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Montezuma Cruz

Comunicadores da Amazônia abrem os olhos à tecnologia social


  


MONTEZUMA CRUZ

Agência Amazônia


BELÉM, PA – Jornalistas dos estados amazônicos estão redescobrindo pautas que mostram soluções efetivas de transformações sociais. Convidados pela Fundação Banco do Brasil, eles debateram neste fim de semana, em Belém, a tecnologia social como modelo de desenvolvimento social e sua relação com a sustentabilidade. No final do encontro, constataram algo valioso: a ampliação dos contatos entre as suas redações e a produção de uma pauta “da Amazônia para o País e não do País para Amazônia” podem fortalecer movimentos de agroextrativistas, ribeirinhos, pescadores e povos indígenas. 

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Mello: "Norte tem poucas inscrições para Prêmio de Tecnologia Social" / MARCELO RIBEIRO


Não se trata da reinvenção da pólvora, mas o gerente de Comunicação e Mobilização Social da Fundação BB, Claiton Mello, deixou clara a possibilidade de os comunicadores de rádio, jornais, sites, blogs e televisão serem cada vez mais porta-vozes de soluções para questões ambientais, econômicas e sociais peculiares à região. Participaram do 1º Encontro de Jornalistas da Região Norte 45 profissionais convidados.

Identificação de métodos

Mello explicou que o conceito de tecnologia social para o desenvolvimento compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis desenvolvidas na interação com a comunidade. “Precisamos conseguir identificá-las”, disse.

Os debates do encontro permitiram antever que a tecnologia social pode virar política pública. É o que ocorreu, por exemplo, com a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), que recebeu o apoio da Rede de Tecnologia Social (RTS), projetando em 2002 a utilização de recursos simples para o acesso à água potável naquela região. Por meio do Programa “Um Milhão de Cisternas Rurais”, cerca de mil outras organizações atuantes no sertão do nordeste se esforçaram para o êxito do projeto.

Segundo Mello, 300 mil dessas unidades são reaplicáveis. Até 2010 estima-se o aumento de unidades de 4 mil para 10 mil, a maior parte da área educacional. “A transformação social, ele alertou, não acontece apenas por causa dos olhos bonitos da Fundação BB, mas quando as cabeças se mudam para o aproveitamento do saber tradicional e de soluções, entre elas, o aproveitamento de rejeitos”. Destacou ainda a articulação com a RTS para a certificação dos produtores agroextrativistas. “A interação com a comunidade possibilita uma produção agroecológica integrada e sustentável, ou seja, as famílias obtêm alimentos e vendem o excedente”. 

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Miguel Oliveira, de Santarém, relata crítica de seu grupo / MARCELO RIBEIRO


O Norte tem solução para o Norte?

O Norte tem soluções para o Norte? – provocou o gerente, ao lembrar que a região perfaz menos de 6% das inscrições para o Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social, que recebeu 2.497 inscrições, de 2001 a 2007. Desse total, o sudeste inscreveu 971 projetos; o nordeste, 585; o sul, 532; o centro-oeste,250, e o norte, apenas 159.

Para o presidente da Fundação BB, Jacques Pena – que não pôde ir a Belém –, a Amazônia precisa ampliar o número de inscrições. Por ele falou novamente Mello: “É preciso diferenciar o projeto social do projeto de tecnologia social para o desenvolvimento. Talvez por isso, o norte não tenha inscrito maior número de projetos, já que a maioria não se enquadra nas características da tecnologia social”.

Criado em 2001, o prêmio contempla com R$ 400 mil soluções relativas à água, alimentação, educação, energia, habitação, renda, saúde e meio ambiente. Podem participar administrações municipais, empresas públicas, governos estaduais, instituições de ensino, institutos e organizações não-governamentais legalmente constituídas. As inscrições da edição de 2009 estão abertas até o próximo dia 29 de maio. Devem ser feitas pela internet, na página: www.tecnologiasocial.org.br

Em cinco anos, a Região Norte teve 617 projetos com investimentos sociais da Fundação BB. Entre 2003 e 2008, atividades relacionadas à educação, totalizando 249, receberam R$ 8,4 milhões e aquelas que proporcionam trabalho e renda, R$ 25,14 milhões, num total de 368 projetos. Nesse mesmo período, no País, 5.581 projetos receberam investimentos de R$ 442,17 milhões. Desse total, R$ 137 milhões foram empregados em tecnologias sociais de educação e R$ 305 milhões na área de renda. Para 2009, o investimento social da Fundação em todo o Brasil será de cerca de R$ 140 milhões.

