Sexta-feira, 12 de junho de 2009 - 11h20
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
BRASÍLIA – Eleito recentemente presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), o embaixador Luiz Brun de Almeida e Souza acredita numa diplomacia humanitária, de ajuda efetiva aos brasileiros que se encontram não só nos países vizinhos, mas também em outras partes do Mundo – Estados Unidos, União Européia e Japão, por exemplo. Realista, admite que "nada corre às mil maravilhas se não houver nesse setor um diálogo contínuo. "Há bons momentos, desde que se saiba agir com empatia, procurando colocar-se no lugar do outro e aceitando a sua cultura e os seus costumes, por mais estranhos e diferentes que sejam", explica.
Nascido no Rio de Janeiro, Brun estudou no Colégio Martista, Instituto La-Fayette, Faculdade Nacional de Direito e Instituto Rio Branco. Cursou a Escola Superior de Guerra. Dona Edna, a esposa, o inspira no melhor desempenho de sua missão. É uma mulher positiva, sempre presente para auxiliá-lo naquilo que precisa.
O diplomata atuou em missões brasileiras na Organização dos Estados Americanos e nas embaixadas em Moscou, Lisboa, Caracas e Costa do Marfim. Trabalhou ainda no Consulado-Geral em Frankfurt e Asunción. Sua entrevista à Agência Amazônia.
O senhor fez diplomacia na África e na América do Sul. Quais as características desse trabalho naquele continente e nos países vizinhos ao Brasil?
Sim, fui Embaixador na Costa do Marfim (Côte d' Ivoire) e Cônsul Geral em Asunción. No primeiro posto, houve as dificuldades normais de adaptação ao clima (temperatura sempre em torno de 35º C) e o risco de contrair malária, que é endêmica na região e cresce muito em virtude do aquecimento global, estimulador da proliferação dos mosquitos transmissores. No entanto, temos muitas afinidades com os países da Costa Ocidental africana, onde realizei diversos programas de TV e rádio sobre o Brasil, em francês. Tive ótima acolhida por parte dos jornalistas locais que sempre me honravam com generosos convites.
Como foi sua atuação no Paraguai?
Ali eu trabalhei muito em favor da documentação legalizadora dos chamados "brasiguaios", um problema permanente que aflige nossos compratriotas na área fronteiriça com aquele país. Também implementei um extenso programa de ajuda aos presos brasileiros na Penitenciária de Tacumbú, em Asunción. Consegui doações de agasalhos e comida por parte da comunidade afluente de alguns brasileiros domiciliados na cidade.
Em qual país teve mais obstáculos para trabalhar e em qual tudo correu às mil maravilhas, se é que isso existe em diplomacia?
A experiência mais difícil certamente foi em Moscou, quando ali servi como Secretário de Embaixada, chefiando o Setor Político. Fui responsável pela área de segurança, nos anos 70. Era o período de transição da Guerra Fria para o clima da "détente", arquitetado pelo então Secretário de Estado, Henry Kissinger, cérebro das aberturas do Presidente Nixon. Moscou, na época, fervilhava com as manobras para a captação de informações.
A KGB de então versus os serviços de inteligência ocidentais. O Brasil tinha, naqueles anos, uma postura política radicalmente anti-comunista, o que ornava mais difícil o trabalho de um diplomata brasileiro, por mais competente e habilidoso que fosse. No entanto, muito aprendi nesse cenário da bipolaridade entre a URSS e os EUA. As análises podiam ser mais simples, pró ou contra uma das superpotências. Não havia zonas cinzentas e os alinhamentos dos demais países eram fáceis de deduzir, com algumas honrosas exceções. A China começava a emergir de maneira gradual, porém determinada em defesa de seus interesses comerciais e geopolíticos. Nesse contexto, observei o Mundo sob um prisma diversificado e gratificante. O frio é que não era bom (-20ºC), com ventos que gelavam a alma.
Nada corre às "mil maravilhas" em diplomacia que é um diálogo contínuo com a incerteza vinda do interlocutor. Mas há bons momentos, desde que se saiba agir com empatia, procurando colocar-se no lugar do outro e aceitando a sua cultura e os seus costumes, por mais estranhos e diferentes que sejam.
O senhor defende para a América Latina uma democracia solidária. Em que consiste esse projeto?
Devo dizer que, no liminar do Milênio, acredito numa diplomacia humanitária, de ajuda efetiva aos brasileiros que se encontram não só nos países vizinhos, mas também em outras partes do Mundo, como Estados Unidos, União Européia e Japão.
Como vê as necessidades dos brasileiros na Bolívia, na Argentina, no Paraguai?
A necessidade a que você se refere, às vezes surge da falta de diálogo informal e amigo com as autoridades locais. Este foi no Paraguai o segredo de minhas vitórias em favor de nossos patrícios, de todas as classes sociais, sobretudo os mais carentes e desvalidos que não tem recursos para contratar advogados eficientes para defendê-los em seus legítimos direitos.
Como analisa o desempenho diplomacia no Brasil hoje? E no mundo?
A diplomacia brasileira vai muito bem e se enriquece muito com o carisma do Presidente Lula no exterior, algo inédito e que muito nos ajuda nos domínios político, comercial, cultural e turístico. As questões relativas à paz dependem muito dos líderes, dos Chefes de Estados esclarecidos e espiritualizados que não permitam o triunfo inútil dos radicais.
O senhor foi recentemente eleito presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros. O que faz essa entidade?
É verdade, assumi há dois meses a Presidência da Associação dos Diplomatas Brasileiros. Esta entidade busca defender os interesses da carreira no Brasil e no exterior. Os postos ao redor do mundo oferecem experiências positivas, mas também enormes desafios para os funcionários (diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria) que devem formar uma equipe harmônica e produtiva para o nosso País. Há questões familiares e financeiras a considerar e só uma Associação coesa pode avaliar, concentrar opiniões e agir junto à Administração e ao Congresso Nacional. Temos atualmente mais de 20 ações na Justiça para recuperar perdas salariais históricas. Celebramos convênios de interesse dos associados nas áreas médica e educacional, bem como em prol de facilidades de hospedagem em diversas capitais do País.
Até que ponto a paz soluciona tantos problemas?
O planeta não suportaria o uso de armas de destruição em massa que contaminariam o solo, o ar e as águas. Basta esta circunstância para que trabalhemos, sem cessar, por uma paz que represente a sobrevivência de toda a humanidade, já nos limites de sua evolução. Amém. Inshalá!
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