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Montezuma Cruz

Expedição de Carlos Chagas na Amazônia completa 95 anos


A malária constatada pelo cientista em 1913 vai fazer vítimas até 2010, prevê a Vigilância Sanitária.

MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br

BRASÍLIA – A expedição do cientista Carlos Chagas pelos rios Negro e Branco, no Amazonas, completou 95 anos este mês. O Rio Negro, que passa por São Gabriel, é conhecido por suas pequenas cachoeiras, daí o nome da cidade. A comissão chefiada pelo médico sanitarista partiu de Manaus para o Rio Negro às 9h do dia seis de fevereiro de 1913, a bordo de um pequeno vapor. Além de Chagas, do Instituto Oswaldo Cruz, integravam a comissão João Pedro de Albuquerque, da Diretoria Geral de Saúde Pública, e Pacheco Leão, da Escola de Medicina do Rio de Janeiro. 

Quase um século depois, a malária se urbanizou em municípios amazônicos. São Gabriel, a 1.062 quilômetros de Manaus por via fluvial, era apenas uma "villa em abandono" no relato de Chagas, em 1913. Com 109,1 mil quilômetros quadrados de área e 34 mil habitantes, 85% indígenas, a cidade recebe um grande fluxo migratório do interior. Há 12 anos, o médico sanitarista Luciano Toledo, da Escola Nacional de Saúde Pública (da Fundação Oswaldo Cruz-Fiocruz), avaliou que 60% dos casos de malária ocorriam na zona urbana do município, cujos bairros cresceram desordenamente. Em Boa Esperança, por exemplo, 77% dos moradores haviam contraído a doença. O que viu, conforme relatou na época, "vale por um mestrado em medicina social".

40 municípios afetados

O que mudou desde os tempos em que o corajoso sanitarista pisou na Amazônia? Pouca coisa. Em 2007, o Governo do Amazonas anunciou que pretende reduzir os casos de malária em mais de 70% até 2010. No entanto, até lá a doença, mesmo caindo, ainda fará 58 mil vítimas, conforme prevê a Vigilância Sanitária Estadual, que transmitiu os dados para a Fundação Nacional de Saúde. 

No discurso, o governo fala em "ações com novas ferramentas". A exemplo do Vale do Juruá, no Acre, a Saúde Estadual distribuirá mosquiteiros impregnados com inseticida. Com isso, espera diminuir o risco de transmissão nos 62 municípios do Estado. O conjunto de estratégias para combater a doença chama-se Operação Impacto para Controle da Malária e o seu custo total deve ultrapassar. R$ 270 milhões. 

Para o diretor presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Evandro Melo, as ações alcançarão principalmente os 40 municípios com maior incidência da malária. Juntos, eles respondem por 94% do total de casos registrados no Amazonas. Nesse grupo estão incluídos aqueles com maior número de casos do tipo falciparum (que determina formas mais graves da doença); os que registram altos índices de malária na área urbana, em assentamentos e em áreas indígenas; e, ainda, os que se localizam na área do Gasoduto Coari-Manaus. 

A operação prevê a redução gradativa do número de casos que, em 2007, passou de 216 mil no estado. Para este ano, prevê-se até 140 mil casos; e em 2009, até 84 mil. Em 2010, a malária deve cair para até 58 mil casos. 

Doença de ontem, doença de hoje

BRASÍLIA – Na época da expedição de Chagas, a capital brasileira funcionava no Rio de Janeiro. Quase um século depois, o percurso feito pelo médico sanitarista continua carente de melhor atendimento de saúde. Em seu relatório de viagem (na grafia da época), Chagas falou de São Gabriel: "O rio em frente a villa é muito estreito e encachoeirado, sendo esta uma das suas passagens mais difficeis, mesmo para canôas e sendo ahi o logar onde occorrem mais frequentemente desastres". 

A respeito das doenças, o cientista afirmou:"No Rio Negro, o indice endemico de impaludismo é elevadíssimo, havendo aqui a aggravante da ausencia absoluta de assistencia medica".

MALÁRIA – Também chamada de paludismo ou impaludismo (do latim palus, pântano), é uma infecção provocada por um minúsculo animal parasita (protozoário), transmitida por mosquitos do gênero anopheles. Os sintomas mais comuns são febre, dor de cabeça, tremores no corpo e anemia. Na Amazônia, a modalidade mais encontrada da doença é a vivax. A mais perigosa, porém, é a falciparum ou terçã maligna, que pode atingir o cérebro e os rins e levar ao estado de coma e à morte rápida.

ANOPHELES — Gênero de mosquito que transmite a malária. O mosquito suga o sangue de uma pessoa infectada e transmite a doença a outras pessoas, por meio da picada. Os insetos se multiplicam em locais com água fresca estagnada, nos quais põem seus ovos e suas larvas se desenvolvem. Os mosquitos atacam mais ao anoitecer.

ONDE ATACA NO AMAZONAS – Alvarães, Anamã, Anori, Apuí, Autazes, Atalaia do Norte, Barcelos, Benjamin Constant, Boca do Acre, Borba, Caapiranga, Canutama, Carauari, Careiro, Coari, Codajás, Guajará, Humaitá, Iranduba, Itacoatiara, Itamarati, Jutaí, Lábrea, Manaus, Mancapuru, Manaquiri, Manicoré, Novo Airão, Novo Aripuanã, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Santo Antônio do Içá, Santa Izabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, São Sebastião do Uatumã, Silves, Tabatinga, Tapauá, Tefé e Uarini. 

RECORDISTAS DE CASOS – Os 10 municípios com maior número de casos (levantamento feito até a primeira quinzena de outubro de 2007):
Manaus – 31.834
Coari – 9.839
Careiro – 8.843
Manicoré – 7.035
Manacapuru – 6.576
Tefé – 6.539
Barcelos – 6.018
Borba – 5.475
Autazes – 5.341
São Gabriel da Cachoeira – 5.008

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

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