Quinta-feira, 2 de outubro de 2008 - 13h11
O futebol e mandioca: como a copa de 2014 pode valorizar o pão do Brasil
O país do futebol vai receber em 2014 a Copa do Mundo e, através do esporte, outras manifestações da cultura brasileira ficarão em evidência. Afinal de contas, há muito mais para se mostrar do que belas mulatas, dribles performáticos, caipirinha e feijoada. Para além do estereótipo, o maior evento esportivo do planeta pode ser uma oportunidade de apresentar um time de comidas e ingredientes regionais que compõem a gastronomia nacional. E, como toda equipe precisa de um mascote, a brasileiríssima mandioca seria uma representante de peso da cultura nacional.
No dia 4 de novembro (domingo), o Fantástico (Rede Globo) exibiu a matéria "Como será a copa de 2014?", onde discutiu questões sobre uniforme, novidades tecnológicas, regras e tudo que poderá estar presente na competição daqui a sete anos. Um dos temas abordados pelo programa foi o mascote e, entre eles, foi apresentada a mandioca, ilustrada pelos desenhistas gêmeos Fabio Moon e Gabriel Ba. "A gente não é sempre o bonitinho, branquinho de olho azulzinho, fofinho, mas a gente tem a nossa beleza", disse Gabriel em entrevista ao Fantástico. No blog, a dupla explicou que, ao pensar em elementos bem brasileiros passaram de índios ao Saci e o Curupira até finalmente chegarem na Mandioca. O mascote se chama Aipim e foi apontado como um dos mais originais.
"Queria fugir dos clássicos segurando a bola ou com a bola no pé e foi aí que o Fábio sugeriu de fazê-lo pulando e matando a bola no peito, bem dinâmico e dramático. Ele é meio escurinho, mulatinho, pretinho, com sobrancelha grossa e alguns cabelinhos na cabeça. Feinho e meio medonho, mas carismático. E sempre com um sorriso no rosto", explica o desenhista no blog. Para eles, a experiência foi diferente do que costumam produzir profissionalmente: "É bom variar um pouco, me divertir criando um personagem novo e falar um pouco mais do Brasil e do povo brasileiro". O mascote pode até não vingar, mas a proposta dos desenhistas foi criativa e vem de encontro com a onda crescente de valorizar a mandioca, o pão do Brasil.
Brasil é o maior produtor da América
Originária da América do Sul, a mandioca (Manihot esculenta Crantz) constitui um dos principais alimentos energéticos para cerca de 500 milhões de pessoas, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde é cultivada em pequenas áreas com baixo nível tecnológico. A raiz, também conhecida como macaxeira ou aipim, é produzida em mais de 80 países e representa uma das principais explorações agrícolas do mundo com uma produção de 170 milhões de toneladas/ano, de acordo com a Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas- BA). Entre as tuberosas, perde apenas para a batata. A África é o maior produtor mundial com 53,32%, seguido pela Ásia (28,08%), Américas (18,49%) e Oceania (0,11%).
O Brasil é o maior produtor de mandioca do continente americano e participa com 15% da produção mundial. Apesar de ser bastante significativa, praticamente estagnou nos últimos anos, ora apresentando pequenos decréscimos ora apresentando pequenos acréscimos, porém, nada significativo. Na maioria dos países das Américas, o principal consumo da mandioca é sob a forma fresca, à exceção do Brasil, que apresenta a farinha de mesa o seu principal produto.
Segundo Joselito Motta, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, o Brasil está redescobrindo o tubérculo, inclusive atribui essa valorização, em parte, aos chefs de cozinha que estão "se interessando pelo seu potencial extraordinário". Joselito destaca que a mandioca faz parte do contexto histórico nacional. "Mais de quinhentos anos depois do descobrimento do Brasil, a mandioca é ainda uma riqueza muito pouco conhecida e explorada. Seus usos ainda passam a ser vistos com muita surpresa, passando por métodos rudimentares de aproveitamento a usos industriais sofisticados, ampliando a cada dia a complexidade de sua cadeia produtiva", afirma. Ele acrescenta que a primeira constituição brasileira foi da mandioca, já que só era permitido votar quem tinha alqueires de farinha.
