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Montezuma Cruz

Em 90 minutos alcançamos o topo da pirâmide


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Em 90 minutos alcançamos o topo da pirâmide - Gente de Opinião

Pugliese (e) e Bispo (c) ouvem explicações do geólogo Adamy, que descansa na subida do morro, a 12 km de Alta Floresta do Oeste. O Condor estimula, cada vez mais, a busca da imaginária cidade do Paititi /MONTEZUMA CRUZ



 

MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

 

PIRÂMIDE DO CONDOR, Alta Floresta do Oeste (RO) – A subida a pé ao topo da Pirâmide do Condor demorou das 13h20 às 14h50. Fazia muito calor e caminhamos devagar, até porque precisávamos esperar os passos bem medidos do geólogo Amílcar Adamy, 61 anos, com o tornozelo recém-operado.

Do grupo de visitantes, as índias Valda Ajuru, Rosinha Sakariabiá e Leonice Tupari não subiram. Permaneceram na estrada de chão, a um quilômetro de distância. Grávida, Leonice não conseguiria se esforçar tanto, morro acima. Ela própria poupou-se da façanha.

A área é rica em urnas funerárias, materiais líticos e artefatos de cerâmicas. Situa-se a 12 quilômetros do Distrito de Filadélfia, no município de Alta Floresta do Oeste, na Zona da Mata rondoniense, a 541 quilômetros de Porto Velho.

Água de coco em garrafa plástica atenuou o cansaço. Por alguns minutos, o vôo das araras fez a equipe esquecer os efeitos das picadas de insetos e o espinho das tabocas. Toda área ao redor do Condor é íngreme. Vêem-se bonitos exemplares de cipós, jaborandi, cará e limãozinho do mato.

Os geoglifos Condor, Serpente e Jaguar estão nas imagens de satélite CBERS2, em fotos georreferenciadas pelo farmacêutico e bioquímico Joaquim Cunha da Silva, autor do pedido na Justiça para a criação de um sítio arqueológico na região.

A maior parte das áreas mapeadas para as próximas pesquisas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está nesta parte da Zona da Mata. Estudos feitos por Joaquim Cunha indicam que o Condor, próximo ao Rio Guaporé, pode ter sido o tipo levantamento de terra ou formação de ilha artificial que servia para residência da população Paititi (leia referências no quadro, abaixo).

Estudos feitos por Cunha, com base na cosmologia inca agora dão margem a outros, pelo Iphan. Ele descreve o alto da pirâmide, tal qual se vê numa imagem de satélite, com o verde da mata em sua plenitude: “Na imagem da cabeça, a lhama mãe está bem visível. No contorno há o capim Peabiru. Fazem parte do conjunto de geoglifos da Via Láctea a lhama mãe, que mede cerca de um quilômetro. A cabeça do Condor mede trezentos metros. Isso existe há séculos”, ele explica.
 

 

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Pirâmide na Zona da Mata desperta estudiosos, Ibama e Iphan para o resgate arqueológico, histórico e cultural da região onde há vestígios de uma civilização milenar /JOAQUIM CUNHA


 

SGB conclui potencial minero-turístico

 ALTO ALEGRE DOS PARECIS – O geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Ivan Bispo, está concluindo o levantamento do potencial minero-turístico da região de Alto Alegre dos Parecis, trabalho sob a responsabilidade dele e do geólogo Amílcar Adamy, que também integra aquele órgão desde a antiga Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais.

 

Bispo localizou sítios arqueológicos e dos matacões de granito (huacas) há tempos pesquisados por um grupo de moradores em Rolim de Moura, entre os quais o farmacêutico Joaquim Cunha e o advogado Adi Baldo. Entre os componentes da paisagem de morros, ele se entusiasmou com as escadas de pedra nas laterais da Pirâmide do Condor. São sinais de que a mão do homem construiu caminhos e acesso às alturas muito antes do surgimento do primeiro mapa amazônico.

 

Bispo retornou ao Condor, onde esteve em agosto deste ano. Visitou também a Fazenda Glowaski, rica em fragmentos arqueológicos, cujo primeiro contato com os proprietários fora feito anteriormente por Cunha, resultando numa coleção de pedras em cores e formatos variados.Assim, estão diretamente ameaçados a Pirâmide do Condor e o painel da Via Láctea, ambos em Alta Floresta do Oeste. Próximo à cabeça do geoglifo da Lhama existe um cemitério arqueológico com cerâmicas e ossadas.

