Congresso Nacional homenageia Chico Mendes no 20º ano da morte do ativista ambiental
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
BRASÍLIA – O Congresso Nacional fará sessão solene na próxima terça-feira para lembrar o 20º ano da morte do seringueiro, líder sindical e ativista ambiental Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes. Ele foi assassinado por volta das 18h do dia 22 de dezembro de 1988 no quintal de sua casa, em Xapuri (AC), uma semana depois de completar 44 anos.
Os pronunciamentos a respeito da vida e da luta de Chico Mendes serão feitos na tribuna, a partir das 11h, na presença da ex-mulher dele, Ilzamar, dos filhos Sandino e Elenira, e de Ângela, do seu primeiro casamento. Uma comitiva do Acre, liderada pelo governador Binho Marques (PT), prestigiará o ato. Mais cedo, às 8h30, instituições, entidades sindicais, organizações não-governamentais e demais convidados vão se confraternizar durante um café da manhã amazônico a ser oferecido pelo Governo do Estado do Acre.
Quem falará
Na sessão deverão discursar os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Marina Silva (PT-AC), Tião Viana (PT-AC), Serys Slhessarenko (PT-MT) e Cristovam Buarque (PDT-DF); e os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Fernando Melo (PT-AC), Nilson Mourão (PT-AC) e Perpétua Almeida (PT-AC). Falarão ainda um representante da família, um do Comitê Chico Mendes e um do Conselho Nacional dos Seringueiros.
Às 10h30 haverá apresentação de crianças da Escola Pública da 402 Norte, de Brasília, com temática ambiental. Em seguida se apresentará o cantor acreano Sérgio Souto. Autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Acre comparecerão a todos os atos, anunciam os organizadores. Também é esperado o jornalista e escritor Zuenir Ventura.
No próximo dia dez de dezembro, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e o Governo do Acre promovem a 17ª Caravana da Anistia – 20 anos sem Chico Mendes, com sessão especial de julgamento da anistia do seringueiro e outros requerimentos. Em ato está previsto para o Teatro Plácido de Castro, em Rio Branco, a partir das 10h será exibido um vídeo institucional da Comissão de Anistia, seguindo-se a constituição da mesa julgadora da Comissão de Anistia e a instalação da sessão especial de julgamento, com homenagem post mortem.
Por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chico Mendes está inserido na galeria dos "Heróis da Pátria", como símbolo da luta pela preservação do meio ambiente. Entre outras personalidades históricas, lá estão: Tiradentes, Marechal Deodoro da Fonseca e D. Pedro I. O livro dos Heróis da Pátria está guardado no Panteão dos Heróis, na Praça dos Três Poderes em Brasília.
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Para decidir os "empates", o líder sindical e ambiental sempre se reunia com seringueiros / BIBLIOTECA DA FLORESTA |
A trajetória do herói amazônico
Aos dez anos de idade, Chico já sustentava a família, por causa de um acidente de trabalho que o pai sofreu. Desta maneira, conheceu cedo as injustiças e exploração submetidas aos seringueiros. Na juventude, aprendeu a ler as palavras e o mundo com Euclides Fernando Távora, exilado político que vivia clandestino na Amazônia.
O jornalista Élson Martins lembra que ouviu de José Alves Mendes Neto, o Zuza, irmão mais novo de Chico, que aos 16 anos ele tornou-se "pai e mãe" de uma escadinha de irmãos pequenos, missão recebida da mãe Iraci Lopes Mendes que faleceu de parto aos 42, de forma dramática.
Em 1975, Chico participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e, em 1977, do STR de Xapuri, do qual se tornou presidente em 1981. Na década de 80, tornou-se dirigente da Central Única dos Trabalhadores. Muitos de seus companheiros também perderam a vida na luta pela preservação da Amazônia e dos povos da floresta, entre eles, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, em 1980.
● Ainda criança começou seu aprendizado do ofício de seringueiro, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a ler aos 20 anos de idade, já que na maioria dos seringais não havia escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em suas propriedades.
● Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participa ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organiza também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.
● Em 1977 participa da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e é eleito vereador pelo MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com suas lutas.
● Em 1979 reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a duros interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
● Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região. Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.
● Em 1981 assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue se eleger.
● Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984. Liderou o 1º. Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional.
● A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazônica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta,além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.
● Em 1987 recebeu a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros, causadas por projetos financiados por bancos internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID. Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião, Chico Mendes é acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prêmios internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente.
● Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação da UDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.
● Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, se agravam as ameaças de morte contra Chico Mendes que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR.
● A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data. (Do site Colégio Francisco Mendes).
Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedepinião