Sexta-feira, 14 de abril de 2023 - 14h03
Dois bilhões de bocas e estômagos chineses são também saciados com produtos da agropecuária brasileira. Quinze anos atrás eu observei a visita de membros da Academia de Ciência Chinesa à Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF. Naquele dia, recebidos pelo pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, eles participaram da transformação da mandiocaba [mandioca doce da Amazônia] em álcool etanol. O que aconteceu de lá para cá, Castelo pode informar muito bem, pois já esteve algumas vezes na China.
A mandioca vista pelos professores de Beijing em 2009 somava uma massa degradada de 250 quilos que renderia 25 litros de etanol (C2H5OH). Castelo alertava e ensinava aos chineses: além do açúcar utilizado naturalmente na fabricação do etanol, apareceram na experiência outros açúcares que não entram na fermentação. E no fim do teste, ele agia rápido a fim de evitar a formação de aldeídeos [compostos químicos orgânicos], concentrando esforços para utilizar todo o potencial dessa variedade.
Os professores Wenquan Wang, da Academia de Ciência Chinesa para Agricultura Tropical (Catas), e Xin Chen, do Instituto Tropical de Biociência acompanharam o professor Bin Liu, PhD do Instituto de Genomas de Beijing (China) e assistente de direção daquela instituição de ensino. Ficaram felizes com a experiência.
O banco ativo de germoplasma de mandioca da Embrapa Cerrados reunia em 2009 uma coleção com quinhentas variedades de mandioca de diferentes procedências, entre as quais, a mandiocaba.
Ali eles souberam que a mandioca açucarada tem grandes vantagens, entre eles o teor de glicose. Aprenderam que os programas de melhoramento de mandioca no Brasil nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef eram orientados para produção de farinha e fécula.
No dia da experiência, divulgava-se esta estatística: a mandioca e a batata-doce rendem 4 a 6 mil litros por hectare de bioetanol, enquanto a cana de açúcar alcança 5 a 7 mil l/ha e o sorgo sacarino 3,5 a 4,5 mil l/ha.
Então, entre as nossas necessidades e a expectativa chinesa em ampliar o multiuso da mandioca havia um caminho a percorrer. As novas variedades obtidas a partir da mandioca açucarada podem diversificar o mercado de derivados da mandioca em uso comercial na atualidade. O que servia para nós e para eles naquela ocasião.
Hoje há muito mais a considerar no campo social. Prova disso é o item nº 12 do acordo com 15 firmado esta semana entre os presidentes Lula e Xi Jinping prevê a o entendimento entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil e o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China, na cooperação para o desenvolvimento social e rural e combate à fome e à pobreza.
Vi na presença chinesa em Planaltina e na presença de Castelo em visitas à China desde o governo Fernando Henrique Cardoso uma vitória dos cientistas da Embrapa [Cerrados, Recursos Genéticos e Biotecnologia-Cenargen e a Embrapa Mandioca e Fruticulturaa Tropical em Cruz das Almas, na Bahia].
Vitória, porque aprenderam conosco, e nós com eles. O governo brasileiro já dispunha com Lula e Dilma da oferta chinesa de estudos a respeito do sequenciamento de genoma de suínos, de frangos e do ser humano! Eles vinham estudando tudo isso anos a fio.
Naquela ocasião, os pesquisadores chineses informaram possuir uma coleção com aproximadamente mil acessos de mandioca. O acordo entre a Embrapa e a Academia Chinesa previa em 2009 a possibilidade de coleta e intercâmbio de material genético de acordo com a legislação dos dois países.
Wenquan Wang quis saber do então deputado Fernando Melo (PT-AC), ao qual eu assessorava naquele período, o total de área desmatada no Acre e as condições das lavouras de mandioca naquele estado amazônico. O parlamentar respondeu-lhe com alegria: “Perdemos apenas 12% de área de cobertura original. E a mandioca poderá expandir-se à vontade, sem a necessidade de novas derrubadas”
Naquela mesma ocasião, no Pará, os pesquisadores Flávio Ikeda (Emater em Abaetetuba) e Diego Aires, que em 2009 fazia mestrado, estudavam a mandioca como fornecedora de biopolímeros para produção de plástico biodegradável. Biopolímero é a macromolécula característica de seres vivos e de estrutura polimérica – proteínas e ácidos nucleicos, por exemplo.
Os chineses foram e voltaram, sem alarde, Naquele inesquecível 2009, o pesquisador Josefino Fialho lhes informava que a Embrapa Cerrados cultivava dois hectares de mandiocaba.
Embrapa e a Academia de Ciência Chinesa (Catas) assinavam um memorando visando a cooperação em melhoramento genético da mandioca. O pesquisador Eduardo Alano Vieira mostrava-lhes ainda a matéria-prima para o aumento da produtividade das variedades vermelha – rica em licopeno – e amarela, espécie com maior teor de betacaroteno.
Não sabiam o mínimo a respeito da cultura mandioqueira e seu multiuso no mundo aqueles que zombaram da ex-presidente Dilma Rousseff quando ela proferiu a frase: “Vou estudar a mandioca.”
Tampouco sabem até hoje, salvo raríssimas exceções, que a mandioca apareceu na região do Médio Madeira, desde há dez mil anos e que atualmente é cultivada em mais de 150 países. De um século para cá, Rondônia pode assim ser considerada seu berço. DNA feito pela Embrapa Biotecnologia comprova, consultem-no.
Mas insistem no deboche a quem quer estudar a raiz brasileira, o pão dos pobres.
Dilma continua estudando a mandioca, da mesma forma que podemos também estudá-la. A propósito: a ex-presidente derrubada do cargo em agosto de 2016, em meio ao regozijo de zombadores incultos que se diziam “pela Pátria, pelos filhos e pela família”, tomou posse agora na presidência do Banco dos Brics.
Trata-se do banco dos países membros dos blocos e em outras economias de mercado emergentes, além de países em desenvolvimento.
Dilma apenas iniciou um estudo. Em se tratando de mandioca há um caminho sem fim a percorrer: a raiz não se limita à produção de farinha, papel higiênico e de bombons, álcool etanol, biscoitos, beijus, a engordar bovinos com sua preciosa água, e a fabricar caixas de papelão. Ela é o maior “bombril” da face da Terra e pelo visto tem mil e uma utilidades. O maratonista Usain Bolt, o “Relâmpago”, corria desde menino alimentado pelo caldo dessa raiz.
Francamente, a falta de conhecimentos torna insuportável o convívio com pessoas que teimam não ler, não estudar, muito menos enxergar em que mundo vivemos. Sem perdão.
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