Sexta-feira, 25 de abril de 2008 - 06h21
Na dúvida sobre a guerrilha, deputados
agora querem ouvir Tarso Genro
MONTEZUMA CRUZ
AGÊNCIA AMAZÔNIA
BRASÍLIA – Se depender de meia dúzia de armamentos e cartilhas encontradas pela polícia em acampamentos da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), a tese da guerrilha treinada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) em Rondônia não passa do exercício do imaginário de algumas autoridades e até de parlamentares. Pelo menos foi o que se viu, hoje, durante audiência pública convocada pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
Os deputados promoveram a reunião, após terem recebido queixas de que a luta pela terra nessa parte da Amazônia Ocidental "extrapolou os limites da reivindicação, dando vez à violência". Insatisfeitos com os depoimentos dos seus convidados, os deputados querem tirar dúvidas. Vão chamar novamente o ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem caberá discorrer sobre a atuação do governo federal em Rondônia. Genro já fora convidado, mas não compareceu.
Ex-comandante acusa
O tenente-coronel Enedy Dias, ex-comandante do Pelotão da PM em Jaru, mostra um militante da LCP em Rondônia /LUIZ ALVES
O movimento não foi poupado. Lá esteve depondo o ex-comandante do Pelotão da Polícia Militar em Jaru (a 288 quilômetros de Porto Velho, capital rondoniense), tenente-coronel Enedy Dias Araújo. "A estratégia da Liga é provocar mortes e conflitos após a ocupação de terras. Por isso, os assassinatos são o maior problema da PM na área em que ela atua", disse. Araújo revelou aos parlamentares que a prisão de líderes do movimento "provocou a diminuição do número de homicídios na região". Não apresentou números que comprovassem a assertiva.
O militar disse que os seus homens recolheram armas e documentos durante apreensões em áreas ocupadas pela LCP. Alguns desses documentos, conforme descreveu, estavam escritos em espanhol e se referiam às FARCs e ao Peru. No mais, os soldados recolheram cartilhas sobre leninismo, treinamento e armamento. Um membro da LCP cochichou para jornalistas: "Se fossem apreender as armas dos fazendeiros e madeireiros, ia precisar de um caminhão". Alguns risos foram ouvidos na platéia, quando o deputado Ivan Valente (PSol-SP) afirmou que isso não seria um indício suficiente para caracterizar a LCP como grupo guerrilheiro.
Velhas cartilhas
Desde antes da Chacina de Corumbiara, na região sul de Rondônia, em 1995, a polícia já encontrara cartilhas semelhantes em acampamentos de sem-terra. Para Valente, livros de Mao Tsé-tung ou Lênin apresentados por autoridades policiais de Rondônia "não têm valor jurídico". Explicou que essas publicações são estudadas nas universidades brasileiras e a sua existência, "assim como meia dúzia de armas apreendidas" não serve para comprovar a atuação de uma guerrilha.
O deputado paulista advertiu o plenário: "Não se pode confundir guerrilha com criminalização de movimentos sociais". Foi essa também a tecla repetida na semana passada pelo deputado Eduardo Valverde (PT-RO), ao comentar a convocação da Comissão de Agricultura à LCP.
O barulho não parou aí. O secretário-adjunto da Segurança, Defesa e Cidadania Pública de Rondônia, Cézar Pizzano, reforçou que a LCP e o MST "recebem recursos de organizações internacionais e orientação e treinamento das FARCs e do Sendero Luminoso, do Peru". Organizações que, pelas investigações da autoridade, tiveram origem no interior de Minas Gerais e se espalharam pelos estados do Pará e de Rondônia. "São entidades oriundas de grupos de esquerda da década de 60, de orientação maoísta", insistiu.
Sobrou para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra): os deputados Moreira Mendes (PPS-RO) e Ernandes Amorim (PTB-RO) acusaram a autarquia de estimular as invasões de terras pela LCP. Amorim afirmou que o superintendente do Incra, Carlino Lima, é integrante do movimento. "É uma situação inadmissível, por se tratar de uma região com problemas de regularização fundiária", protestou.
"Luta resulta do fracasso da reforma agrária"
Acampamento da LCP: para a Segurança de Rondônia, guerrilha existe /ARQUIVO AGAm BRASÍLIA – Para Nilo Hallack, da LCP, a convocação apenas desse movimento soou estranha. Ele sugeriu à comissão que também chame os demais para depor. "A Liga e sua luta são resultado do fracasso da reforma agrária no Brasil. A situação hoje ainda é pior do que no governo Fernando Henrique, porque as famílias não são assentadas, a grilagem não é combatida, nem as políticas ambientais são desenvolvidas", ele acusou.
Hallak afirmou que os demais movimentos – em Rondônia atuam também o MST e o Movimento Camponês Corumbiara, por exemplo – "podem confirmar a matança realizada pelos grandes proprietários de terra". Embora não levasse cópias ao Plenário 3 da Câmara, o representante lembrou que a LCP guarda documentos com os quais denunciou a situação, há cinco anos, à Comissão de Direitos Humanos da Câmara e ao Ministério da Justiça, relatando a ação de latifundiários na região de Jaru e Cujubim.
Alguns documentos mencionam nomes de militantes da LCP mortos e feridos naquela região. O representante da LCP não tem dúvida de que a ação contra o movimento é "parte de uma política que pretende expulsar os pequenos camponeses da Amazônia para loteá-la". Se o Ministério da Justiça determinar à Polícia Federal que vasculhe a região à procura de armas, certamente poderá fazê-lo também no interior dos latifúndios sempre lembrados pela LCP. (M.C.)
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião
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