BRASÍLIA – Pouco lembrado, o Dia Nacional das Comunicações comemorado nesta segunda-feira é a data do nascimento do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, um mato-grossense destemido que ensinou alguns índios Nhambikwara a operar o telégrafo. Reconhecido no mundo, é o patrono das comunicações no Brasil e seu nome foi dado ao antigo Território Federal de Rondônia (ex-Guaporé), depois Estado de Rondônia. Sua visão humanista possibilitou que as missões de desbravamentos e construções fossem feitas em paz.
O Dia Nacional das Comunicações foi decretado em abril de 1971. Nenhuma notícia apareceu no portal do Senado na Internet, nem nos portais da Câmara dos Deputados, do Superior Tribunal Federal ou da Agência Brasil (do Governo Federal) a respeito dele e de parte da história amazônica que ajudou a construir. Seções de efemérides nos portais noticiosos de São Paulo também passam ao largo daquele 5 de maio de 1865. O site do Exército Brasileiro foi a exceção, lembrando a data.
Rondon fundou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que antecedeu à Fundação Nacional do Índio (Funai). Em Mato Grosso e Rondônia ele contactou os índios Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Boca Negra, Pacaás-Nova, Macuporé, Guaraya e Macurape. Na Amazônia, protagonizou sua grande obra de militar, estudioso, sertanista e grande ser humano – suficientes para um bom registro em qualquer tribuna.
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O Exército lembrou Rondon, hoje, em seu site /CECOMSEX |
História a ser escrita
"Morrer se preciso for; matar, nunca". É dele essa frase histórica. Até a tarde de hoje, um dos mais ilustres brasileiros de todos os tempos perdeu ponto para notícias sobre o imposto único para sacoleiros; o parecer do senador César Borges sobre o Conselho de Ética; CPI Mista dos Cartões Corporativos; dificuldades do País em conter o desmatamento; anistia de servidores; ministro de Saúde participa de nova reunião sobre a dengue no País. E até para o anúncio de uma audiência pública, dia oito, que vai debater o desempenho do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações e do Conselho de Comunicação Social.
O mea culpa mais precioso e realista em relação ao desbravador é do site Ronet, de Porto Velho (RO), no qual se diz: "Ainda não se escreveu a biografia que a rica vida do Marechal Rondon merece. O sonho de ver o País exibindo ares do chamado primeiro mundo parece fazer com que aqui só se percebam o valor dos brasileiros responsáveis pelos processos de industrialização".
Encerrou suas missões quase cego
BRASÍLIA – Rondon nasceu em Mimoso, nas bordas do Pantanal, em 5 de maio de 1865 e viveu com os avós até os sete, quando mudou-se para Cuiabá. Foi órfão desde os dois anos. Morou com um tio e iniciou seus estudos. Aos 16 anos foi diplomado professor primário (Ensino Fundamental) pelo Liceu Cuiabano. Ingressou na carreira militar no posto de soldado do 3º Regimento de Artilharia a Cavalo. Pouco depois mudou-se para o Rio de Janeiro onde, em 1883, matriculou-se na Escola Militar.
Em 1890, recebeu o diploma de bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais da Escola Superior de Guerra do Brasil. Ainda estudante, teve participação nos movimentos abolicionista e republicano. Formado, foi nomeado professor de Astronomia e Mecânica da Escola Militar, cargo do qual afastou-se em 1892. Ainda em 1892, em 1º de fevereiro, casou-se com D. Francisca Xavier, com quem teve sete filhos, e foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso. Foi então designado para a Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás.
Alguns fatos de sua carreira, mencionados por historiadores de Mato Grosso, Rondônia e Rio de Janeiro:
■Entre 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e o Araguaia, e uma estrada de Cuiabá a Goiás.
■ Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras de Paraguai e Bolívia.
■ Em 1906 encontrou as ruínas do Real Forte do Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia.
■ Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915.
■ Assim, simultâneamente, já que a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré deu-se entre 1907 e 1912, aconteciam dois dos fatos mais importantes para o conhecimento e ocupação econômica do espaço físico que à época era parte do Mato Grosso, e hoje constitui o estado de Rondônia. A EFMM no sentido leste-oeste, e a linha do telégrafo no sentido sul-norte. Qual o feito mais grandioso?, pergunta-se.
■ Os trabalhos exploratórios da Comissão Rondon, quando foram estudados e registrados fatos novos nos ramos da geografia, biologia (fauna e flora) e antropologia, na região então desconhecida, dividiram-se em tres expedições: a 1ª, entre setembro e novembro de 1907, reconheceu 1.781 quilômetros entre Cuiabá e o rio Juruena. A 2ª expedição, em 1908, foi a mais numerosa, envolvendo 127 membros e encerrou-se às margens de um rio denominado 12 de Outubro (data de encerramento da expedição). Reconheceu 1.653 km entre o rio Juruena e a Serra do Norte. A 3ª, com 42 homens, foi feita de maio a dezembro de 1909, vindo da serra do Norte ao Rio Madeira, que alcançou em 25 de dezembro, atravessando toda a atual Rondônia.
■ Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios, criado em 7 de setembro de 1910.
■ Em 12 de outubro de 1911 inaugurou a estação telegráfica de Vilhena, na divisa dos atuais estados de Mato Grosso e Rondônia.
■ Em 13 de junho de 1912 inaugurou nova estação telegráfica, a 80 Km de Vilhena, que recebeu seu nome.
■ De maio de 1913 a maio de 1914 participou da denominada Expedição Roosevelt-Rondon, junto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt.
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Poste da linha telegráfica resiste desde o século passado em Rondônia /MONGUE |
■ Durante o ano de 1914 a Comissão Rondon construiu em apenas oito meses, no espaço físico de Rondônia, 372 km de linhas e cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena (mais tarde Vila de Rondônia, atualmente Ji Paraná), Jaru e Ariquemes (a 200km de Porto Velho).
■ Em 1º de janeiro de 1915 inaugurou a Estação Telegráfica de Santo Antonio do Madeira, concluindo a gigantesca missão que lhe fora conferida.
■ Já General de Brigada, em 20 de setembro de 1919, foi nomeado diretor de Engenharia do Exército, cargo que ocupou até 1924.
■ Em 1930 foi preso no Rio Grande do Sul pelos revolucionários que destituíram Washington Luís e levaram Getúlio Vargas ao poder. Pediu reforma do exército.
■ Entre julho de 1934 e julho de 1938 presidiu missão diplomática que lhe fora confiada pelo Governo do Brasil, mediando e arbitrando o conflito entre o Peru e a Colômbia pela posse porto de Letícia. Ao encerrar sua missão, estabeleceu um acordo de paz. Estava quase cego.
■ Em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional.
■ Homenageando o velho Marechal, em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia.
■ Em 1957 foi indicado para o prêmio Nobel da Paz, pelo Explorer's Club, de New York.Morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamzônia é parceira do Gentedeopinião.
Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)