Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Estadão esquece que cobriu o contato dos Münkü


Estadão esquece que  cobriu o contato dos Münkü  - Gente de Opinião
Thomaz (2º da esq. para a dir.) entre os münkü, nos primeiros meses do contato /OPAN



MONTEZUMA CRUZ
AGÊNCIA AMAZÔNIA


BRASÍLIA – Talvez a falta de editores que conservavam a memória viva do jornal possa ter levado O Estado de S.Paulo a se esquecer das suas próprias reportagens. O editorial "Advertência do cacique caiapó", na edição de sexta-feira passada, 30 de maio, menciona o protesto indígena em Cuiabá, argumentando que "pouco se falava" das etnias irantxe e mynky. Se consultasse arquivos da casa iria constatar que os münkü – e não mynky – habitavam o Vale do Rio Juruena, próximo à barra do Rio Papagaio, na altura do Paralelo 12. Usavam machados de pedra quando foram respeitosamente contatados em 1971 na Amazônia Mato-Grossense pelo sacerdote jeuíta Thomaz de Aquino Lisbôa.

Ao mesmo tempo, se surpreenderia ao constatar que na manhã do dia 7 de maio de 1974 lá estava entre os münkü o jornalista Mário Chimanovitch, na época correspondente em Cuiabá. No dia seguinte, o Estadão trouxe a primeira de uma série de denúncias sobre o ato de violência do fazendeiro Mauro Tenuta contra a demarcação do território indígena. 

Então, o "pouco se falava" do texto provavelmente retrate o limitado mundo paulistano do editorialista que nunca pisara o nortão de Mato Grosso, tampouco conhecera quem trabalhou para o centenário jornal na época em que Raul Martins Bastos chefiava o Departamento de Produção, junto com Ademar Orichio, Moacir Carmo, Ariovaldo Bonas e equipe. Isso foi nos anos 70! poderia redarguir. Mas a história do jornal é eterna e por obrigação profissional e respeito aos leitores ele deve conhecê-la. Obrigatoriamente, também deve se lembrar das noções elementares de história e geografia aprendida nos bancos escolares. 

A missão dos jesuítas começou juntamente com a Prelazia de Diamantino, em 29 de março de 1929. Em 1979, oito anos após o contato, Thomaz de Aquino lembrava que a mentalidade tradicional da Missão Jesuíta era "amansar" os índios "bravios" e "ferozes", "civilizá-los" e "cristianizá-los", fundando um posto missionário entre eles e levando as crianças a passar pelo internato no posto central de Utiariti, no Rio Papagaio. 

Valorização do homem índio 

Estadão esquece que  cobriu o contato dos Münkü  - Gente de Opinião
Trabalho jesuíta teve fases distintas e valorizou o índio /OPAN

Em 1969, a Missão já contava com duas "pacificações": a dos índios Kayabi, do Rio Tatuí (Anônimo, 1959), e a dos índios Rikbátsa (João Evangelista Dornstauder, 1955). Mal terminara essas "pacificações", Utiariti recebeu crianças desses dois povos indígenas. O posto missionário Tatuí funcionava para os Kayabi, e o posto missionário Barranco Vermelho para os índios Rikbaktsa, no Rio Juruena.

Anteriormente, conforme relatou o sacerdote, houve duas tentativas de "pacificar" os índios então desconhecidos do Paralelo 12: uma em 1960, outra 1961, iniciadas sem êxito pela Missão. Nem encontraram as aldeias. Ainda o relato de Thomaz de Aquino: "A partir de 1964, a Missão experimentava uma mudança de mentalidade: os missionários recém-chegados traziam agora princípios de antropologia e na formação, a influência decisiva do Concílio Vaticano II, e se esformam por mudar as bases missionárias tradicionais, visando a uma valorização decidida da vida indígena, do homem índio".

Em meados da década de 1970, os padres Adalberto Holanda Pereira e Antônio Iasi Júnior (fundador do Conselho Indigenista Missionário), Ivar Luís Busatto, Aldir Mariano da Costa, Irmão Vicente Cañas colaboraram decisivamente no contato e na demarcação das terras dos índios münkü e salumã. Para contribuir com a memória dos editorialistas do Estadão, acrescento que Oscar Ramos Gaspar, outro correspondente do jornal, também escreveu matérias a respeito dos münkü, salumãs e rikbátsas. 

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

O cidadão Samuel Sales Saraiva propôs nesta quarta-feira ao presidente dos Estados Unidos, estudos técnicos legislativos ou medidas executivas feder

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

Quando o nível do rio permitia, o transbordo obedecia à correnteza nas cachoeiras Jirau, Ribeirão e Teotônio, no Rio Madeira. Santo Antônio, via circu

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Em carta enviada ao Presidente Donald Trump, com cópia para a direção da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE), o cidadão americano Samuel Saraiva

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Jornalista mais premiado da história na Região Norte, de acordo com o Ranking + Premiados da Imprensa Brasileira 2024, Lúcio Flávio Pinto acaba de lan

Gente de Opinião Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)