 

O curral da antiga Fazenda Glovaski foi construído sobre essa área. Segundo Cunha, a descoberta fora acidental, já que o curral surgira anteriormente à descoberta do cemitério, detectado por ocasião da queda de uma árvore. Foi quando apareceram urnas funerárias.

 

Além das áreas que poderão ter geoglifos futuramente reconhecidos pelo Iphan, a exemplo do existente na rodovia BR-429, aqui há muito mais do que supõem autoridades do setor. Nas pesquisas feitas em campo e com imagens de satélite, observa-se que as formações de morros nesta região de Rondônia seguem a falha magnética do Cânion Buraco da Velha, no município de Alto Alegre dos Parecis.

 

Foi esse, por exemplo, o motivo de uma próxima viagem dos pesquisadores do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan em data a ser definida em Brasília, a partir de 2011.“Muitas dúvidas quanto à presença milenar daqueles que formariam o imaginário Paititi podem ser aos poucos desfeitas” – cometa Cunha.

 

Justifica-se a sua expectativa: os próprios agricultores notaram a existência de amostras do que seria uma grande jazida de minério de cobre e chumbo, considerados a matéria-prima necessária para o desenvolvimento de uma grande civilização. 

 

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Analistas ambientais do Ibama examinam plantas e pedras. Eles também sobrevoaram a área de helicóptero, anotando as coordenadas de localização do geoglifo /M.CRUZ

 
 

Garimpeiros tiram o sossego de sitiante


ALTO ALEGRE DOS PARECIS – O sitiante Nelson Cerri, 56 anos, seis filhos e nove netos diz que não suporta mais o “entra e sai” de garimpeiros em suas terras. Em 40 anos, desde que saiu de União da Vitória (PR), passando depois por Pimenta Bueno, não se sentia tão incomodado. Irritou-se ao ver o desembarque da equipe de arqueólogos e geólogos na porteira de entrada para a sua casa, num sítio situado no cânion Buraco da Velha.

“O senhor pode tirar o óculos, se identificar? Venha cá!”, ordena ao arqueólogo Francisco Pugliese, do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan. Pugliese, de óculos escuros, ainda não adentrara a cerca. “Aqui chega gente que eu não sei de onde saiu e o que vem fazer”, justifica. “O senhor também vai tirando o seu (óculos) para eu lhe enxergar direito!”, determina a outro pesquisador.

Cerri conta que, ao formar a propriedade, andava a pé 33 quilômetros, desde Santa Luzia, carregando o cacaio (saco) cheio, nas costas. Atualmente, acompanha algumas notícias a respeito dos veios de cobre na vizinha região de Corumbiara, esta, pesquisada por empresas do setor desde os anos 1990. O minério está por toda a parte e sua propriedade talvez seja uma das jazidas. Tanto que o sítio foi visitado sucessivas vezes, por curiosos e pesquisadores, desde o início dos anos 2000.

“Olha, aqui aparecem gente igual a vocês, mais os parentes de políticos. Garimpeiros vêm até da Bahia! Fazem buracos, catam pedras e desaparecem. Estou até aqui! (pondo as mãos no pescoço”) – reclama. Em seguida, pede o testemunho do geólogo Adamy. Da mesma forma, dirige-se ao farmacêutico Joaquim, a quem confiou algumas análises: “Você é responsável por toda pessoa que descer do seu carro para entrar aqui”. Adamy e Cunha são seus conhecidos.

Segundo Cerri, os garimpeiros já arrebentaram a cerca do pasto, causando ferimentos e morte de algumas reses enroscadas no arame farpado. A conversa se alonga, Adamy quebra o gelo e o indigenista Evandro Santiago já pode fotografar.

O fazendeiro retira as pedras guardadas no seu quarto, mostrando uma por uma aos visitantes. Menos o cobre. À vontade, fala do gado, dos açudes de peixes, do preço da terra na região, e quer saber o que lhe causará “mais essa visita”. Todos riem, ele fica sério.

