Quarta-feira, 20 de julho de 2011 - 07h38
Camponeses reagem aos ataques da Fetagro rondoniense, acusando-a, com o MST e a CPT, de negar apoio aos acampados em 1995: "O MST foi mais baixo ainda, delatando o nome de lideranças do acampamento para a polícia /DIVULGAÇÃO |
EPAMINONDAS HENK e
MONTEZUMA CRUZ
JARU E BRASÍLIA – Na defesa da posse da Fazenda Santa Elina em Corumbiara, a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e da Amazônia Ocidental (LCP) refutou nesta terça-feira (19/8) acusações feitas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (Fetagro) de que seus membros ameaçaram lideranças dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará. "É a Fetagro quem está ameaçando e intimidando as famílias, ao exigir a desocupação da área pela polícia", diz a nota distribuída pela Liga.
A Liga critica a Fetagro de pretender excluir da reforma agrária "aqueles que tiveram força e coragem de lutar por ela, cortando lotes de maneira inédita, o que nunca havia ocorrido na Amazônia Brasileira." O documento da Liga acusa a entidade de "deduragem" e de "exigir a prisão de camponeses e lideranças": "Mentem covardemente sobre a existência de camponeses armados para justificar todo tipo de repressão policial."
Lembra a LCP que um dos motivos do rompimento com o Movimento Camponês Corumbiara, liderado por Adelino Ramos – assassinado em maio deste ano – "foi a prática de ações que resultaram em banditismo, extorsão, mandonismo e todo tipo de prática mafiosa contra os trabalhadores em várias tomadas de terra e assentamentos de Rondônia." A nota acusa a Fetagro, o PT, o PCdoB e movimentos da Igreja Católica.
Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina e Liga dos Camponeses Pobres fizeram a primeira reforma agrária por conta e risco na história amazônica; na mira do Incra e da polícia, agora devolvem acusações /FREDERICO REIS |
Desde o massacre abriu-se uma luta entre dois caminhos no movimento camponês no Brasil, particularmente em Rondônia: de um lado alguns optaram pela reforma agrária governamental, classificada pela Liga de "oportunismo eleitoreiro e conciliação de classes." De outro lado, o "caminho da revolução agrária, da luta combativa contra todo tipo de oportunismo e pela destruição do latifúndio", postulado pelos camponeses.
Fetagro quer a polícia contra camponeses
No dia 16 de julho o secretario de Meio Ambiente da Fetagro, Teófilo Santana, visitou a Fazenda Maranata, uma das três partes em que foi desmembrada a Fazenda Santa Elina, onde ocorreu a chacina de nove de agosto de 1995, onde relatou "situações de ameaça a líderes de acampamentos." Atribuiu-as à LCP, dando conta que teria presenciado "homens portando armas em reuniões” e “um grupo fortemente armado que estaria na divisa da fazenda ameaçando as pessoas que encontravam pela frente”.
Em nota, a Fetagro exigiu a “desocupação da área pela policia” e “a exclusão das famílias do processo de reforma agrária”. Chega ao extremo de pedir, "com a máxima urgência", a presença da Polícia Civil e da Polícia Federal para que "desarmem acampados, a fim de evitar mais um massacre, só que dessa vez entre trabalhadores.”
A LCP lembra que no final de 2005 famílias remanescentes de Santa Elina, organizadas pelo Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, iniciaram uma campanha pela indenização das vítimas e corte da fazenda. Apoiado por entidades diversas,em 2007 o Codevise retomou a campanha com o objetivo de divulgar que, passados 12 anos as vítimas seguiam reivindicando os seus direitos.
"Em agosto de 2007 as vítimas ficaram 23 dias acampadas em Brasília. Foram várias reuniões com a Secretária Especial de Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos e Gabinete da Presidência da República,quando ficou acordada uma série de medidas, entre elas a indenização e o corte da fazenda", lembra a nota. Lamentando que numa reunião com a presença de 440 vítimas e familiares, em Rondônia, "o ministro de direitos humanos Paulo Vanucci, sem ouvir ninguém, passou por cima do que fora acordado e nomeou a Fetagro como intermediadora entre as vítimas e o governo."
Outra vez, a Liga acusa a Fetagro de haver "embolsado R$ 94 mil"para fazer o levantamento dos que teriam direito à indenização. "Até hoje não sabemos o que foi feito sobre isso".
