Terça-feira, 17 de setembro de 2024 - 17h58
Ji-Paraná constituiu sua associação de advogados em
1978. Na história da OABRO, o atendimento à questão fundiária só veio prosperar
a partir de 1983-1984, quando o Incra entregaria mais títulos definitivos de
terras no extinto Território, trazendo para as solenidades ministros, diretores
e até o presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo. Em 2023,
o Conselho Seccional aprovou a criação da Comissão de Direito Agrário.
Para fortalecer a
atuação da OAB-RO nas questões agrárias e regularização fundiária, o Conselho
Seccional aprovou a criação da Comissão de Direito Agrário, cabendo à advogada
Luciene Cândido da Silva presidi-lo. Ela trabalhou 13 anos no Incra.
A primeira
presidente chegou ao cargo com nove anos atuação na área do Direito Agrário e
questões relacionadas à Regularização Fundiária.
“Luciene Cândido
da Silva construiu uma trajetória marcada pela dedicação e empenho na promoção
dos direitos da população rural em Rondônia. Seu conhecimento abrangente e
sensibilidade para com as questões agrárias a qualificam”, observou o
presidente da OABRO, Márcio Nogueira.
Ainda na década de 1970, a classe dos advogados e
outras classes que enfrentaram o regime ditatorial brasileiro encararam as
normas do Plano de Integração Nacional (PIN) concebido por militares.
O PIN resultou na traumática intervenção nos domínios
amazônicos, e as estradas foram uma das consequências, avançando até sobre
terras indígenas, o que acontece até hoje.
Migrantes procedentes dos estados de Mato Grosso,
Paraná e São Paulo foram obrigados a pôr a floresta abaixo, sem qualquer grau
de sustentabilidade. O Incra mandava derrubar ao menos 50% para a produção de
grãos.
O então deputado federal Jerônimo Santana (MDB) dizia
que as terras cobiçadas em Rondônia eram bem férteis, razão por que grupos
fortes procuravam o Território – “uns idôneos, outros completamente inidôneos
praticando grilagem e escandalosa especulação imobiliária em prejuízo de
milhares de seringueiros, posseiros e pioneiros.”
O vereador José Viana (MDB) e o deputado Jerônimo
Santana (MDB) demonstravam à direção do Incra que os conflitos sociais
decorriam da regularização de áreas feitas pelo critério de “tronco familiar”.
“Fizeram desta maneira mesmo em cima de projetos de assentamento promovidos
pela autarquia, ocasionando despejos chamados de ‘reassentamento’ – criticavam
em Porto Velho e Brasília.
Eles alinhavam ao governo federal outras situações
difíceis naquele período:
●
Km 426 da BR-364, no Muqui [mais de 250 famílias];
● Na colonizadora Calama S/A em Ji-Paraná, nas margens
do Rio Urupá; no Seringal 70 [mais tarde desapropriado por decreto do
presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo];
●
Em Curralinho, Nova Vida e Cajazeiras no município de
Ariquemes; em Curralinho, mais de 70 famílias foram ameaçadas de despejo. O
grupo Pantoja, que negociava com os posseiros, não queria cumprir o contrato
não reconhecido pelo Incra;
●
No Km 90, a 135 quilômetros da BR-364, naquele
município; Corumbiara [210 famílias ameaçadas de despejo];
●
Pimenta Bueno [cem famílias]; Espigão do Oeste [mais de
70 famílias]; em Espigão, por causa da violência policial contra colonos em
1975,
●
Grupos Objetivo, Lunardelli, Moisés de Freitas, entre
outros, se apossavam de áreas superiores a 30 mil hectares;
●
Conflitos nas áreas adjacentes ao Km 416 da BR-364,
promovido pelo fazendeiro José Marcolino Sobrinho. Este fora convencido pelo
Incra do seu erro: ele excedia os limites de sua área;
●
Conflito de colonos no Km 90, a 120 km da BR-364,
região de São Pedro. Ali, o fazendeiro José Maria Branco mandaria Vicente de
Souza dizer aos colonos que estava disposto “a matar gente e raspar a cabeça.”
●
Conflito de na linha 106, gleba 4-E, do Projeto
Integrado de Colonização Ouro Preto, com ameaçadas constantes de jagunços do
fazendeiro Valmar Meira e do grupo Rio Candeias; outros conflitos com Meira, no
Km 334 da BR-364;
●
Conflitos com colonos domiciliados na gleba 1-B, linha
153 do PIC Ouro Preto. Eles tiveram seus documentos apreendidos por
funcionários do Incra.
Que falta fazia um advogado! Assim se sucediam outras
situações que durante meses e anos atormentaram migrantes “rodados” em busca da
“Canaã e do Eldorado Brasileiro.”
●
Conflito em Mutum-Paraná, onde pessoas falando a língua
inglesa adquiriam imensa gleba grilada pela empresa Gainsa, e ali construíram
um campo de pouso na floresta e decidiam expulsar seringueiros e colonos.
Nunca, naquele período foram conhecidos os documentos que davam ao grupo acesso
à terra naquele distrito de Porto Velho;
●
Em Ariquemes, o Incra pagava um milhão 500 mil
cruzeiros por benfeitorias ao fazendeiro Aldé Catanhede, embora elas nunca
existissem. O advogado e deputado
Santana protestava, dizendo que o processo dessa indenização, no Fórum de Porto
Velho, continha laudos fraudados, perícias e pareceres que nunca haviam sido
feitos. “Advogados do Incra sabiam que as benfeitorias a serem pagas eram
fictícias e inexistentes.”
