Terça-feira, 10 de fevereiro de 2015 - 18h38
Montezuma Cruz
O Paraná perdeu segunda-feira o talento de Délio César, jornalista, advogado e político. Aos 75 anos, ele despediu-se também de nós, que aprendemos a admirá-lo quando esteve em Porto Velho durante a campanha eleitoral de 1986. Seu corpo foi sepultado hoje (10), no Cemitério São Pedro, em Londrina (PR), depois de velado no saguão da Câmara Municipal.
Nascido em Alegre (ES), Délio foi vice-prefeito de Londrina (PR), no período de 1983 a 1988. Vivia na região norte paranaense desde 1954. Foi diretor da sucursal do lendário jornal Última Hora, editada pelo jornalista Samuel Wainer, e fechada após o golpe militar em 1964.
Délio também trabalhou na Folha de Londrina e foi um dos fundadores do Jornal de Londrina, em 1989. Recebeu o título de cidadão honorário de Londrina na Câmara Municipal no final de 2013.
Dinossauros do jornalismo quando partem deste Planeta, levam um pouco da gente.
Délio César pautava-me na campanha de Jerônimo e Tomás. Mestre, paciente e sedutor. Empolgava-se, fitando-me os olhos ao apurar, por exemplo, o monopólio da carne bovina em Porto Velho. Criava pautas todo santo dia. Eu e o também saudoso Pedro Paulo Eleutério Barros Lima nos esforçávamos ao máximo para ter lugar cativo ao lado daquele que nos inspirava.
Délio era um homem de visão. Quantos homens de visão o jornalismo vem perdendo?
Entristecido, elevo o meu pensamento ao Pai, na certeza de que o Jornal do Céu está cada vez melhor editado.
José Oliveira Santos, o Jota, sul-mato-grossense de Arapuá, um dos meus incentivadores na profissão, conta que foi “descoberto” pelo saudoso Délio para o jornalismo. A respeito dele, escreveu este texto na internet:
“Penso em falar sobreDélio César, sepultado hoje (10/2) de manhã, no Cemitério São Pedro. Estive na Câmara, pra me despedir dele. Agora, pretendia fazer um comentário sobre sua vida exuberante em dádivas pra Londrina. Lendo o JL, vi que “Marrom” (Marcos César Gouveia) e “Padre” (Lélio César, irmão do Délio), não deixaram nada pra eu falar. Ou quase nada.
Então, fico em um tema menor: Délio e eu. No final de 1961, Délio me convidou pra fazer um teste na recém-inaugurada sucursal do jornal Última Hora. Eu já trabalhava com notícia, como redator e locutor de noticiários de rádio, mas escrever pra jornal é diferente. Passei no teste, aprendi a escrever em “jornalês”.
Em julho de 64, a sucursal precisou encerrar atividades, por causa do golpe militar – UH era acusada de ser comunista. Mas, era apenas getulista. Em 65 a Folha de S.Paulo abriu sucursal em Londrina. Daniel Martinon, que fotografou a inauguração, foi contratado como fotógrafo e me indicou pra repórter. Fui trabalhar nela.
Em 66, Délio pediu demissão da Folha de Londrina, para montar seu próprio jornal, o Diário de Londrina. Pra isso tinha um sócio, o vereador Rafael Lamastra, também radialista e jornalista. Délio me convidou pra trabalhar no seu jornal, mas o gerente da sucursal da FSP não deixou. Disse que, se fosse na Folha, jornal renomado, tudo bem. E, no dia seguinte, o gerente, Ubiratã Kuhn Pereira, disse que Walmor Macarini, diretor de Redação da FL, queria falar comigo. Fui à FL e Walmor me contratou...pra cobrir a vaga de Délio César.
Fiquei na FL 37 anos, até ser demitido há 12 anos. Quando escrevi o livro Cinquenta anos de jornalismo, impresso em 2012, Délio César foi um colaborador constante. Eu ficava em dúvida sobre um acontecimento no período, Délio me esclarecia. Essa boa vontade foi por mim explorada até que decidi deixar o amigo em paz.
Mas, o livro já estava no fim. Em nenhum momento Délio reclamou do “assédio”. E agora, Délio? Quem melhorará minhas memórias? Muito já foi dito sobre você e sua grande capacidade de trabalho e disposição pra ajudar os amigos e Londrina. Só digo mais: você foi muito importante em minha vida. Obrigado.”
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