Segunda-feira, 21 de junho de 2010 - 12h18
Pinheiro, corajoso amazonense, fez história no Acre, ao liderar o maior sindicato de trabalhadores da Amazônia, entre o final dos anos 1970 e início dos 80 /REPRODUÇÃO DE ÁLBUM DE FAMÍLIA |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BRASÍLIA — Nenhum mandante no banco dos réus, nenhuma nota do partido do qual foi um dos fundadores e agora mergulhado na campanha sucessória. Até meio-dia deste 21 de junho de 2010, os 30 anos do assassinato do líder sindicalista Wilson Pinheiro passam quase em silêncio.
Pinheiro foi morto em 21 de junho de 1980 com um tiro na nuca, pelas costas, a mando de latifundiários. Estava reunido numa sala, com outros dirigentes do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia, no Acre. Além de presidente do sindicato, também presidia a Comissão Municipal do PT.
Para a compreensão da história de resistência acreana e amazônica, há diversos relatos minuciosos, cada vez mais vivos, na rede mundial de computadores. Se os assessores petistas se dessem ao cuidado de novamente apreciá-los, orientariam parlamentares a lembrar, na tribuna da Câmara e do Senado Federal, o herói de Brasiléia.
Pinheiro não era acreano, mas um amazonense. Em estudo publicado pela Fundação Perseu Abramo, o professor Francisco Dandão Pinheiro, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo, escreve:
”Uma casa de madeira sem pintura, em frente à pequena igreja da cidade, abrigava o Sindicato dos Trabalhadores Rurais local. Ali o trabalho era sempre maior do que o número de funcionários e voluntários para fazê-lo. O presidente, um homem alto, pele queimada pelo sol, mãos calejadas pelo ofício de seringueiro desde os primeiros anos de vida, apreciador de cigarros fortes, incansável na sua faina despedia-se de dois companheiros e resolvia ficar mais um pouco, para resolver alguns assuntos pendentes.
“Estava jurado de morte por fazendeiros da região, mas não dava muita atenção para as ameaças. Sentia-se seguro no seu ambiente de trabalho. Meia hora depois, a confiança de que nada poderia acontecer-lhe mostrava-se vã. De costas para a rua, olhando distraidamente para um aparelho de televisão, enquanto arrumava uns últimos papéis, sentiu a dor súbita de projéteis entrando pelo corpo.
“O silêncio de Brasiléia foi quebrado por quatro tiros. Wilson Pinheiro tombava sem vida. O movimento seringueiro acreano perdia o seu primeiro grande líder. E se desencadeava, imediatamente, uma onda de violência que iria, oito anos mais tarde, mudar a história das relações entre homem e meio ambiente no Brasil”.
“O Sindicato era o local de trabalho dele”
BRASÍLIA — A filha Hiamar de Paiva Pinheiro, ex-vereadora pelo PCdoB em Brasiléia, prestou um depoimento no ano 2000, quando passavam 20 anos da morte do pai. Principais trechos:
“...Éramos oito filhos, sete meninas menores...” “... Lembro de uma vez que meu pai precisou ir a um empate enfrentar pessoas armadas e não tinha sequer um canivete no bolso. Não sei dizer se ele era corajoso ou muito inocente pra fazer isso”.
“...No dicionário de meu pai não existia a palavra covardia. O pistoleiro que assassinou meu pai, sim, era covarde porque atirou pelas costas. Com certeza que se ele tivesse chegado frente à frente meu pai não teria corrido. Ele teria morrido do mesmo jeito, mas não teria corrido”.
“... foi gratificante a luta de meu pai porque levou em consideração o lado humano. Eu tenho muito respeito por essa luta, e se tivesse que voltar tudo novamente eu acharia maravilhoso” “...Quando ele não podia voltar pra casa, o sindicato era o local de trabalho e o local de morar também”
“... Uma semana antes de meu pai ser assassinado eu encontrei com ele.
