Quinta-feira, 14 de janeiro de 2016 - 10h39
A pequena Sala de Vivência Terapêutica do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, em Porto Velho, recebe todas as terças-feiras mulheres acometidas pela mola hidatiforme (MH), caracterizada pela ausência do embrião. A MH é o termo usado para designar um grupo de doenças composto por desordens placentárias usualmente benignas. Doença trofoblástica gestacional (DTG), uma anomalia da gravidez que engloba formas clínicas benigna (hidatiforme completa e parcial) e maligna (invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelióide). Em sua forma mais comum, a MH acomete 1 em cada 200 a 400 gestações no Brasil, ou seja, cinco a dez vezes mais frequente do que na América do Norte e na Europa.
Na sala funciona o Centro de Neoplasia Trofoblástica Gestacional de Rondônia (Centrogesta-RO), oficialmente criado em 9 de setembro de 2014. “Na prática e dentro de suas possibilidades, o Centro funciona desde 2011, sob os cuidados da médica ginecologista Rita de Cássia Ferreira, pós-graduada e mestra nessa área”, disse a vice-coordenadora do Centro e de psicologia do HB, Rose Britto.
O Centrogesta iniciará no primeiro trimestre de 2016 a conscientização das redes estadual e municipais de saúde a fim de evitar que pacientes desembarquem no hospital em situação grave. A mulher sofre com sangramento vaginal espontâneo, enjoos, vômitos, inchaços abdominais e anemia. Em Porto Velho, onde ocorreram mais de 500 casos no ano passado, o primeiro socorro à mulher encontra-se na maternidade municipal.
“No começo, a doutora Rita identificava pacientes que estivessem sempre carregando debaixo do braço os seus prontuários; avisava aos familiares e cuidava de cada caso”, contou Rose.
ESTRANGEIRAS
Médicos residentes de ginecologia e obstetrícia participam dos trabalhos. Exames laboratoriais são feitos até meio dia e do grupo terapêutico as mulheres seguem para a consulta propriamente dita.
A técnica em enfermagem, Maria José da Silva cuida da nutrição das pacientes e acompanhantes. Nessa terça-feira (12), por exemplo, estava novamente o casal de haitianos, Brunel José, 26, e Ciane Elisma, 23.
Ciane passou mal na maternidade municipal. Foi levada ao HB para fazer o exame ultrassom. Levada ao centro de obstetrícia, passou por todos os procedimentos, e agora convive semanalmente com o grupo de acompanhamento psicológico, médico e nutricional.
Falando um pouco em português, Brunel informou que a companheira está bem, mas ele necessita trabalhar. Aproximadamente dois mil compatriotas dele empregaram-se em Porto Velho, notadamente na construção civil, onde ele espera obter uma vaga.
“O Centrogesta já atendeu também a grávidas da Bolívia, de diversas comunidades indígenas de Rondônia, presidiárias e outras pacientes de cidades dos Estados do Acre, Mato Grosso, de Canutama, Humaitá e Lábrea, os três municípios do Amazonas”, informou o diretor-geral do HB, médico pediatra Nilson Cardoso Paniágua.
Entre outras voluntárias, Raimunda Lopes, 65, apoia semanalmente o Centro. Raimunda tem a experiência da vida, e se solidariza com as mulheres em situação de risco. “Duas netas estão grávidas. Eu me informo e explico para elas o que aprendi e venho aprendendo”.
“Dona Raimundinha é o nosso apoio, a nossa retaguarda”, elogiou a psicóloga Rose.
ECOGRAFIA E ULTRASSOM
Tumores hidatiformes são visíveis numa ecografia ou ultrassom. Análises de sangue e de urina detectam níveis excessivos de gonadotrofina coriônica humana produzidas pelo tumor, que pode estar associado a sintomas de hipertireoidismo.
O sangramento no quarto ou quinto mês indica a complicação, e o útero e ovários costumam estar visivelmente maiores que o esperado para o período.
Pacientes da capital e do interior de Rondônia se submetem ao exame de ultrassom, tomam vacinas e fazem exame de sangue nos postos de saúde, onde podem ter a doença diagnosticada.
No tratamento, o HB faz o esvaziamento uterino da mulher e lhe proporciona o acompanhamento especializado. A dificuldade no momento é a falta do quimioterápico Actinomisina D, em Porto Velho, um dos medicamentos anticancerígenos usados para destruir células tumorais.
Estudo feito pelo médico Antônio Braga e outros cinco profissionais do Centro de Doença Trofoblástica, Maternidade Escola, da Universidade Federal do Rio de Janeiro revela que o tratamento quimioterápico é capaz de curar a grande maioria das pacientes, preservando sua capacidade reprodutiva que, pelo geral, não se altera.
Braga também esclareceu que a idade materna avançada constitui importante fator de risco para a ocorrência de MH completa, onerando as mulheres acima de 40 anos. No entanto, devido ao maior número de gravidezes em mulheres jovens, a maior parte das MH ocorre em gestantes entre 20 e 30 anos.
“É importante ressaltar que a idade materna não se encontra associada ao risco de desenvolver MH parcial, diferentemente da história pregressa de abortamento espontâneo ou infertilidade. Vale também salientar que a história obstétrica de MH é importante fator de risco para a ocorrência de nova MH em gravidez subsequente”, diz o estudo.
Foi o que ocorreu com a auxiliar de serviços gerais, Iraci Batista de Souza, nascida em Cáceres (MT) e moradora de Vilhena, a 750 quilômetros de Porto Velho. “Esta é a terceira vez que venho aqui. No Barretinho [Hospital de Câncer] disseram que tive cinco filhos; tenho três vivos”, ela contou.
COMO OCORRE
Quando a mulher começa a sangrar, ela vai para a maternidade, onde tem a mola identificada. A mola ocorre a partir de tecido placentário no início da gravidez, quando o embrião não se desenvolve normalmente.
O tumor da placenta se apresenta sob a forma de um aglomerado de cistos semelhantes a um cacho de uvas. A causa decorre de defeitos na formação de espermatozoides ou de óvulos, ou ainda, da união anormal dessas duas cédulas.
A mola parcial e completa pode evoluir para forma a persistente, e a mola completa é caracterizada pela ausência de embrião. Segundo a médica Rita de Cássia, na mola parcial existe tecido placentário junto com os silos e há o embrião, entretanto, mesmo que ele esteja presente, é importante saber se não se trata de embrião normal, devido à má formação fetal. “Incompatível com a sobrevivência”.
ONDE FICA
O Centrogesta funciona no Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro
Avenida Governador Jorge Teixeira de Oliveira, 3766 – Setor Industrial
Telefone (69) 3216 5700
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia
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