Para o especialista, que pesquisa há mais de 25 anos sobre o tubérculo, existe um preconceito histórico porque a mandioca não chegou com os colonizadores, mas foi encontrada no Brasil, sendo utilizada pelos Índios. Ele aponta que os portugueses se encantaram com a raiz, base alimentar dos nativos. E a farinha de mandioca passou a ser utilizada nas navegações para alimentar a tripulação, já que apresentava maior durabilidade e era agradável ao paladar. A farinha daqui ia para a África e voltava no porão dos navios negreiros, e também servia de alimento para os escravos, assim como outros ciclos e desbravamentos foram feitos com este complemento alimentar. "Banana, laranja, mel de engenho faziam uma combinação muito especial com os bejus e os portugueses se admiravam disso. Pero Vaz de Caminha disse que os 'bejus são tão alvos que superam, e muito, o pão desse reino'", cita, dizendo que os três primeiros governadores do Brasil - Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá - não se alimentavam de derivados do trigo, mesmo tendo acesso. Motta afirma que se o colonizador tivesse trazido a mandioca, a postura seria diferente: "o quem vem de fora tem valor até que, quem esta de fora, diga que o que temos também tem valor. É uma postura arraigada no nosso comportamento", conclui.
No livro Farinha, Feijão e Carne Seca – Um tripé culinário no Brasil Colonial (Senac-SP), a pesquisadora Mônica Pinto fala sobre a flexibilidade do caráter do colonizador português: "Imbuídos de alta capacidade de adaptação, numa sociedade que se constituía sem nenhuma rigidez institucional e que, portanto, favorecia a possibilidade de mudança social, os colonizadores procuraram fazer deste lugar inóspito o mais conhecido possível. Esta maleabilidade verifica-se também no plano alimentar". Entre as adaptações, a autora cita o consumo de mandioca em substituição ao pão de trigo para aparar o caldo do feijão ou da verdura.
Mil e uma utilidades - No campo industrial, a mandioca já é utilizada em tintas, colas e papéis através de um processo físico de modificação da goma; alterando a cadeia molecular, os amidos modificados são inseridos em mostarda, ketchup; a fécula também é usada como espessante em pasta de dente, embutidos, sorvetes, balas, cervejas; e, mais recentemente, está sendo usada como substituto biodegradável do isopor (derivado do petróleo). Outra utilização eficiente da mandioca é na substituição parcial do trigo, que o Brasil é dependente. Por ano, o país gasta cerca de 1 bilhão de dólares com o trigo. De acordo com Motta, 10% da fécula pode ser inserida na fabricação do popular pão francês, o que representa uma economia de R$ 100 a R$ 200 milhões de dólares. Em pães doces, massas, bolachas, biscoitos, podem substituir entre 20% a 40% do trigo. A Embrapa já percorreu 19 estados brasileiros testando esta iniciativa. Está em curso na Câmara dos Deputados o projeto de lei 4679/01, de autoria do deputado federal Aldo Rebelo, que trata da obrigatoriedade do uso da mistura fécula/amido de mandioca na farinha de trigo, visando, entre outros objetivos, a redução de importações pelo Brasil. Intenso trabalho de validação da tecnologia, mostrando a viabilidade técnica da mistura mandioca/trigo, foi desenvolvido pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, da Bahia.
"O Brasil precisa descobrir isso e acreditar que essa é a agricultura que gera mais emprego, renda e conhecimento, ainda que rudimentar. É uma cultura resistente à seca, que se adapta em solos de baixa fertilidade. É o Camêlo Vegetal. A Embrapa trabalha com os agricultores disponibilizando conhecimento e articulando com outras entidades, extensão rural, ONGs e parceiras que podem emprestar sua contribuição na área de ciência e tecnologia, processamento e uso de mandioca. Acredito que esta é uma boa contribuição. A principal força de trabalho é a inteligência, revelar o potencial mais adequadamente trazendo rendimento e sustentabilidade". Quem sabe, o mascote Aipim da copa de 2014 pode ser mais um colaborador para valorizar o patrimônio alimentar do Brasil e marcar muitos gols para a gastronomia nacional.
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