitário de Várzea Grande (MT)
explica: “povo das cinzas” não é mais utilizado para referendar os
grupos Nambikwara que habitam 14 Terras Indígenas.
“Em seus
Registros Gerais, os índios passaram a adotar um nome em língua
portuguesa, ao lado da autodenominação de seu grupo. O termo Nambikwara,
uma palavra emprestada do Tupi-guarani que quer dizer orelha furada, só
deve ser associado aos grupos da Chapada dos Parecis, ou do Cerrado”.
“Os
demais grupos da Serra do Norte e Vale do Guaporé repudiam com
veemência tal designação. Exigem ser identificados por suas
autodenominações, mesmo cônscios do sentimento de pertencimento de um
único povo indígena”, ela revela.
Por causa das ações
demarcatórias feitas pela Funai durante 30 anos, entre 1960 e 1990, em
Mato Grosso e Rondônia, o imenso território ocupado pelos diversos
grupos que compõem a sociedade NambiKwara tornou-se fragmentado.
Diversas
Terras Indígenas foram a eles destinadas, localizadas em três
ecossistemas que agrupam vários grupos que partilham de aspectos
culturais comuns.
Segundo a pesquisadora, na região do Vale do
Guaporé encontram-se a Terra Indígena Sararé, Terra Indígena Vale do
Guaporé, Terra Indígena Alantesu, Terra Indígena Taihãntesu, Terra
Indígena Pequizal, Terra Indígena Lagoa dos Brincose Paukalirahjausu
[identificada e delimitada, à espera da demarcação] e Terra Indígena
Aykatensu [registrada na Funai no Sistema Indigenista de Informações];
na Serra Norte acham-se a Terra Indígena Tubarão-Latundê, Terra Indígena
Pirineus de Souza e Terra Indígena Morcegal [registrada na Funai no
Sistema Indigenista de Informações] e Terra Indígena Parque do Aripuanã.
Na Chapada dos Parecis, a Terra Indígena Tirecatinga e Terra Indígena
Nambikwara, onde habitam os grupos Halotesu, Wakalitesu, Kithaulhu,
Sawantesu, Niyahlosu, Siwaihsu e Hinkatesu.
A Terra Indígena
Nambikwara do Cerrado está circundada pela união de três linhas
demarcatórias: a rodovia Marechal Rondon (BR-364), o rio Juína e rio
Doze de Outubro que, unidos ao Juruena e Camararé, respectivamente,
delimitam a fronteira oficial.
“Face ao redimensionamento das
políticas econômicas após 1964, o território ocupado pelos índios, à
época da demarcação da Reserva Nambikwara, passou a ser de interesse das
ações estatais e particulares, em especial, as terras férteis ocupadas
pelos grupos Nambikwara do Vale do Guaporé”, descreve Anna Maria Ribeiro
Costa.
Assim as terras arenosas da Chapada dos Parecis foram
consideradas à época como improdutivas. “Por isso, o governo federal,
tendo a Funai à frente, transferiu para lá grupos Nambikwara da Serra do
Norte (Mamando e Negrote) e do Vale do Guaporé (Wasusu e Alantesu), na
tentativa de deixar as terras férteis para a agropecuária que ali se
instalaria.
Em 2005, o sociólogo e teórico político peruano
Anibal Quijano observou: (...) Isso significou uma nova maneira de
legitimar as já antigas ideias e práticas de relações de
superioridade/inferioridade entre dominantes e dominados”.
(*) Com fotos de Vincent Carelli, Mapa Wikipedia e Kim-Ir-Sem Leal Pires
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