●
O Decreto nº 75.281/75, que declarava terras de
interesse social para desapropriação era de difícil aplicação, pois cogitava-se
deixar as terras com as mesmas pessoas, via acordos com os grupos Gainsa, Ugo
Frey [depois exportador de cacau para Alemanha], Grupo Nova Joinville, no
Seringal Cajazeiras e Alde Catanhede. “Apesar das distorções legais, alertava
Santana, pois no caso, a terra desapropriada nunca poderá retornar ao mesmo
proprietário. Depois que o Incra conseguiu aprovar um loteamento do grupo
grileiro Calama, tudo mais poderá ocorrer em matéria de grilagem em Rondônia.”
● A Fazenda Rio Branco II, de Ugo Frey, é atualmente objeto de procedimento administrativo [nº 54300.000116/2013-16]. Ela foi desapropriada em Ariquemes pela ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo a Superintendência Regional do Incra, “não foi concluído o procedimento devido a problemas orçamentários. O atual presidente do Incra, César Fernando Schiavon Aldrighi, expediu o Despacho Decisório 7285, acreditando-se que agora serão obtidos recursos.
“A Comissão se
apresenta como uma aliada poderosa para enfrentar os desafios e demandas das
comunidades agrárias, proporcionando um espaço de diálogo e construção de
soluções para as questões jurídicas do setor. É uma honra ter sido nomeada para
essa missão.”
“Entre as ações
da Comissão de Direito Agrário, Imobiliário e Prerrogativas estão: a busca por
uma advocacia agrária mais acessível, justa e efetiva para todos; é o
compromisso que norteia os trabalhos da Comissão.”
Assim,
por exemplo, a Comissão de Direito Agrário reuniu-se com o Incra para debater a
logística da entrada da equipe técnica que fará o levantamento ocupacional no
Projeto de Assentamento Florestal (PAF) Jequitibá, no município de Candeias do
Jamari.
Esse
trabalho dá sequência ao estabelecido pela 5ª Vara Federal e Agrária da Justiça
Federal. Luciene se reuniu com o superintendente do Incra, Luís Flávio Carvalho
Ribeiro, e o chefe da divisão de desenvolvimento, Claudinei Ribeiro. Também
compareceram: a equipe técnica do Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e os
presidentes das Associações do PAF Jequitibá.
A
Comissão acompanha a execução do levantamento ocupacional; participa da
organização e coordenação entre as entidades envolvidas, debate as
responsabilidades de cada uma, visando ao processo eficiente e transparente –
meta de todos os envolvidos.
Explicava
ainda a inexistência de uma propalada (pelo governo estadual) “cessão (do
verbo: ceder) de servidores ao Incra, porém, “uma colaboração mútua entre dois
entes públicos disponibilizando servidores em prol do alcance do objeto da
parceria celebrada, que foi a promoção e apoio à regularização fundiária de
imóveis rurais inseridos em glebas públicas federais e projetos de assentamento
federais no estado de Rondônia, através dos Acordos de Cooperação Técnica.”
Esse
trabalho foi realizado com o apoio de 30 colaboradores da Seagri e proporcionou
a análise e instrução de processos para a emissão de documentos titulatórios.
Reunidos
no dia 1º de abril, Incra e OABRO estabeleceram parceria em prol da agilidade
no acesso de advogados aos processos da autarquia. Segundo o superintendente
Luís Flávio, ainda em 2024 será possível digitalizar 100% dos processos.
À falta
de servidores agem conjuntamente nesse caso: a Plataforma de Governança
Territorial; parcerias com o IFRO e Secretaria de Estado de Patrimônio e
Regularização Fundiária (Sepat-RO).
O acesso
ao Sistema Eletrônico por advogados se dá pelo Processo Judicial Eletrônico,
uma sugestão do presidente da Seccional, Márcio Nogueira. Os advogados Elson
Ferreira, Luciene Cândido e Márcio Gomes se mobilizam nesse sentido, contando
ainda com o trabalho de cartógrafos, cartorários, corregedores e engenheiros.
O
superintendente apresenta uma planilha dos resultados alcançados até meados do
ano passado:
● 5.510
emissões e expedições de documentos titulatórios, provisórios e definitivos em
glebas públicas federais;
● 4.927
digitalizações, inserções e migrações de processos para o Sistema Eletrônico de
Informações;
● 830
ações para potencializar e ampliar a supervisão dos ocupantes em projetos de
assentamento e vistorias em imóveis rurais;
● 637 emissões
e expedições de documentos titulatórios, provisórios e definitivos em projetos
de assentamento.
● 479
vistorias para regularização fundiária e titulação;
● 2.845
reduções no acervo de processos de regularização fundiária e titulação
pendentes de análises;
● 61
regularizações de parcelas da reforma agrária;
● 36
capacitações e habilitações dos designados.
Em agosto
daquele ano, o repórter também questionava o possível funcionamento de um
misterioso órgão criado pelo governo estadual com aprovação da Assembleia
Legislativa: o Instituto de Terras de Rondônia (Iteron).
Sem
agenda e sem publicar os nomes de seus responsáveis, o Instituto segue
constando na página principal do portal do Governo de Rondônia. O que a
população sabe é que, desde 2014 funciona a Sepat, a quem cabe: cabe:
“administrar, fiscalizar, coordenar, executar e controlar as atividades
inerentes ao patrimônio mobiliário e imobiliário da Administração Pública
Estadual e à Regularização Fundiária Urbana e Rural.”
Se não
faz parte da pauta mínima de trabalho no âmbito governamental, possivelmente
por solicitação da OABRO, o Iteron ainda venha explicar melhor a forma como
trabalha.
____
Fotos: Assessorias de Comunicação da OAB e do Incra
Edição de vídeo: Raíssa Dourado
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