Quarta-feira, 23 de dezembro de 2015 - 07h25
Desde que deu à luz as gêmeas Lívia e Helena, suas primeiras filhas, Kastiúcia Condack, 24 anos, de Cujubim, está nas hábeis mãos da equipe do Método Canguru. Lívia nasceu em 7 de novembro, com apenas 1kg850, Helena com 1,075 kg.
O endereço mais procurado por mães com gravidez de alto risco em Porto Velho e na Amazônia Ocidental é a enfermaria especializada do Hospital de Base Ary Pinheiro, que faz jus ao certificado recebido do Ministério da Saúde em 20 de julho deste ano ao adotar o Método Canguru para bebês prematuros [abaixo de 37 semanas de idade gestacional].
“Eu achei muito interessante o que me ensinaram”, disse Michelly Barros Aguiar, 15, que ganhou Elisa Valentina, de 1,540kg, no dia 2 de novembro. Referiu-se à aula de primeiros cuidados com bebês nessas condições. O companheiro Lucas Américo Soares, 18, irá acompanhá-la nos cuidados com a filha.
“Ela chora um pouquinho, mas é só isso, e mama bastante”, contou a estudante Andriely de Jesus Bosi, 18, de Ji-Paraná, que ganhou Anna Gabrielly no dia 7. A bebezinha nasceu com 2,6 kg. Todas as mães tiveram partos cesários, que totalizam 2,5 mil por ano na estatística do HB, seguidos de partos normais, que somam 1,4 mil.
Inicialmente, esse método especial se chamava “Mãe Canguru”, mas já incorpora os pais, que igualmente são chamados a participar dos cuidados com recém-nascidos. Assim se denomina devido à maneira pela qual as mães carregam seus bebês após o nascimento, tal qual os masurpiais.
Mães e pais têm sete refeições por dia, na copa da enfermaria. “A atenção humanizada é tudo nessa equipe multiprofissional com cerca de 80 pessoas”, disse a médica pediatra coordenadora do método, Telma Márcia Alencar de Freitas Ferreira.
O Canguru funciona em três etapas: desde o período pré-natal à UTI neonatal; na segunda, a mãe se dirige à enfermaria e ali permanece 24h, aprendendo a cuidar do recém-nascido: aprende a dar banho delicadamente, com água morna; amamentam, trocam fraldas e ficam sabendo que em dia de chuva o cuidado é redobrado, evitando-se o banho durante a queda de temperatura externa. Mas é o calor da mãe o componente maior, explicou Telma Ferreira. “Esse calor é como se fosse a incubadora para todos os bebês com peso inferior a 2,500kg.
Na terceira etapa, a mãe faz o caminho entre o lar e a unidade hospitalar mais próxima, para a pesagem a cada 72h. Depois disso, é feita a reavaliação do bebê e, se necessário, a reinternação. Os bebês nascidos com peso até 1,800 kg precisam inteirar o peso de 2,500kg. Antes do método, eles deixavam a enfermaria com 2kg.
Segundo Telma Márcia, a chamada alta precoce aumenta a rotatividade de leitos vagos. “Depois da alta, a mãe visita o follow up [ambulatório de segmento], que funciona no Banco de Leite. “O pai pode e deve fazer parte”, aconselhou a médica. “Sempre que puder, ele vem aqui e permanece o tempo todo ao lado da mãe”, ela apelou.
RECURSOS DO SUS EM 2016
Para a enfermeira Andreia Prestes de Menezes, a falta de exames pré-natal exige o máximo de fôlego do HB. “A competência para fazer esse exame é dos municípios”, alertou.
Mas o avanço tecnológico do HB em todos os setores também contempla as gestantes de alto risco. O diretor geral Nilson Cardoso Paniágua menciona a aquisição de aparelhos de tococardiografia, indispensáveis; e a UTI neonatal com 24 leitos e 45 nos berçários. “Eles dão suporte ao acompanhamento da gravidez de alto risco”, explicou.
Só em 2016 o Sistema Único de Saúde destinará recursos financeiros para o Canguru no HB. No entanto, conforme Paniágua, seis leitos já estão cadastrados e foram logo aumentados para 12. “Ele é mais barato que a assistência intensiva neonatal, porque estimula os vínculos materno e paterno, reduzindo o tempo de internação. Qual é a mãe que não quer ficar perto do filho?”, argumentou.
Para o diretor geral, a certificação do HB pelo Ministério da Saúde se deu “graças ao empenho, à persistência e à proatividade da equipe”.
HOSPITAL ESCOLA E RESIDÊNCIA MÉDICA
Multiestadual e multinacional. Assim é o HB, um hospital-escola por onde passam diariamente 2 mil pessoas: mil são internadas e mil acompanhantes. “Recebemos pacientes de Mato Grosso, de Humaitá [sudoeste amazonense], de Rio Branco [Acre], da fronteira”, ele informou. “E não são apenas dessa região próxima a Vilhena [noroeste de MT], mas até de Cáceres [a 1.242,6 quilômetros de distância]”, observou Paniágua.
O Centro Obstétrico tem 20 a 30 médicos permanentemente, dos quais, três plantonistas, dois residentes, dois anestesistas, e a equipe de enfermeiros e técnicos de enfermagem. No alojamento conjunto ficam dois a três médicos visitadores obstetras e dois pediatras, com a equipe de residentes e da enfermagem, técnicos, psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas.
Em tratamento clínico, o HB totaliza 3,6 mil pessoas vindas do interior, de capitais vizinhas, de estados vizinhos e da fronteira. “A maior demanda é de infecções urinárias, hipertensão arterial e diabetes. A média de permanência é de sete a dez dias, conforme o caso”, disse o médico.
Ele destaca o convênio com a Universidade Federal de Rondônia, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Faculdades Integradas Aparício Carvalho e Faculdade São Lucas. Estudantes da área de saúde nessas acompanham todas as atividades clínicas hospitalares dentro do estágio médio de quatro a cinco horas/dia, que eles frequentam acompanhados de professores preceptores.
CURSO
O Método Canguru foi levado à Atenção Básica de Saúde nos dias 15 e 16 quando foram treinados 40 profissionais de saúde pública. O Método Mãe Canguru, também conhecido como “Cuidado Mãe Canguru” ou “Contato Pele a Pele”, tem funcionado como alternativa ao cuidado neonatal convencional para bebês de baixo peso ao nascer. Foi idealizado e lançado de forma pioneira por Edgar Rey Sanabria e Hector Martinez em 1979, no Instituto Materno-Infantil de Bogotá, Colômbia.
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia
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