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Montezuma Cruz

Evo Morales pede votos este mês na Amazônia Boliviana


  
Presidente visita a região vizinha ao Acre e a Rondônia, de olho nos votos de indígenas e fronteiriços, “Bolívia não é mais a África da América do Sul”, afirma líder aymara que nos anos 1970 teve que mudar de nome para poder dar aula numa escola particular de La Paz. 


XICO NERY
Agência Amazônia

RIBERALTA, Amazônia Boliviana – O presidente Evo Morales retornará no próximo dia 28 ao Departamento (estado) de Beni, na Amazônia Boliviana, próximo aos estados de Rondônia e do Acre. Vai fazer campanha para as eleições de seis de dezembro naquele país. Ou seja, para a sua reeleição. Quer eleger a maioria de senadores. Na semana passada, ele falou em “consciência social” e “vontade política para impulsionar programas que beneficiam a toda a população”, ao participar da inauguração de uma fábrica de têxteis em Riberalta. 

Com 78 mil habitantes, Riberalta é a segunda cidade do Departamento (estado) do Beni, para inaugurar uma fábrica de têxteis. “É a única via para o avanço na recuperação dos recursos naturais”, ele disse. 

Morales elogiou os produtos da planta-piloto, que deverão ser exportados nos próximos três meses, inicialmente para a Venezuela e, em seguida, para outros mercados. Mesmo assim, ele defendeu a abertura de novos espaços para as exportações bolivianas, o que permitirá criar muitos empregos. 

Em nenhum lugar o poder indígena é mais evidente do que na Bolívia, que elegeu o seu primeiro presidente indígena, Evo Morales, em dezembro de 2005. Morales dissolveu o Ministério de Assuntos Indígenas e Povos Originários, chamando-o de racista, em um país onde mais de três em cada cinco habitantes são aborígenes. 

Constituição plurinacional, direito e pressão 

Desde a aprovação de uma Constituição que cria um Estado "plurinacional" e concede status soberanos aos nativos da Bolívia, a situação vem mudando a cada mês no país vizinho. Autoridades brasileiras perceberam isso após a iminente “expulsão” de famílias de agricultores, castanheiros e seringueiros brasileiros que há anos ocupam a faixa de 50 quilômetros de fronteira entre o estado de Pando e o estado brasileiro do Acre. 

Em depoimento ao site “Biodiversidade na América Latina e no Caribe” (de conteúdo livre), o indígena aymara Waskar Ari lança o desafio: "Não há como voltar para o passado". Ele próprio se viu obrigado a mudar seu nome para Juan na década de 1970, para que pudesse ser aceito como professor do Ensino Médio em uma escola particular de La Paz. 

Evo Morales pede votos este mês na Amazônia Boliviana  - Gente de Opinião

Uma "nova" Bolívia surge com a força de investimentos e o apoio constitucional à pobreza /MONTEZUMA CRUZ



Waskar Ari atualmente leciona na Universidade do Nebraska, nos Estados Unidos, e compara o "renascimento" de seu país com o abandono do apartheid em outro continente, há duas décadas. "Finalmente, a Bolívia não é mais a África do Sul da América Latina", comenta. 

Juros baixos no Banco do Povo 

Na rápida visita a Riberalta, Morales recordou outras iniciativas para estimular a produção, entre as quais, a criação do Banco de Desenvolvimento Produtivo (BDP), cuja principal função será aprovar créditos a favor de pequenos empresários. Esses créditos são inferiores aos praticados pelo modo tradicional, com taxas de 36 e 20 por cento. Serão cobrados seis por cento anuais. 

Com autoridade, o presidente lembrou que o banco tradicional dificilmente concedia créditos para a produção, pois concentrava seus investimentos no comércio. Morales ressaltou a necessidade de as associações ou pessoas que buscarem crédito no BDP pagarem seus compromissos em tempo hábil, para que esse mesmo dinheiro circule e beneficie outros grupos. 