Surge o MAP para confundir
Assembléias feitas muitas vezes sob ranchos ou à beira da estrada, decidem pela retomada de terras que mais tarde seriam cortadas pelos próprios camponeses hoje enjeitados pelo Incra /EPAMINONDAS HENK |
"Cansadas de esperar, famílias mobilizadas pelo Codevise e LCP ocupam a Fazenda Santa Elina em maio de 2008. Famílias dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará que estavam há anos em barracos de lona nas cidades de Corumbiara e Cerejeiras se juntam ao acampamento do Codevise. Alguns elementos chamados de lideranças pela Fetagro, conhecidos como Sandro Paulo, Pelé Branco, Vera e Bob, logo foram expulsos por votação da maioria, numa assembléia do acampamento em 2008. Usaram mentiras e manipulações por não aceitarem as regras discutidas e decididas coletivamente, entre as quais a proibição do uso de bebidas alcoólicas dentro do acampamento. Mesmo expulsos usaram a luta dos acampados para arrecadar recursos em proveito próprio com a população de Corumbiara e Cerejeiras.
A LCP não economiza palavras: "Esses bandidos se escondiam atrás da sigla MAP, um 'movimento' criado nos escritórios do Incra em Pimenta Bueno como forma de abocanhar recursos do governo federal, via projetinhos de reforma agrária." "Antes de serem expulsos foram usados pelo Incra, principalmente pelo superintendente Carlino Lima ( PT), para desmobilizar as famílias em 2008, fazendo promessas de terras em outras áreas e convencendo uma parte delas a retornar para os barracos de lona na cidade."
De acordo com a Liga, essa manobra teria resultado no repasse de R$ 50 mil, quatrocentas cestas básicas e lonas. "Curioso é que, ao contrário dos camponeses que foram iludidos e deixaram a área, todos esses elementos melhoraram de vida."
Os sindicatos dos trabalhadores rurais de Corumbiara e Cerejeiras também não são poupados: "Em conluio com esses bandidos, há tempos eles usam acampados como massa de manobra para seus interesses eleitoreiros e pessoais." "Funcionários do Incra de Colorado do Oeste estariam vendendo lotes antes mesmo da área da fazenda ser desapropriada", suspeita a Liga. "Essa gente já deu provas suficientes de que, para galgar os mais subalternos postos na máquina administrativa do velho Estado burguês–latifundiário lançam mão de todo tipo de intrigas, maquinações e mentiras."
Contradições, delações e coincidências
A nota aponta contraditórios: "O episódio de Santa Elina repercutiu mundialmente e teve como um dos seus mandantes o então governador Valdir Raupp (PMDB). O PT que possuía cargos no governo estadual se viu obrigado a romper a aliança com o PMDB para manter as aparências, principalmente pela forte pressão de suas bases nas áreas rurais." "Ironicamente.hoje o mesmo PT, a Fetagro e os sindicatos de trabalhadores rurais que se posicionaram contra o chamado massacre de Corumbiara estão novamente aliados com o PMDB e fazendo parte do governo estadual, chegando inclusive a fazer campanha eleitoral para Raupp e Confúcio Moura, notórios representantes dos grandes latifundiários em Rondônia."
"Diante da ocupação da fazenda em 1995 o MST, a CPT e a Fetagro foram o principal expoente do oportunismo, negando apoio aos acampados. O MST foi mais baixo ainda, delatando o nome de lideranças do acampamento para a polícia." A Liga culpa o ex-deputado Anselmo de Jesus (PT) "por ataques e falsas acusações com o claro objetivo de criminalizar a luta dos camponeses."
Lamenta ainda que durante a ocupação em 2008 os acampados sofreram ataques de bandos armados e, mesmo assim, "nunca a Fetagro ou os sindicatos exigiram que a polícia fosse desarmar esses bandos." "Também no ano passado um grupo paramilitar contratado no Mato Grosso fez a segurança da Fazenda Maranata; tampouco a Fetagro escreveu uma única linha pedindo ação das autoridades. Em julho de 2010 o Codevise e a LCP mobilizaram as famílias e retomaram a Fazenda Santa Elina. A atitude do Incra, do ex-deputado Anselmo e da Fetagro foi a mesma a de exigir o uso da polícia para desocupar a área e a prisão das lideranças."
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