Domingo, 13 de abril de 2014 - 14h06
Montezuma: carreira marcada por histórias bem humoradas e outras tristes
EPAMINONDAS HENK
Em Brasília
Do jeito que vi(144 páginas), livro do jornalista Montezuma Cruz, começa a ser vendido pela internet. Resume a trajetória do repórter e editor, desde as Três Fronteiras ao Planalto Central, Amazônia e Maranhão.
“Comecei fazendo jornal mural na escola, depois jornais mimeografados. Aos 13 anos fui jornaleiro de meu pai, que representava O Estado de S. Paulo”, ele conta. Monte, como é conhecido, está na profissão desde 1970. Além de repórter, foi também editor de cidades, opinião e internacional. Durante muitos anos acumulou a experiência de trabalhar em sucursais, “onde se faz de tudo um pouco”.
No debate do Mercosul (inicialmente a união aduaneira entre o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), que nasceu sem moeda única, um técnico argentino teima em fazer o queijo Roquefort com leite de vaca, quando o original é com leite de cabra.
O governador de Rondônia perde o piloto para o cartel do narcotráfico e confessa o “golpe” ao diretor geral da Polícia Federal, numa sala por onde entra o repórter, ouvindo toda a conversa.
A “invasão” de migrantes do sul e sudeste do País em Machadinho do Oeste faz Rondônia alcançar o primeiro milhão de habitantes. Na divisa com Mato Grosso, perto de Cacoal, jagunços matam a tiros um jovem padre italiano que defendia indígenas e posseiros, criando comoção da Amazônia à Santa Sé, em Roma. Uma semana antes do assassinato, o repórter esteve com o padre na região do Aripuanã.
Esses e outros cenários que misturam dor e alegria são descritos pelo autor durante suas andanças. “Não há cronologia correta no livro. Selecionei alguns dos principais assuntos, de diferentes períodos, e infelizmente deixei ao largo histórias importantes que serão lembradas nos próximos dois livros, até 2015”, comenta Montezuma.
Do jeito que vi lembra um tempo em que a reportagem ganhava espaços bem mais generosos nos jornais. Repórter e editor do “Jornal dos Bairros” de O Estado do Maranhão, Monte denuncia a grilagem da Praia do Araçagi e, ao mesmo tempo, o sumiço de documentos da reforma agrária dentro do Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (Getat), assunto que rendeu algumas matérias com chamadas de primeira página no Jornal do Brasil.
Redator de cidades no Jornal de Brasília, trabalhou com um editor que vendia pães e com uma diagramadora que abastecia a redação com saborosas empadinhas. Em São Luís, o futebol com bolas de meia permeava o fechamento das edições. Na Folha de Londrina, o repórter se destacou nas sucursais de Campo Grande, Dourados Maringá e Foz do Iguaçu.
“Do jeito que vi é também um documento precioso sobre os anos do século passado, quando as pessoas tinham tempo para ler. Cabia aos jornalistas reconstruir a realidade inacessível aos demais mortais, usando equipamentos que hoje são peças de museu”, escreve o jornalista Carlos Gilberto Alves no prefácio. “Surgem nessas páginas coisas esquecidas, como o teletipo, a telefoto e até o telegrama. Um tempo em que os repórteres corriam aos aeroportos implorando para o passageiro, a aeromoça ou mesmo o comandante levarem o filme com as fotos necessárias à ilustração das matérias”.
“Um tempo em que viajar era a essência da reportagem. Tudo porque, nesse Brasil, uma simples ligação telefônica era demorada demais para a pressa do jornalismo. E, muitas vezes, os fatos aconteciam onde nem havia luz elétrica. Quanto menos telefone”, acrescenta Alves, editor do “Jornal da Manhã”, na Rádio Jovem Pan (SP).
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