 

 

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Escada de pedras numa das laterais do morro: sinal de que muitos séculos antes do boi, do cafezal e de outras lavouras, a região que mais tarde seria a Zona da Mata rondoniense já era habitada /M.CRUZ


 

 

NO GOOGLE E NO CARTÓRIO

Por acreditar que caminha no rumo certo em suas expedições, Joaquim Cunha registrou no Cartório de Imóveis de Rolim de Moura um sítio arqueológico povoado por geoglifos, escadas de pedra, pedras semi-preciosas – até um tipo de esmeralda – e restos de cerâmica indígena. Tudo isso, localizado em propriedades rurais na região da Zona da Mata.

Paititi (em castelhano, Paytiti ou Paititi) ou Candire é uma cidade lendária supostamente oculta a leste dos Andes, em alguma parte da selva tropical do sudeste do Peru (Madre de Dios), nordeste da Bolivia (Beni ou Pando) ou noroeste do Brasil (Acre, Rondônia ou Mato Grosso), capital de um reino chamado Moxos (em castelhano, Mojos) ou Grande Paitíti (Gran Paititi), governado por um soberano conhecido como Gran Moxo, descendente de um irmão mais novo de Huáscar e Atahuallpa.

Está no Google. Joaquim Cunha comparou o suposto mapa de Paititi, conservado no Museu Eclesiástico de Cuzco (Peru) com mapa que georreferenciou. Plotou imagens de satélite para fazer varredura virtual da área, por meio de dados históricos e literatura sobre a civilização Paititi. Para ele, o Geoglifo Serpente, Condor e Jaguar são evidências.

Outros nomes dados à cidade oculta em alguma parte do sul da Amazônia ou norte do Prata incluem Waipite, Mairubi, Enim, Ambaya, Telan, Yunculo, Conlara, Ruparupa, Picora, Linlín, Tierra dos Musus, Los Caracaraes, Tierra de los Chunchos, Chunguri, Zenú, Meta, Macatoa, Candiré, Niawa, Dodoiba e Supayurca.

Conhecidos exploradores que fizeram expedições em busca do Paititi: Carlos Neuenschwander Landa (Peru), médico; Juan Carlos Polentini Wester (Argentina), padre; Gregory Deyermenjian (EUA), psicólogo; Paulino Mamani (Peru), cartógrafo. Áreas exploradas, como possíveis localizações: a zona fronteiriça entre a Bolívia e o Brasil e a parte oriental do Peru, a leste do rio Vilcanota. 

O crânio, do lado boliviano que fica em Porto Rubio, no Beni, é a terra do saudoso Don David Savala Mendez, pai de Choco, Cuco, Mirian e Valentina, hermanos que o pesquisador conheceu em Porto Rolim de Moura. 

 

 

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Farmacêutico Cunha (e), sitiante Cerri (c) e geólogo Bispo examinam pedras guardadas numa propriedade muito visitada por garimpeiros e parentes de políticos /M.CRUZ



 

 

QUEM VISITOU AS ÁREAS

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Viajaram durante quatro dias por terra e ar,
na Zona da Mata e no Vale do Guaporé:

Alexandre Senra, Procurador da República em Ji-Paraná
Amilcar Adamy, do Serviço Geológico do Brasil
Anderson Peixoto, analista ambiental do Ibama
Carlos Gerrard, analista ambiental do Ibama
Evandro Santiago, indigenista que trabalhou na região nos
    anos 1980

Francisco Pugliese, do Centro Nacional de Arqueologia,
   do Iphan

Ivan Bispo, do Serviço Geológico do Brasil
Joaquim Cunha da Silva, autor do pedido de decretação
    de sítio arqueológico

José Roberto Pellini, do Instituto Gliphos de Goiânia
Marco Antonio Telles, arqueólogo do Instituto Gliphos,
    de Goiânia

Maria Leonice, indígena do Povo Tupari
Montezuma Cruz, jornalista do site Gente de Opinião/Amazônias
Rosa, indígena do Povo Sakariabiá
Valda, cacique do Povo Ajuru

 

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O cobre está oculto em terrenos vasculhados desde o início dos anos 2000. À flor da terra sobram pedras em diferentes cores e formatos /JOAQUIM CUNHA

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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