Era uma segunda-feira, e na outra segunda-feira ele morreu. Ele ainda foi me deixar no caminho da escola. Eu lembro até do último filme que meu pai assistiu... (chorando) Até hoje me pergunto por que ainda não me acostumei. Já se passaram 20 anos... Mas eu não consigo, toda vez é assim.” “... Inspiro-me na luta de meu pai” “Ninguém resgata a luta de ninguém porque cada um já nasce com a sua”.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, do qual ele foi o segundo presidente, surgiu com 890 sócios-fundadores e alcançou quatro mil na época dos “empates” (movimento que impedia peões e capatazes de fazendeiros de derrubar a floresta para a formação de pastagens. Foi o maior fenômeno de organização popular amazônica. (M.C.)
Esquecimento, uma ferida que não cicatriza
Observada pela filha Hiamar, a viúva Terezinha Pinheiro participa, em Rio Branco, de reunião da Confraria das Revoluções Acreanas /MONTEZUMA CRUZ |
BRASÍLIA — No Brasil é assim: o marketing de herói funciona conforme o lobby, a claque, a conveniência. Pelo visto, reconhecendo-se o seu valor, Chico Mendes teve peso mundial na conservação do verde amazônico. A família dele já foi indenizada pela União, com direito a uma sessão solene no Senado Federal em três de dezembro de 2008.
Projetaram Mendes mundialmente. Já Pinheiro, sacrificado oito anos antes, permaneceu coadjuvante de um cenário ainda não desmontado, porque lhe usurparam imagem, nome e papel histórico na organização de trabalhadores rurais e de seringueiros naqueles confins acreanos.
Por defendê-los nos seus ideais, o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, junto com o ex-sindicalista e ex-deputado federal João Maia, entre outros.
Em reconhecimento à luta de Pinheiro, o PT criou uma Fundação com o nome dele, em São Paulo, a mais de 3,6 mil quilômetros de distância do Acre. Mas a entidade deixou de existir, cedendo lugar a um vazio nesse aspecto da luta amazônica pela posse da terra.
Talvez tenha sido esse, aliado à desinformação ou ao esquecimento de militantes e parlamentares mais jovens, o motivo da omissão do partido em apoio à família Pinheiro na sua peleja judicial contra a Warner Bros. Outra explicação plausível não há. (M.C.)
Ativista Abrahim Farhat, um dos fundadores do PT acreano e companheiro de Pinheiro, durante reunião com a Bancada Federal Acreana /MONTEZUMA CRUZ |
Ação contra empresa cinematográfica no STJ
BRASÍLIA —A família do Wilson Pinheiro espera, com paciência redobrada, o dia em que o advogado Paulo Dinelli ingressar no Superior Tribunal de Justiça com ação de indenização no valor de R$ 4 milhões contra a empresa cinematográfica Warner Bros, pelo uso de imagem e da história do sindicalista no filme “Amazônia em chamas” (1994).
Inicialmente, o pedido entraria em abril no STJ. Houve contratempo e o ato foi adiado. Entre outras entidades, a Bancada Federal Acreana e a Confraria das Revoluções Acreanas apóiam o pleito da família. Estranho é o governo acreano não apoiar publicamente a ação reivindicatória. Para fazer o filme, a WB não consultou a família desse personagem.
“Amazônia em chamas” continua disponível nas locadoras de vídeos do Brasil e do mundo. Rodado no México, o filme ensaiou uma biografia do líder ecologista Chico Mendes, na defesa dos direitos humanos na Amazônia. E pôs Pinheiro, um negro alto, na fita, na pele de um loiro, mediano. Chapelões mexicanos substituíram as cabeças aquecidas pelo sol forte de Brasiléia e nas quais, quando muito, só cabiam bonés.
Estrelado pelo porto-riquenho Raul Julia — que morreu poucos meses depois de seu lançamento — e pela brasileira Sônia Braga, “Amazônia em chamas” surpreendeu o público brasileiro por falhas técnicas e de conteúdo.
Dirigido por John Frankenheimer (de ‘’Ronin’’) e produzido pela HBO (canal de TV americano), “Amazônia em chamas” mostra as más condições de trabalho dos seringueiros, a derrubada da floresta e os “empates. (M.C.)
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