Quarta-feira, 29 de agosto de 2007 - 12h24
A senadora Fátima Cleide (PT-RO) anuncia que uma nova auditoria nas contas do falecido Banco do Estado de Rondônia (Beron) apontará os culpados por sua falência. Quem pegou dinheiro? Quanto? Pode haver condenação judicial? Vai haver devolução do dinheiro?
Mais de mil dias depois de pôr os pés nos tapetes do Congresso Nacional, a representante de Rondônia decide — ou pelo menos ameaça — falar. Se antes não abriu a boca, certamente tem motivos, justificáveis ou não. O certo é que o eleitorado, perplexo, exige agora, de vez por todas, um pingo nos iis desse que se classifica entre os mais sórdidos escândalos da história do Estado. Moças e moços que vão se tornar eleitores brevemente precisam conhecer as razões pelas quais o principal banco do seu Estado fechou as portas. Dificilmente essa história será mostrada com detalhes na imprensa de Rondônia.
Fátima Cleide tem motivos para se empolgar e dizer detalhadamente, somente agora, o que sabe do calvário, da agonia e da morte do Beron. É que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal aprovou na semana passada um requerimento para que o Tribunal de Contas da União (TCU) faça auditoria emergencial no prazo de 90 dias para averiguar as contas do Beron e da Rondônia Crédito Imobiliário S.A (Beronpoup).
Tal auditoria, conforme o requerimento, contará com o respaldo do todo-poderoso Banco Central, que exerceu o regime especial de administração temporária sobre a falida instituição. A reboque vêm a Secretaria do Tesouro Nacional e a Procuradoria do Estado de Rondônia, órgãos detentores de todas as privilegiadas informações.
A nova auditoria chega dois meses depois de a maior parte da bancada de Rondônia, acompanhada do governador Ivo Cassol, ter visitado o Presidente Lula, no Palácio do Planalto. Lá os parlamentares choraram o fardo pesado causado pelo endividamento do Estado na questão. Na saída, tiraram fotos com o presidente.
Dona Fátima não esteve lá nesse dia. Já devia estar sabendo no que pode resultar a nova auditoria. Conjugue, então, o verbo, senadora: "Eu sei, tu sabes, nós contamos". O derradeiro parecer sobre a dívida do banco já tem sete anos e saiu do corpo técnico do próprio TCU. Só que há divergências entre alguns valores apresentados pelos parlamentares de Rondônia e documentos de diferentes fontes governamentais.
Na intrigante discussão há um fato curioso: de um lado está o líder peemedebista e relator do Orçamento Geral da União, senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e de outro o senador Aloísio Mercadante (PT-SP), cujo pai, general-de-Exército da reserva, Oswaldo Muniz Oliva, comandou o 5º Batalhão de Engenharia e Construção em Porto Velho.
Os senadores se conhecem, entretanto, os dividendos políticos de cada um apresentam pesos diferentes. É provável que Raupp, ex-governador do Estado, conheça um a um dos que golpearam o Beron. Mercadante, só de ouvir dizer, ou, talvez, de vista. Seu mundo é a Paulicéia.
Pois Mercadante, muito bem assessorado, apontou contradições entre os valores fornecidos pelo governo do Estado e a União. Esta afirma ter subsidiado o banco com R$ 430 milhões, durante o período de administração temporária pelo Banco Central. O governo rondoniense sustenta que o rombo alcançou R$ 350 milhões. Daí, a nova auditoria.
Mesmo embargando a voz diante dos microfones e câmeras de TV, mesmo derramando uma ou outra lágrima, a senadora terá que ir além da frase: "Essa dívida já foi paga pelo povo, pelos produtores rurais etc etc etc".
Fale logo, senadora! Sem subterfúgios, sem compadrismo, nem fogo de palha.
MONTEZUMA CRUZ - Agência Amazônia - montezuma@agenciaamazonia.com.br
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