“A Bolívia é uma nação com suficiente capacidade financeira para adquirir crédito de diversas instituições que possam impulsionar o seu desenvolvimento”, disse o presidente. Morales explicou que o governo não desestimula investimentos estrangeiros. “Ao contrário, abre-lhes possibilidades de ingressar no país, desde que se sujeitem às normas nacionais”, justificou. 


“Cholitas” agora ocupam seu espaço
e a Bolívia acumula US$ 10 bilhões

MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br  

Evo Morales pede votos este mês na Amazônia Boliviana  - Gente de Opinião

Cholitas: das coloridas páginas de revistas para o espaço que há tempos esperavam conquistar. Conseguiram/RUXANDRAGUIDI

BRASÍLIA – Reportagem desta Agência Amazônia mostrou recentemente que os indígenas Collas estão ampliando o seu poder na fronteira boliviana com o Brasil, perto de Riberalta. Modelos antigos de governo aborígene, justiça comunitária e mesmo cura tradicional estão agora legalmente em equilíbrio com a lei e a ciência modernas, lembra Waskar Ari. 

Ele disse que, na capital, La Paz, as "cholitas" – índias com chapéus tradicionais e mantos bordados – agora apresentam regularmente telejornais. Concursos de beleza como o "Miss Cholita" estão em voga, e as estrelas nativas do hip-hop exibem-se nas danceterias.

Morales, um ex-produtor de coca aymara, que conheceu a fome quando criança, costuma almoçar periodicamente com os guardas palacianos mais baixos na hierarquia. É o comandante de uma nação que se volta para valorizar os pobres. Com essa e outras atitudes, ele assegura que os lucros da extração de gás natural e de minérios sejam distribuídas igualmente e que a água – cuja privatização na cidade de Cochabamba causou uma revolta no ano 2000 – nunca mais seja privatizada. Ele também está pressionando para tornar os serviços de energia públicos. 

Seu governo ainda enfrenta ainda restrições no Congresso Brasileiro: na semana passada, por exemplo, em discurso no qual denunciou “roubo de bilhões de dólares” em grandes obras administradas pela Petrobras, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse ter visto crime de responsabilidade na venda de refinados para o governo boliviano “por preço inferior ao valor de mercado”. 

Mas o senador boliviano Andrés Gusmán (MAS), em visita ao Brasil, defende a integração latino-americana e o “irmanamento entre o Brasil e a Bolívia”. Tradução: propôs a junção de forças e experiências do seu partido com o PCdoB e o PT. Perguntado a respeito do cenário político na Bolívia a menos de um mês das eleições, elogiou Morales: “Ele representa a vontade popular, um homem pré-destinado a retomar o destino da Bolívia”. 

Refundação 

Gusmán atribui a governos neoliberais “o atraso boliviano por mais de 50 anos em seu desenvolvimento”. “A Bolívia está cansada disso e levou Evo Morales a esse destino. Estamos absolutamente confiantes de que, com essa refundação do país, tenhamos um horizonte muito melhor. Nos últimos quatro anos, temos dados que a Bolívia nunca possuiu. Hoje temos reservas no Banco Central que superam 10 bilhões de dólares – fruto das medidas que Evo implementou”. 

O senador disse em entrevista que, antes, os presidentes “chegavam ao fim do ano com uma canequinha na mão e iam pedir dinheiro emprestado para inaugurar o novo ano legislativo na Bolívia”. 

E desabafou: “A Bolívia sempre foi um país rico. Mas os recursos ficavam nas mãos de meia-dúzia de cidadãos que levaram o país à bancarrota. Hoje, pela primeira vez, um presidente faz a distribuição dessa renda para as maiorias postergadas. Portanto, a Bolívia, dia 6 de dezembro, volta às urnas e não temos dúvida de que irá reeleger (Morales) de maneira massiva, batendo recordes históricos de votação. Nas últimas pesquisas, o presidente supera os 69%”. 

LEIA MAIS
Collas ampliam poder na Amazônia Boliviana

Fonte: Montezuma Cruz - A Agência Amazônia  é parceira do Gentedeopinião  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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