Quarta-feira, 4 de junho de 2008 - 09h24
Thomaz (2º da esq. para a dir.) entre os münkü, nos primeiros meses do contato /OPAN |
MONTEZUMA CRUZ
AGÊNCIA AMAZÔNIA
BRASÍLIA – Talvez a falta de editores que conservavam a memória viva do jornal possa ter levado O Estado de S.Paulo a se esquecer das suas próprias reportagens. O editorial "Advertência do cacique caiapó", na edição de sexta-feira passada, 30 de maio, menciona o protesto indígena em Cuiabá, argumentando que "pouco se falava" das etnias irantxe e mynky. Se consultasse arquivos da casa iria constatar que os münkü – e não mynky – habitavam o Vale do Rio Juruena, próximo à barra do Rio Papagaio, na altura do Paralelo 12. Usavam machados de pedra quando foram respeitosamente contatados em 1971 na Amazônia Mato-Grossense pelo sacerdote jeuíta Thomaz de Aquino Lisbôa.
Ao mesmo tempo, se surpreenderia ao constatar que na manhã do dia 7 de maio de 1974 lá estava entre os münkü o jornalista Mário Chimanovitch, na época correspondente em Cuiabá. No dia seguinte, o Estadão trouxe a primeira de uma série de denúncias sobre o ato de violência do fazendeiro Mauro Tenuta contra a demarcação do território indígena.
Então, o "pouco se falava" do texto provavelmente retrate o limitado mundo paulistano do editorialista que nunca pisara o nortão de Mato Grosso, tampouco conhecera quem trabalhou para o centenário jornal na época em que Raul Martins Bastos chefiava o Departamento de Produção, junto com Ademar Orichio, Moacir Carmo, Ariovaldo Bonas e equipe. Isso foi nos anos 70! poderia redarguir. Mas a história do jornal é eterna e por obrigação profissional e respeito aos leitores ele deve conhecê-la. Obrigatoriamente, também deve se lembrar das noções elementares de história e geografia aprendida nos bancos escolares.
A missão dos jesuítas começou juntamente com a Prelazia de Diamantino, em 29 de março de 1929. Em 1979, oito anos após o contato, Thomaz de Aquino lembrava que a mentalidade tradicional da Missão Jesuíta era "amansar" os índios "bravios" e "ferozes", "civilizá-los" e "cristianizá-los", fundando um posto missionário entre eles e levando as crianças a passar pelo internato no posto central de Utiariti, no Rio Papagaio.
Valorização do homem índio
Trabalho jesuíta teve fases distintas e valorizou o índio /OPAN |
Em 1969, a Missão já contava com duas "pacificações": a dos índios Kayabi, do Rio Tatuí (Anônimo, 1959), e a dos índios Rikbátsa (João Evangelista Dornstauder, 1955). Mal terminara essas "pacificações", Utiariti recebeu crianças desses dois povos indígenas. O posto missionário Tatuí funcionava para os Kayabi, e o posto missionário Barranco Vermelho para os índios Rikbaktsa, no Rio Juruena.
Anteriormente, conforme relatou o sacerdote, houve duas tentativas de "pacificar" os índios então desconhecidos do Paralelo 12: uma em 1960, outra 1961, iniciadas sem êxito pela Missão. Nem encontraram as aldeias. Ainda o relato de Thomaz de Aquino: "A partir de 1964, a Missão experimentava uma mudança de mentalidade: os missionários recém-chegados traziam agora princípios de antropologia e na formação, a influência decisiva do Concílio Vaticano II, e se esformam por mudar as bases missionárias tradicionais, visando a uma valorização decidida da vida indígena, do homem índio".
Em meados da década de 1970, os padres Adalberto Holanda Pereira e Antônio Iasi Júnior (fundador do Conselho Indigenista Missionário), Ivar Luís Busatto, Aldir Mariano da Costa, Irmão Vicente Cañas colaboraram decisivamente no contato e na demarcação das terras dos índios münkü e salumã. Para contribuir com a memória dos editorialistas do Estadão, acrescento que Oscar Ramos Gaspar, outro correspondente do jornal, também escreveu matérias a respeito dos münkü, salumãs e rikbátsas.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
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