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Montezuma Cruz

Fronteira sem médicos também 'importa' padres



MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

GUAJARÁ-MIRIM, Rondônia – Não são apenas os médicos que estão em falta na fronteira Brasil-Bolívia. Há também escassez de sacerdotes. Todos vêm de fora. O padre José Élio Deukievicz chegou há 18 anos de Irati, região dos Campos Gerais do Paraná. Daquele estado vieram os reforços obtidos pelo bispo diocesano Dom Geraldo Verdier com o apoio da Nunciatura Apostólica Brasileira. José Élio já trabalhou na região de Corumbiara, a 847 quilômetros da capital, Porto Velho. Antes, o lugar se chamava Nova Esperança e fazia parte do Projeto Igrejas-irmãs do Paraná. "Logo no começo deparei-me com o problema fundiário e aprendi a lidar com situações delicadas", lembra José Élio.

Ele se acostumou e atualmente é vigário da Catedral de Nossa Senhora do Seringueiro, nome dado em 11 de fevereiro de 1956 após um sonho do bispo Dom Francisco Xavier Rey. Segundo dom Geraldo, dom Rey se inspirou no seringueiro, "sofredor nas 

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Padre Obelino veio de Maringá /DIOCESE
matas e nas estradas". Atualmente, a paróquia com o mesmo nome tem cinco comunidades urbanas e sete rurais. Entre a cidade-pólo, partes do centro e do sul de Rondônia a Igreja atende a cerca de cem mil almas. Para enfrentar a escassez de vocações sacerdotais a dioceses recebe o auxílio paranaense. Assim, dom Geraldo espera enviar para a região de Corumbiara – a 800 quilômetros da sede da Diocese – dois padres e um diácono formados em Apucarana (PR).

No começo, as mulheres

O isolamento amazônico já foi pior. Conforme o livro de tombo da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em 1923 um grupo de senhoras lideradas por Luzia Martins, a Sinhá Martins, avivou o sentimento religioso no município. Durante muito tempo foi a "primeira catedral" da Prelazia, abrangendo mais de 100 mil Km² de superfície, da foz do Rio Verde, em Mato Grosso, até o Ribeirão, em Nova Mamoré.

O primeiro sacerdote, o padre salesiano Antônio Peixoto, só chegaria em 20 de dezembro de 1928. Antes da criação da Prelazia de Porto Velho raramente se via um padre no município. Reformado, esse templo ainda é muito querido pela população. Às terças-feiras, os devotos ali comparecem para pedir saúde. As monjas beneditinas, que chegaram à cidade em 1997 também o adotaram para o centro de oração litúrgica. 
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Claretianos se encontram em Guajará; à esquerda, o bispo Dom Geraldo /DIOCESE


Apoio de cardeais

A Igreja e a medicina caminham de mãos dadas. Na faixa situada entre Guajará-Mirim e Corumbiara, 'importa-se' padres e médicos. À falta de brasileiros, as prefeituras apelam a deputados e senadores e obtêm vistos no Ministério da Justiça para contratar temporariamente médicos cubanos.
Em agosto de 1993, a ajuda veio da Igreja paulista: dom José Maria Pinheiro, da Arquidiocese de São Paulo foi nomeado vigário episcopal em Colorado do Oeste. Recebeu o título de monsenhor. Nomeado bispo auxiliar de Guajará-Mirim em fevereiro de 1997, foi ordenado em Nazaré Paulista em abril daquele ano. Na década de 1980 a Diocese foi auxiliada pelo então secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luciano Mendes de Almeida. Dom Geraldo se emociona ao mencioná-lo: "Era um homem boníssimo. O cardeal da Cúria Romana, dom Martini, disse a dom Moacir Grechi (atual arcebispo de Porto Velho) que nós tínhamos no Brasil o único santo vivo: dom Luciano". Outro nome lembrado ex-secretário da CNBB, cardeal Ivo Lorscheider. "Ele se apiedou de mim na situação em que assumiu a Diocese". 
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Igreja de N.Senhora do Perpétuo Socorro guarda a história local /M.CRUZ

Dois Seminários

Em janeiro de 1982 desembarcaram em Guajará-Mirim o irmão José Maria Sala Coll e o padre Luís Garcia Vizcaino, ambos da Congregação Claretiana, de Catalunha (Espanha). Eles ajudaram a Comunidade de Dez de Abril a construir a primeira igreja da Paróquia Nossa Senhora Aparecida. No dia seis de agosto daquele ano a Diocese fundou o Seminário Menor Nossa Senhora das Graças, que se denominou Seminário Maximiliano Maria Kolbe, a partir de 1995.

