Terça-feira, 1 de abril de 2014 - 00h02
MONTEZUMA CRUZ
Febre terçã é o novo livro de poemas da jornalista e escritora Vássia Silveira. Anteriormente publicou o livro de crônicas Indagações de ameixas (2011) e os infantis Quem tem medo do Mapinguari (2008) e Braboletas e Ciuminsetos (2007).
“Tal qual o insidioso mal que a febre do poético título esconde e que já tinha entrado na música de Tom Jobim – “é um belo horizonte, é uma febre terçã – a poesia de Vássia está infectada de um lirismo contido, disfarçado pela presença contagiante das imagens telúricas: maresia, inverno, primavera, flores”, escreve Zuenir Ventura, nas orelhas do livro.
“O livro se divide em três partes, como a febre, que se manifesta mais ou menos a cada três dias. Em todas, estão presentes as comparações ousadas que não dão espaço para nenhuma tentação piegas”, diz ainda Ventura. Na boca de cada palavra / há um líquido viscoso / que escorre sem piedade / queimando as entranhas.
Febre terçã(1ª edição) saiu pelo selo Off Flip Editora Ltda (*), com projeto gráfico de Mariana Poli, ilustrações da própria autora e revisão de Alberto Gonçalves e Ovídio Poli Júnior. Fez parte dos lançamentos da Festa Internacional Literária de Paraty (RJ), no ano passado.
A autora nasceu em Belém (PA), cresceu em Rio Branco (AC) e atualmente vive em Florianópolis. Seus primeiros poemas publicados em livro compõem o Balaio de Ideias, almanaque infanto-juvenil coordenado por Sérgio Capparelli (2006).
Tempestade
A tempestade varreu
os quatro cantos da casa
deixou-a nua,
despida das lembranças
e dos cheiros.
Dos destroços da ilusão
salvou apenas o fino frasco
– aquele onde guardou
a saudade e o amor tranquilo
que arrasta para fora a lama e
faz com que os telhados
pareçam novamente um lar.
Conversa de mar
Disse-me o mar que a noite
era uma ilusão, um piscar de olhos prolongado.
Um bocejo largo pressionando
as pálpebras, adormecendo
o pulso, a fome e a inquietação.
Disse-me o mar que as ondas,
sempre tão brincalhonas,
gostavam de espalhar mentiras
na areia enquanto roubavam
das conchas segredos jamais
revelados...
(e já quase exasperado de
cócegas, nada mais me disse o mar)
Perguntas
Tu me perguntas, e eu digo sim.
Não precisas gritar às flores
nem acordar a vizinhança
pois é na tua quietude
que repousam meus sonhos.
Deixemos, portanto, que esse orvalho
molhe em silêncio as nossas peles e
que o frescor da aurora embale as almas
(não precisamos mais que isso).
Tu me perguntas, e eu digo sim:
minha casa é tua,
na medida em que entras devagarinho.
O caçador
Teus olhos espreitam
o salto incerto
da presa – que escapa.
Mas a noite é sempre
promessa.
E as mãos preparam
nova armadilha:
Não há fome
nem fúria,
só desejo.
E a presa calada,
quieta:
tudo em um dia
é espera.
Vássia, por ela mesma
“Nasci em Belém no ano de 1971, mas ainda moleca, meu pai resolveu voltar com a família para o Acre. A desculpa era que estava indo, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, cobrir os conflitos de terra na região. Hoje vejo que era mais do que uma cobertura jornalística. E acredito que além do retorno a terra onde havia nascido, meu pai desejava que os filhos conhecessem a cor do barro e os mistérios das raízes seringueiras. E acabou conseguindo.
Ali aprendi o sentimento amazônida. Um sentimento alimentado pelos ideais comunistas de meu pai e pelos pensamentos libertários de minha mãe – que me imputaram, na infância, a pecha de ser filha de hippie.
Foi essa mesma combinação que forjou o meu nome: Vassia, a homenagem a um personagem de Dostoievsk; e Vanessa, graças à atuação de Vanessa Redgrave no papel da bailarina Isadora Duncan. Razão e emoção. Dois elementos que passaram a fazer parte de mim, e que até hoje explicam o meu olhar sobre o mundo. Explicam também os cursos começados e não terminados. As paixões efêmeras, a inquietação e o não-conformismo.
Morei alguns anos no Rio de Janeiro, tempo suficiente para descobrir que habitava em mim uma alma urbana. E quando estava preste a fundir-me no concreto da grande cidade, fiz as malas e voltei para a Amazônia – onde passei os últimos dez anos trabalhando como jornalista.
Hoje, as sombras que vejo são novamente as dos arranha-céus. Cinza-fuligem que alimenta as idiossincrasias da palavra. Chão de concreto e brisa delimitando o espaço da criação. E uma memória molhada pelos rios e igarapés, o verde da mata e o silêncio.
A maturidade descobriu-me com as calças do medo e a tranquilidade do amor. E se antes o espelho mostrava a face despida de traços, reflete agora a imagem de uma mulher na descoberta de suas primeiras rugas. No círculo da existência, sou agora a mãe que procura nas suas próprias referências o nome que forjará os destinos de Clara e Anaís. Uma mistura de razão e emoção”.
(*) Selo Off Flip Editora Ltda.
Caixa postal 74.901
selo.offlip@gmail.com
www.selo-offlip.com.br
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