Quinta-feira, 18 de outubro de 2007 - 06h56
(Agenciaamazonia) MONTEZUMA CRUZ - (Foto: Suruís perderam terras na década de 70; conflitos teve mortos e feridos/MÁRIO FIORAVANTI). Empresa loteia até reserva indígena na Amazônia. Irmãos Melhorança invadem área dos Suruís em Rondônia. Resultado é trágico.
No ano da CPI da Terra, o Câmara dos Deputados teve que criar, também, a CPI do Índio (tema de outra matéria). Grande parte dos problemas detectados perdura até hoje. Em 1976, a empresa Plantel, de Goiânia, chegou a Cacoal para demarcar o Posto Indígena Sete de Setembro. Nessa época, os índios Suruí acordavam todo dia com o barulho de motoserras. O problema foi se repetindo, com maior freqüência. Não parava de chegar gente em Cacoal e Espigão do Oeste.
A gravidade dos conflitos não calava sindicatos e federações de trabalhadores na agricultura. Em 1975, no governo de Marques Henriques, o então secretário de Segurança Pública Arthur Carboni Filho comandou um massacre contra colonos levados para Espigão do Oeste (a 534 quilômetros de Porto Velho) pela Colonizadora Itaporanga, pertencente aos irmãos Melhorança. Sob o comando dele, policiais prenderam e torturaram.
Os jovens Cádio e Itabira lideravam grupos de Suruís que localizavam os invasores. Começava outro grave conflito, desta vez, entre índios e posseiros. Nas linhas 7, 13 e 14, armados com arcos, flechas e também com espingardas, os índios iniciaram a resistência à ocupação da reserva. Houve mortos de ambos os lados.
Os homens da Plantel trabalhavam inseguros. Acuado, o chefe do PI, Francisco Silva, denunciou sucessivas vezes a situação, por rádio, à sede da Funai, em Brasília. Os sertanistas Apoena Meireles, José do Carmo Santana, Zé Bel, e Aimoré Cunha Santiago, não viam outra solução a não ser pedir a presença do Exército, valendo-se do Estatuto do Índio. Alguns dirigentes da Funai foram a Rondônia, ver de perto da confusão causada pela colonizadora e por outros invasores.
Os Melhorança demarcavam lotes de 2 mil ha para vendê-los a fazendeiros de São Paulo e Mato Grosso. E ainda se queixavam de que o Incra pretendia reduzir os lotes para 100 ha. Quando ocorreu a intervenção federal a situação era irreversível, já que a colonizadora vendera um imenso latifúndio de 2 milhões de ha, incluindo áreas do PI Sete de Setembro, que no papel pertenciam por direito imemorável ao povo Suruí.
Revoltados, os colonos procuraram impedir a passagem de funcionários da Secretaria de Agricultura e do Incra, quando eles iriam cortar as terras em módulos de 42 alqueires. Inexplicavelmente, as famílias escorraçadas de seus lotes foram substituídas por outras, escolhidas a dedo pelo coordenador regional do Incra, capitão de Exército Sílvio Gonçalves de Faria.
Tantos desmandos espantaram o próprio partido de sustentação do regime militar. Coube ao Diretório Regional da Aliança Renovadora Nacional (Arena) insurgir-se contra as arbitrariedades, divulgando nota oficial assinada por seu presidente, Cezar Zoghbi. Com o respaldo do advogado e, na década de 80, senador da República, Odacir Soares Rodrigues (Arena-RO).
O problema fundiário na Amazônia passava a ser também um problema da Igreja Católica, defendia em 1978 o então coordenador da Comissão Pastoral da Terra, Sílvio Birollo. Tempo em que os posseiros eram “vozes sem voz”.
NOTA
A CPI do Sistema Fundiário em 1977 teve 63 audiências públicas e igual número de depoimentos de religiosos, empresários, sociólogos, advogados, técnicos e de dois jornalistas. Na defesa dos posseiros atuavam a Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Fonte: MONTEZUMA CRUZ - montezuma@agenciaamazonia.com.br - A agenciaamazonia é parceira do Gentedeopinião.
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