A sociedade local, em parceria com intervenientes competentes incentiva atividades produtivas e a comercialização, destacou Luiz Nogueira, da área de Desenvolvimento Sustentável da Superintendência do Banco do Brasil no Pará. Lembrou que o financiamento à cultura do curauá na comunidade de Chibé é um exemplo de um trabalho: “Além de oferecer oportunidades às comunidades, gera renda e preserva a floresta”.

Uso comunitário da floresta pode
alcançar 140 milhões de hectares
 

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Gomes defende aplicação de soluções locais para a transformação social / MARCELO RIBEIRO

BELÉM – Na Amazônia, 66% das florestas – 127 milhões de hectares – se destinam a uso comunitário, mas a meta do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) é alcançar 140 milhões até 2011. “É uma riqueza fantástica, convivendo com uma pobreza absurda”, afirmou o presidente do GTA, o paraense Rubens Gomes.

Ele não tem dúvida de que as transformações são obtidas com pequenas intervenções sociais. Mas considerou “pesada” a missão de agregar nas 18 regionais do GTA os conhecimentos de pescadores, trabalhadores rurais, agroextrativistas e outros. “Eles precisam se mobilizar, sem esperar que o governo faça tudo”, disse.

Gomes, que é músico, mencionou projetos de certificação sócio-participativa da cadeia produtiva do açaí, de coleta de óleos vegetais aromáticos em Silves (AM) e a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia, de Manaus (AM). No entanto, advertiu: “Até para ter instrumento de qualidade igual à européia – caso do violão – a certificação da floresta, sem trabalho escravo, é o ideal. Precisamos intervir com atos políticos na formação de trabalhadores adolescentes de Boa Vista do Ramos”. A cidade fica a 18 horas de barco de Manaus e sedia o Centro de Treinamento do Processamento da Madeira.

Gomes lecionou sua arte para menores infratores no Acre e na Universidade do Amazonas. A Escola baseia seu trabalho no uso de madeiras certificadas de acordo com os princípios e critérios do Forest Stewardship Council (FSC) ou madeiras de aproveitamento de construções e móveis antigos. Ou ainda, recolhendo material de árvores mortas na floresta ou de pastagens e campos abandonados há mais de 10 anos. Espécies ameaçadas e de uso tradicional – mogno e jacarandá da Bahia – não são utilizadas.

As peças certificadas chegam ao mercado por cerca de 50% do custo de instrumentos da mesma qualidade. A oficina tem capacidade para produzir 35 peças por mês. A oficina produz violão, viola caipira, violão de sete cordas, bandolim, cavaquinho e banjo, incluindo linhas eletroacústicas e de aço para estúdio. Os preços variam de R$ 800,00 a R$ 2.000,00. (M.C.) 

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Jornalistas abrem os olhos para agenda permanente na Amazônia / MARCELO RIBEIRO


Algumas opiniões

A radialista Mara Régia, da Rádio Nacional Amazônia, foi a facilitadora do encontro.

▪ Altino Machado, do Blog Amazônia, questionou a sustentabilidade da comunicação na região. “Muitas vezes, o assunto contraria os interesses econômicos”. Disse ainda que as instituições federais não investem na comunicação regional.

▪ Dayse Moreira Gomes, da TV Anhangüera, do Tocantins, destacou a necessidade de trabalhar com uma agenda permanente, que não cubra apenas o factual, mas acompanhe os resultados e conseqüências dos acontecimentos.

▪ Miguel Oliveira, de O Estado do Tapajós, de Santarém (PA), ressaltou a falta de integração da comunicação na região Norte. “Muitos projetos ficam desconhecidos pela falta de formação de redes de informação que permitam torná-los visíveis e multiplicados”.

▪ Jorge Braum, da Rádio Difusora Acreana: “A pauta de inclusão social precisa ser mais pesquisada e elaborada".

▪ Tião Vitor, do jornal Página 20, de Rio Branco (AC), acredita que a dificuldade de identificar tecnologias sociais do Norte não é ocasionada pela falta de divulgação da mídia, e sim pela falta de conhecimento das comunidades sobre a existência do Prêmio, do Banco de Tecnologias Sociais e de outros programas. “Este encontro é um começo para que a Fundação Banco do Brasil consiga divulgar o tema”, disse. 

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Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião e do OpiniãoTV

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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