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Montezuma Cruz

CONQUISTAS AMAZÔNICAS


 
Xarope de mandioca e tucupi em pó são conquistas amazônicas


 
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

BRASÍLIA – Com projeto financiado pela Fundação Rockfeller, dos EUA, o pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), Luiz Joaquim Castelo Branco estuda mandiocas coloridas desde 1998. "Nas seis vezes em que viajei para Amazônia, obtive seis conquistas", ele comenta. Em 1997, ao encontrar lavouras de mandiocaba na rodovia Transamazônica (BR-230), no Pará, ele observou índias amamentando bebês com mandiocaba, após secarem o peito. "O glicogênio é abundante no fígado e facilita o trato intestinal. O bebê fica bem sadio", explica. Para os casamentos naquela região, o dote é  uma lavoura de mandioca, lembra o pesquisador.


Dispensa processamento químico

A mandiocaba foi parar em Brasília. "Quando lá estive, uma grama  de glicogênio valia US$ 68. Essas índias nunca estudaram, não são PhD em nada, mas conhecem o poder da mandioca", lembra. Castelo Branco aponta vantagens do xarope de glicose de mandioca, descoberto e até hoje testado no Cenargen: ele dispensa processamento químico e pode ser comercializado sob uma marca de produto natural da Amazônia para atender o mercado de produtos naturais. 

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Castelo Branco pesquisa mandiocas coloridas há dez anos e tem sorte com a Amazônia /FOTOS MONTEZUMA CRUZ

"Entre as suas vantagens, ele diversifica e agrega valores tecnológico e econômico a derivados da mandioca", diz. O tucupi em pó da mandioca amarela, descoberto por Castelo Branco, possui 600 miligramas de betacaroteno, um dos mais de 600 carotenóides conhecidos na natureza. Tucupi é um molho de cor amarela extraído da raiz da mandioca brava, que é descascada, ralada e espremida (tradicionalmente usando-se um tipiti).

Depois de extraído, o molho "descansa" para que o amido (goma) se separe do líqüido (tucupi). Inicialmente venenoso devido à presença do ácido cianídrico, o líqüido é cozido (processo que elimina o veneno), por horas, podendo, então, ser usado como molho na culinária.

 
Xarope para doces, bolos e biscoitos  

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Ao deputado Fernando Melo (e) e ao empresário Sérvulo Costa (d): vantagens tecnológicas
O betacaroteno tem propriedades antioxidantes que ajudam a neutralizar os radicais livres originados da poluição atmosférica ou do tabagismo e que danificam os lípides das membranas celulares, bem como o material genético, podendo levar ao desenvolvimento de câncer. Na sua sala no Cenargen, Castelo Branco também apresenta o o xarope de glicose, que pode ser usado na fabricação de doces, biscoitos, produtos farmacêuticos e como adjunto em cervejarias.

Enriquecido com carotenóides, tem propriedades pró-vitamínicas. Segundo o pesquisador, essa tecnologia trata da obtenção de um concentrado de glicose natural pela hidrólise microbiana do amido de raiz de reserva de mandioca com elevados teores de betacaroteno, luteina e licopeno. O xarope concentrado foi obtido de clones de mandioca pigmentadas identificadas e isoladas na diversidade da Amazônia.

 
Cápsulas enriquecidas

Na região de Belém, capital paraense, costuma-se retirar manivas da mandiocaba após seis meses do plantio. Essa tecnologia elimina os investimentos iniciais de infra-estrutura no processamento da hidrólise química do amido na obtenção da glicose. "Obviamente, traz benefícios sociais para os agricultores, porque melhora sua renda", assinala. 

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O tradicional tucupi líquido é usado em temperos na culinária amazônica

O Cenargen também projetou cápsulas com extrato de organelas celulares contendo licopeno, betacaroteno ou luteina. Trata-se da obtenção de um suplemento vitamínico para nutrição humana, útil como antioxidante e suplementos vitamínicos na prevenção e combate a cegueira infantil, catarata, vista cansada e câncer de próstata.

Em suas palestras a respeito da biofortificação, Castelo Branco ressalta que a pesquisa agrícola toma por base o material genético para melhorar algumas características já conhecidas. No rumo inverso, ele buscou a diversidade das características para explorar a utilização das raízes de mandioca. "E assim combinamos macronutrientes (açúcares e carboidratos) com micronutrientes (vitaminas e proteínas) e descobrimos os clones de maior valor nutritivo, contendo açúcares, vitamina A, antioxidantes e proteínas". Resta agora a obtenção da patente industrial e o certificado do Ministério da Saúde.  

 

Embrapa Cerrados estuda
ampliação de lavouras

BRASÍLIA — Clones de alto potencial genético de mandioca muitas vezes não chegam às mãos do produtor. O proprietário passa anos com poucas variedades. A partir da multiplicação de manivas, feita por meio da pesquisa participativa, agrônomos da Embrapa Mandioca e da Embrapa Cerrados repassam conhecimentos e substituem variedades, o que evita o abandono  de lavouras. Este é o atual panorama do setor, descrito à Agência Amazônia pelo pesquisador dessa unidade, Josefino Fialho. 

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Josefino Fialho: pesquisa participativa também ouve experiência dos índios Kraô

Ele alerta: o mercado é o grande limitador. "No Tocantins um produtor me questionou: quero aumentar a minha produtividade, mas para quem vou vender?". Sem o cultivo extensivo, prolonga-se o sonho de alcançar uma produtividade média até 90 toneladas por hectare.

A lógica é verdadeira: as indústrias do setor se concentram em estados do sul do País e na região nordeste sobrevivem as artesanais. A fécula continua passeando: sai do Paraná, por exemplo, para abastecer os mercados consumidores das regiões norte e nordeste. Mais de 80 países cultivam mandioca, e oBrasil é o segundo maior produtor mundial. Apesar de sua enorme importância social, a mandioca ainda é um alimento pouco estudado. Quase toda a sua utilização está centrada na produção de farinha e fécula.

Na Câmara Setorial da Mandioca estuda-se a possibilidade de se adaptar e incentivar o uso da raiz nas fábricas de ração. Paralelamente, a Fundação Banco do Brasil está investindo em arranjos produtivos que contemplam esse e outros setores beneficiados pela pesquisa participativa. Além da ração, a fundação agora estuda o incentivo financeiro ao aproveitamento da manipueira, líquido lenhosa apurado após a prensagem da mandioca. 

 Fialho lembrou que a Embrapa Cerrados e o Cenargen estudaram as variedades e o consumo de mandioca entre os índios Kraô. Sementes retiradas há cerca de 20 anos foram conservadas em laboratórios e servem para que índios possam plantar da mesma forma que seus antepassados. Eles também recuperaram sementes cultivadas há séculos.

Segundo ele, a pesquisa participativa faz parte de um projeto nacional, por isso, a troca de experiências consiste numa prática salutar. Outra conquista são os testes de produtividade da mandiocaba (mandioca açucarada), que alcançou oito toneladas/ha no Distrito de Planaltina, no Cerrado do Distrito Federal e está prestes a ser cultivada também no sertão mineiro. A mandiocaba melhorada precisa obter 40 t/ha para competir com a cana-de-açúcar. A média nacional é de 13 t/ha.

A Fundação BB pediu à Embrapa Cerrados um levantamento real da área cultivada com mandioca. Já se constatou que a maioria dos produtores tecnificados encontram mercado no DF, embora estejam com produtividade abaixo da média. "O ideal seriam mil caixas de mandioca para mesa por hectare; cada caixa com 20 a 25", observa Fialho. (M.C.)

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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