Em 11 de fevereiro de 1991 surgiu o Seminário Maior Nossa Senhora do Seringueiro, cujo curso de filosofia funcionou durante três anos, apenas com seminaristas de Guajará-Mirim, Rio Branco e Ji-Paraná.

Enviado pela Arquidiocese de Maringá (PR), o padre Francisco Gecivam Garcia tomou posse na Paróquia Nossa Senhora Aparecida em 27 de janeiro de 2002. De lá chegou também o padre Obelino de Almeida, 52 anos, atual pároco, auxiliado pelo padre Achille Atta Amichia, africano vindo da Diocese de Daloa, na Costa do Marfim.

"Dom Jaime Luiz Coelho, primeiro bispo de Maringá (hoje aposentado), me disse: vou lhe ajudar, e em três anos me enviou dez padres", conta. Atualmente, a Diocese conta com 14 seminaristas, dos quais, nove formados em filosofia e cinco em teologia. Este ano eles irão concluir os estudos em Porto Velho. Atualmente, os futuros padres cursam teologia no Instituto Paulo VI em Londrina (PR) e no Seminário Nossa Senhora da Glória em Maringá. 

Primeiros claretianos chegaram
no meio de uma tempestade

GUAJARÁ-MIRIM – Muito conhecido na Igreja, o isolamento amazônico leva as dioceses à devida precaução. Assim ocorreu com a de Guajará-Mirim, que tem um território de 90 mil Km² e só contava com cinco padres em janeiro de 1982. No dia 16 de janeiro, após uma turbulenta viagem no meio de uma tempestade, o padre Luiz Garcia e o irmão José Maria Sala desembarcaram no aeroporto da cidade, num táxi-aéreo. "Começava com eles uma longa lista de bons religiosos que muito contribuíram e ainda constroem em nossas paróquias e nas cidades da região", comenta o bispo Dom Geraldo Verdier.

O bispo nomeou apenas aqueles que ainda hoje trabalham em nossa diocese: os padres Francisco Trilla, José Roca, Zezinho, Lluis Llamas e irmão José Maria. No dia seis de janeiro deste ano a diocese festejou, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, esses 25 anos de presença claretiana. "Magnífica celebração, na presença do simpático Provincial da Catalunha, padre Máximo Muñoz, e do Provincial dos Claretianos brasileiros, padre Jaime Sanchez", lembra dom Geraldo. Fronteira sem médicos também 'importa' padres  - Gente de Opinião

Casas para sem-teto

Naquela data, Dom Geraldo reverenciou o fundador da Ordem, Santo
Antônio Maria Claret. Em férias na Catalunha, o padre Luiz Garcia enviou uma mensagem que foi lida na ocasião. Claro, falou sobre a chegada à fronteira com a Bolívia: "Foi às cinco horas da tarde, no dia 16 de janeiro de 1982, que desembarcamos no Aeroporto de Guajará-Mirim, depois de uma viagem muito 'sacudida'. Não posso esquecer meus primeiros anos de missionário nesta cidade, ao lado de Dom Geraldo, um pai e um amigo. Juntos construímos casas dos "sem-teto" nos bairros Santa Luzia e Próspero. Não vou falar das dificuldades para comprar terrenos para nossas igrejas, nem das alegrias ao levantar, com a ajuda dos católicos da França e o apoio de nossas comunidades, uma dezena de capelas nos bairros da cidade. Quero apenas salientar, que aqueles anos foram os mais belos de minha vida de padre missionário!".

No fim da missa, o padre Máximo lembrou que os 25 anos de missão foram para os claretianos "uma graça de Deus". "Uma bênção recebida através das partilhas com nossos irmãos claretianos e com os voluntários leigos missionários, durante os campos de trabalho durante as férias, e pelo testemunho de doação generosa destes missionários, de sua fidelidade, coragem e criatividade para achar soluções novas aos problemas, na alegria de comungar à vida das comunidades, de partilhar sua fé, sua resistência diante das dificuldades". 

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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