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Montezuma Cruz

Floresta tropical enche os olhos dos que sobem à Serra da Muralha


Floresta tropical enche os olhos dos que sobem à Serra da Muralha - Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ E CARLOS ARAÚJO
Em Vista Alegre do Abunã


Às 8h10 a expedição conhece o desafio da mata fechada, do calor e de terrenos de aclive. Na trilha quase invisível, todos esperam chegar ao afloramento rochoso situado a 240 quilômetros de Porto Velho, 242 metros acima do nível do mar.

Para alcançar Serra da Muralha, jipeiros, ambientalistas, antropólogos, geólogos, geógrafos, professores de história percorreram 43 quilômetros de estrada de chão até o começo da trilha.

A muralha situa-se a quatro quilômetros do curso médio do Igarapé Simãozinho, em terras do antigo Seringal Vista Alegre, vizinhas ao Parque Nacional Mapinguari, o quinto maior do País, com 1,7 milhão de hectares.

Diferente das outras, ela é encimada por um platô e contornada por um muro de 300 m de perímetro e pouco mais de um metro de altura.

A marcha de 2,8 Km começa com ânimo nos primeiros minutos. Logo em seguida, arranha-gatos grudam nas roupas, machucando mãos e braços das pessoas; algumas tropeçam em arbustos ou têm dificuldades em saltar sobre árvores derrubadas.

Placas plastificadas colocadas pela Ecolog Indústria e Comércio Ltda. advertem contra a prática de caça, pesca extração de castanha ou madeira.  Sediada em Barueri (SP), ela adota o manejo sustentável certificado pela Forest Stewardship Council e vende madeira para a Holanda.

A Ecolog explora angelim-pedra, angelim-vermelho, catuaba, cambará, cumaru, cedrinho, garapeira, guariúba, ipê, Ipê amarelo, jatobá, maracatiara, cupiúba, pequi, maçaranduba, roxinho, sucupira, tamarindo, tauari branco, tauari vermelho, entre outras.

No caminho há duas fontes cristalinas, uma pequena cachoeira, muitas sororocas, palmeiras, e perto delas algumas castanheiras e samaúmas. No chão, orquídeas, flores e cogumelos.

Não há degraus. O equilíbrio sobre pedras cheias de musgos é essencial. Jipeiros estendem cordas de náilon para dar segurança na subida.

Às 10h25 ouve-se a voz da professora de História na Unir, Marta Valéria: “Esta é a minha maior emoção do ano”.

Às 10h40, os últimos são recebidos com salva de palmas: o professor de história Solano Löw Lopes e os jipeiros Benedito Botti Júnior, o Júnior San, e Talita Tomazi. Do alto das rochas graníticas, a olho nu se avista a floresta tropical quase intacta.


“Grandiosidade”

Ao classificá-lo de “grandiosidade da edificação humana”, ou seja, a muralha circundando uma área do tamanho ou maior que um campo de futebol, o professor Solano sugeriu ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional “políticas urgentes de preservação e conservação”.

Em 1947, aos 14 anos de idade um rondoniense esteve aqui: o jovem Cláudio Feitosa, mais tarde comerciante e atualmente escritor em Porto Velho. O geólogo Amílcar Adamy esteve pela primeira vez na região em 1986, acompanhado de trabalhadores braçais a serviço da CPRM.  

Passava de 11h do sábado (12/12), quando ele apontou uma escavação com terra preta, provavelmente cavado pelo arqueólogo Eurico Müller, dez anos atrás.

Nessa escavação no centro da serrania [cume em pequeno platô] acumulavam-se fragmentos de cerâmica no ultimo nível, datado de 3.600 anos AC. Müller guardou-os no Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul, em Taquara.

“As terras onde fica a serra pertenciam ao meu pai, seringalista Theophilo Alves de Souza”, contou a diretora do Memorial Jorge Teixeira, jornalista Cida Souza.

Solidariedade e compromisso

Sempre sobram motivos para os jipeiros conhecerem lugares quase inacessíveis em diferentes pontos da Amazônia Ocidental. Quase sempre, eles se deparam com situações que inspiram pronta intervenção.

Na memória de Raimundo Aguiar, comerciante em Porto Velho, o socorro a passageiros de ônibus na BR-319 [Porto Velho-Manaus] é a marca da solidariedade resumida nesta frase: “Ninguém fica para trás”.

“Dividimos alimento e até remédios com famílias entregues à própria sorte, quando motores dos ônibus dão problema, ou a chuva faz atoleiros, impedindo por longas horas o prosseguimento da viagem”, ele comentou.

Segundo Aguiar, a recompensa maior aos integrantes do Jeep Clube é sentir o agradecimento na fala e no semblante das pessoas.

Jipeiro desde 1998, o ex-delegado de polícia, Marco Antonio Canhetti Postigo já viajou por estradas argentinas, bolivianas, chilenas, peruanas e uruguaias.

 “Margeando o Atlântico, saí de Belém de fui até Ushuaia [Capital da Província da Terra do Fogo, na Argentina]. Ainda não conheci a Colômbia e a Venezuela, mas se tiver oportunidade, irei”, ele disse.

É um dos mais animados do grupo de aproximadamente 50 sócios, embora tenha perdido massa encefálica e se apóie numa muleta, depois de capotar em Humaitá (AM), num rali que protestava contra a precariedade da BR-319.

“Que bom que vocês se sentem bem entre nossa família”, manifestou-se o presidente do Jeep Clube, Jailson Miguel da Silva.

No encerramento da excursão, Jailson reiterou seu apoio à Unir, CPRM, IBGE e aos jornalistas de Rondônia, já vislumbrando as próximas. E ainda neste mês de novembro, a categoria organiza mais uma arrecadação de cestas básicas para famílias carentes.

QUEM FOI

Adão Borges Leal                                                   Jeep Clube de Porto Velho
Amilcar Adamy                                                     Geólogo da CPRM       
Antonio Rodrigues Cunha                                     Jeep Clube                                             
Arnaldo Moura                                                        Jeep Clube
Benedito Botti Júnior                                             Jeep Clube
Carlos Araújo                                                          Jornalista
Cleverson Pedraza                                                 Jeep Clube
Cliverson Pessoa                                                     Antropólogo - Unir
Edinaldo Bezerra                                                     Professor de História na Unir
Elias Jouayed Almeida                                           Jeep Clube
Felipe Rodrigo Freitas da Silva                              Geólogo
Géssica Lana                                                            Pedagoga, Senai
Jailson Miguel da Silva                                            Presidente do Jeep Clube
Jeanne Cardinalle                                                   Jeep Clube
José Gomes                                                             Repórter fotográfico-Diário da Amazônia
Luiz Cleyton Holanda Lobato                                  Geógrafo e estatístico do IBGE
Marta Valéria de Lima                                              Professora de História na Unir
Maraiana Ribeiro Santos                                         Geóloga, perita da Polícia Federal
Marcelo Estebanez                                                  Jeep Clube     
Marco Antonio Canhetti Postigo                             
Jeep Clube
Marcos Quadros                                                        Geólogo da CPRM
Misael Rodrigues                                                      Formado em História, policial
Montezuma Cruz                                                       Jornalista
Raimundo Aguiar                                                     Jeep Clube
Solano Lopes                                                            Professor de História             
Talita Tomazi                                                            Jeep Clube
Vitor Fernando Faustino dos Santos                         Jeep Clube
Wilhan Rocha Cândido Assunção                              Chefe do Parque Nacional Mapinguari    


 

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* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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