Sexta-feira, 12 de novembro de 2010 - 14h27
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Zé Goiano não foi o único a entrar para o temporário rol da fama ditado pelas reportagens feitas à época no Garimpo Topless, em Colorado do Oeste. Havia outros. Talvez Rondônia tenha sido o único estado capaz de atrair garimpeiros do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Paraenses, amazonenses, amapaenses, roraimenses e maranhenses, considerados a nata da garimpagem, os recebiam numa boa. A diferença é que os garimpeiros sulistas chegavam sem um grama de ouro, sem experiência alguma, todos ansiosos para vencer desafios. No entanto, vinham endinheirados.
Pedrinho Corrêa, chefe do escritório da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) notava que Zé Goiano deixara a mina da Serra Sem Calças, em Jaru, mas servia de exemplo para os novatos. Antes de tomar o rumo de Colorado, conseguira comprar ou arrendar muitos lotes daqueles que abandonavam o milho e a mandioca para facilitar-lhe a exploração dos veios de ouro.
Quando começou no Topless, Zé Goiano foi logo investindo milhões de cruzeiros em motores, enxadões, picaretas e mangueiras, necessários à canalização da água de igarapés para lavar cascalho.
Ex-vereador em Tapejara (PR), o catarinense João Francisco Ramos, pai de cinco filhos, deixava a mulher cuidando da padaria em sociedade com o filho Osmar, em Vilhena. E entrava com muita garra nas matas que circundavam o garimpo. Erguia um barraco e comentava:
– Eu estou meio escondido, só pesquisando. Se render bem, aí vou investir o que tenho.
José Varella (pág. 30 do JB de 15/12/85) fotografou João Francisco debaixo do barraco, enquanto cozinhava abobrinha com lingüiça, ao lado do madeireiro Olmiro Luiz Rechi. Vindo de Vilhena, onde abandonava a compra de toras, ele se transformava em mais um aspirante a garimpeiro.
O gaúcho Anibaldo Augustin foi uma referência para aquela turba de homens vindos das serras Pelada e Sem Calças, e de estados do sul. Morador há cinco anos em Vilhena, ele nunca quis saber de lavoura. Ali no Topless já movimentava muito dinheiro, chegando a investir trezentos a quatrocentos mil cruzeiros por semana, para garantir o “rancho” constituído por arroz, feijão, sardinha, lingüiça, ovos, queijo, fubá, farinha de mandioca, óleo e carne bovina. Eu e Varella almoçamos com a dupla.
– Tem que ter máquina! E até com ela o desgaste é grande – apelava. Puxando o repórter pelo braço, ele mostrava vários tipos de motores, um deles, de caminhão. Seu xodó possuía 18HP, consumindo 70 a 80 litros de óleo por dia, para fazer funcionar o garimpo dez horas sem parar.
Motores acionavam moinhos de cascalho, única maneira de se adequar a exploração do ouro a uma rudimentar lavra mecanizada. Depois dos moinhos, o cascalho passava pelas centrífugas, que separavam as partes que continham ouro e as que não o possuíam. Mas quase tudo ali era na base das mãos e dos pés.
Pedrinho da CMR anotava o dia-a-dia do lugar, colocando no relatório o custo da atividade. Era alto. Uma hora de trator-esteira alugado para remover o barro custava 300 mil cruzeiros, o que correspondia ao dinheiro da semana gasto com o “rancho” de Anibaldo. Só o quilo da carne bovina custava 25 mil cruzeiros nos açougues de Colorado.
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