Quinta-feira, 10 de março de 2011 - 09h50
MONTEZUMA CRUZ
Ei compadre! Estamos falando de você. Compadre era o adjetivo usado pela jornalista Rejane Lima Verde para se dirigir a Paulo Queiroz Bezerra, esse ser que nos deixa entristecidos e menos conformados de perdê-lo no terceiro jardim florido da sua profissão que nos dignifica.
Sabe compadre PQ, ontem à noite no twitter um tanto de gente que não teve o privilégio de conhecê-lo quis saber a quem pranteávamos. A ficha ainda não havia caído, quando no imaginário desse magro velho, Railda deparara apenas com uma brincadeira, um desmaio talvez. Desta vez não, você “viajava” mesmo. E escolheu como estação de partida a própria redação do seu site de notícias.
Afinal, esse “anglo-paraibano” (definição dada por Jorcêne Martínez) foi lembrado por Nelson Townes de Castro como um baluarte na organização sindical da nossa categoria. Logo, morrer no local de trabalho parece-me um gesto nobre. Você também morava ali, dava expediente na maior parte do dia. Respeito os seus familiares, que provavelmente não o quisessem assim.
Durante o dia ensaiei enviar-lhe um e-mail cobrando a postagem de mais um artiguinho lembrando a fase de Rondônia que presenciamos juntos, deslumbrados e solidários com as correntes migratórias. Lembra-se daquele título que você colocou numa reportagem minha em O Guaporé? “A grande aventura mata adentro” – referindo-se àquela gente que buscou um novo amanhã nas terras de Colorado e Cerejeiras?
Estranhei que o site estivesse estático, sem atualizações. No entanto, uma força superior determinou que ficasse quieto, à espera da sua manifestação. Ela não veio. A caixa postal eletrônica estava ali perto do seu corpo, mas os seus dedos não escreveriam resposta alguma.
As declarações e os discursos começavam na noite de quarta-feira: dos poderes públicos, dos amigos que lhe admiravam muito. De minha parte, uma das primeiras reações foi lamentar essa “viagem” tão repentina, pois sentia a sua presença no prefácio de um livro meu e entre aqueles que por ventura estivessem no lançamento, um dia. Porque foi você uma das pessoas que me incentivaram e cobraram esse livro.
Em 11 de abril de 1978, ao voltar da Maternidade Darcy Vargas, onde nascera minha primeira filha, Vânia de Lourdes, eu conversava com o jornalista Ivan Marrocos na calçada do Café Santos, ao lado da Banca do Franzolino. Você vinha no sentido Correios, magro, cabelos pretos, barba ainda rala, camisa de mangas longas e aberta no peito. Apresentava-se.
Dali para frente voltei a lhe encontrar nas tardes e noites da redação de A Tribuna e depois, em O Guaporé. Via-o sempre cuidadoso na apuração de matérias e na correção das falhas, especialmente as de revisão. Uma vez escreveu a respeito da pintora Rita Queiroz, descrevendo os seus quadros de natureza morta. Na composição em chumbo gráfico saiu “nau tereza marta”. Rimos disso até uns dias atrás, quando lhe visitava na Redação do RondôniaSim.
Compadre, você misturava a indignação de constatar erros ao riso incontido pelas peças que a noite nos aplicava. E relaxava quando íamos encontrar a plebe nas sopas madrugais do Bar Arapuca, no desaparecido Bairro do Roque. Era um estabelecimento talvez do mesmo quilate que o Bar de Dona Creusa, no Bairro Caiari, onde você ouvia o eloqüente o Cabo Lira declamando versos de Augusto dos Anjos e de Vespasiano Ramos.
Na crônica da política rondoniense você não se limitava às suas constatações; promovia colegas, mencionava-os nos textos, sempre buscando conduzir à ribalta a participação de cada um no produto final das suas primorosas análises. Não raro sabia alertar e corrigir colegas, usando luvas macias, com certeiras e impressionantes lições no estilo “tome cuidado, não é bem assim”. Ou, “apure melhor, que encontrará o fio da meada”.
Dizer do seu companheirismo, da sua implicância com o malfeito, da sua carência, das suas presepadas e, sobretudo, do seu altruísmo e do gestos de amor, é mesmo chover no molhado. Certamente virão lembranças à mesa e às salas públicas ou aos lares simples, em doses homeopáticas, para serem bem degustadas.
Da Balsa ao Novo Horizonte, cruzando daqui para ali e acolá os quatro ou seis cantos de Porto Velho – quiçá de Rondônia – quem não soube da sua existência neste Planeta, homem?
Compadre, sua partida nos impede consumir um pouco mais daqueles libelos jornalísticos, algumas vezes filosóficos, reais. Aqui permanecemos até as próximas convocações – aqueles a quem você amou, principalmente suas mulheres e seus diletos filhos. Estamos nós, agora, a falar o melhor de você. Faz bem.
Tratai todos os homens como gostaríeis que eles vos tratassem (S. Lucas, 6:31).
Foi um alto merecimento ter desfrutado de tantos bons momentos ao seu lado no trabalho, na floresta, nos palcos, nos salões, nos plenários e nas ruas desta Rondônia querida. Por isso, em uníssono lhe dizemos: siga em paz por esses caminhos que acreditamos serem bem iluminados. E melhores.
ET. Para quem envio o próximo artigo? E o de ontem, como fica? Tenho certeza de que você está examinando a situação dos seus colaboradores do site.
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