Terça-feira, 9 de abril de 2024 - 15h08
A exemplo de outras corajosas juízas e promotoras de justiça aqui estabelecidas entre 1960 e 1970, a paraense Salma Latif Resek Roumiê foi a primeira mulher advogada em Porto Velho. Fundadora da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, ela enfrentou preconceitos, mas não esmoreceu e deu exemplo de dignidade à classe. Nos anos 1970 a aceitação da mulher ainda era limitada; hoje, porém, seu protagonismo é pleno.
Salma advogava
em seu escritório, no Edifício Ji-Paraná, conhecido pelo importante Café Santos
no térreo, o mais frequentado ponto de encontro das pessoas em Porto Velho. Era
tratada com alta reverência e respeito pelas pessoas em pleno ciclo do garimpo
no território federal.
No mesmo
prédio também trabalharam os advogados: Miguel Jorge Roumiê, Nelson Santos
Oliveira e Rochilmer Melo da Rocha.
Nascida
em Belém do Pará em 18 de maio de 1945, Salma era filha de Jorge Roumié e
Josefa Resek Roumié, ambos imigrantes libaneses. Em 1970
formou-se em direito na Universidade federal do Pará e retornou a Porto Velho,
Capital do ainda Território Federal do Guaporé, onde iniciou sua vida de
advogada.
O
escritório de Salma ficava ao lado da sala do seu irmão Miguel Jorge Roumié que
já advogava e exercera cargos no governo Marques Henriques.
Em 1981 ela
entrou para a vida pública, com designação para a extinta Superintendência
Nacional do Abastecimento (Sunab), onde chegou ao cargo de procuradora. E
aposentou-se em 1997, depois de viver na Sunab a execução de planos econômicos (congelamento
de preços, entre eles) e a redemocratização do País.
Salma foi
casada durante 30 anos com o radialista e apresentador de TV rondoniense João Dalmo
Alves da Silveira, com quem teve quatro filhos: Dalmo Luís, Fábio Luís, Munnira
Cláudia e Jorge Luís.
Faleceu
em 20 de maio de 2017 em Poços de Caldas (MG).
“O maior
exemplo que minha mãe nos deixou foi a honestidade e sempre lutar e nunca
desistir” – conta a filha Munnira em vídeo para esta série de matérias.
“Numa
sociedade comandada por homens, minha mãe teve que, a cada dia batalhar o
espaço dela, defender suas ideias, seus pontos de vista. Isso moldou muito a
personalidade profissional e se refletiu em sua personalidade dentro de casa” –
diz o filho advogado Dalmo Luís Roumiê.
“Ele
aconselharia hoje as jovens advogadas a firmar o combate, brigando por seus
ideais e por sua vontade. Hoje, minha busca constante é sempre honrar aquilo
que ela deixou como legado” – acrescenta o advogado Dalmo Luís.
Segundo
ele, Salma também gostava muito de bordar, cozinhar, fazer trabalhos manuais e
cuidar de plantas.
Munnira e
Dalmo Luís
Protagonismo
da mulher
A
advogada pioneira é agora nome de alta honraria na Seccional: a Medalha Salma
Roumiê. Em março deste ano, na Conferência Estadual da Advocacia Rondoniense,
no Teatro Estadual Palácio das Artes, a comenda foi entregue a diversos
profissionais do Direito.
A
vice-presidente da OABRO, Vera
Paixão, discursou: “A luta das mulheres é pelo direito de exercer o mais básico:
o direito à vida, direito à liberdade de permanecer ou não em um
relacionamento, o direito de andar pelas ruas sem receio de ser vítima de uma
violência sexual, de não ser morta ou violada pelo simples fato de ser mulher,
porque algum homem entende, que tem o direito sobre sua vida ou morte”.
“Somos muitas, somos diversas,
talvez muitas de nós não vivenciem ou não percebam a opressão decorrente da
desigualdade de gênero, mas todas sabemos que ela existe em nossa sociedade com
diferentes contornos provenientes de questões transversais como raça, idade,
deficiência e classe social”.
A presidente da Comissão da Mulher
Advogada, Vanessa Esber Serrate, se disse “uma pessoa transformada.” “Esta
missão, confesso, não foi simples, pois tinha entre meus objetivos principais,
engajar e despertar nas mulheres advogadas o sentimento de pertencimento”, disse.
Mulheres advogadas de diversas áreas
prestigiaram o evento, entre elas: Val Meireles, Pompília Armelina dos Santos,
Helena Debowski, Elisabete Balbinot, Glenda Araújo, Cláudia Fidelis e Vitória
Vieira. Valentina, filha da conselheira seccional Joilma Schiavi, representou o
futuro da advocacia feminina.
Observatório do Feminicídio
Em parceria com o Tribunal de Contas
do Estado, Ministério Público de Rondônia e Rede Lilás, a OABRO está se
dedicando à prevenção e combate à violência para realizar trabalhos de
prevenção e combate à violência contra a mulher. Rondônia é o estado com maior
índice de estupros do país, além de ter casos frequentes de feminicídio.
O recém-criado observatório é uma
ferramenta interinstitucional que reúne dados relacionados ao feminicídio no estado.
Ele é abastecido por órgãos de fiscalização e controle, do sistema de justiça,
saúde, segurança pública e polícia, podendo ser acessado gratuitamente por toda
a sociedade.
Acesse: http://observatoriodofeminicidio.net/
Fotos: Álbum de Família e Assessoria OABRO
Edição de vídeo: Raíssa Dourado
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