Quinta-feira, 31 de maio de 2007 - 11h13
Euclides Maciel diz que a Bolívia liberou a caça e vende o quilo da carne desse animal a US$ 8, para europeus.
MONTEZUMA CRUZ (*)
montezuma@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA — Sobram jacarés no Lago Cuniã, município de Porto Velho, em Rondônia. Por esse motivo, o deputado Euclides Maciel (PSL) quer autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para abater exemplares acima de 1,80m de comprimento. Maciel espera contar com o apoio da maioria dos deputados.”Precisamos ser racionais”, apela. Ele acredita que uma lei poderia normatizar a caça do jacaré-açu e a sua fiscalização.
Segundo Maciel, no Departamento (Estado) do Beni, na Bolívia — fronteiriço a Rondônia —, a caça ao animal é liberada e e proporciona cerca de 20 toneladas por mês de carne. O produto é vendido para alguns países europeus a US$ 8 o quilo", informou. Na região do Beni vivem cerca de 400 mil pessoas.
A Reserva Extrativista do Lago Cuniã, com área aproximada de 55,8 milhectares, foi criada em 1999 por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de garantir a exploração auto-sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista da área.
“Comilões”
Os jacarés do lago rondoniense comem muito peixe, raciocina Maciel, sem especificar as espécies ictiológicas. “Sozinho, um jacaré come uma média de 300 quilos de peixe por mês; isso significa mais de 4 toneladas por ano”. Nessa lógica, considerando-se um grupo de cem jacarés, seriam devorados em torno de 400 toneladas de peixes por ano. “O bicho tira o sustento de centenas de famílias que sobrevivem da pesca no lago”, argumentou.
O ambientalista José Leland defende o estabelecimento de uma temporada de caça e a
criação de jacaré em cativeiro em algumas regiões da Amazônia. Segundo ele, este seria um dos meios de se controlar
a superpopulação da espécie, o que ocorre nas áreas do Médio Purus e Médio Madeira, constatada pelo Ibama. Para ele, a criação em cativeiro possibilitaria recolher os ovos existentes na natureza e levá-los para confinamento. Durante a temporada de caça ele aponta a necessidade de estudos para identificar os locais com maior população de jacarés e também o estabelecimento de regras bem definidas.
Renda e predação
Maciel justifica a sua iniciativa, fundamentado na carência de renda para a população ribeirinha e na existência de predação entre os jacarés. Segundo observou o deputado, os adultos estão comendo os jacarés menores. “Com o abate, as famílias poderiam obter uma receita razoável,e o Estado também”, disse Maciel. Lembrou ainda que o couro de jacaré vem sendo cada vez mais valorizado na confecção de bolsas, sapatos e cintos. Maciel sonha até mesmo com a instalação de um curtume na região. “É emprego na certa”, destacou.
Saiba mais
A caça ao jacaré-açu está proibida no País há 40 anos. Segundo especialistas, isso levou a uma superpopulação em algumas áreas.
Em 2006 o Ibama autorizou a liberação da captura de jacarés em trechos da Reserva de Mamirauá, a 600 quilômetros de Manaus. Ali haviam 450 jacarés-açu em cada quilômetro de rio, o que totalizaria mais de 1 milhão de animais em toda reserva.
ONGS (organizaçõesnão-governamentais) da América Latina que reúnem pesquisadores de jacarés em todo mundo concluíram, há dez anos,que a população de jacarés se encontra em perfeito estado e suporta programas de captura.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já tem orientações sobre a captura de jacarés e búfalos no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e no Vale do Guaporé, entre Mato Grosso e Rondônia. Até o ano passado, o Ibama se manifestava contrário à liberação da caça de animais silvestres.
A caça no Brasil é liberada apenas no sul do Rio Grande do Sul. Naquela região, as universidades acompanham a atividade, estipulando os períodos abertos à atividade e quais os animais que podem ser abatidos. Em geral, a liberação vale apenas para aves.
(*) Com informações do Gente de Opinião, Ibama e Embrapa.
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