Quarta-feira, 15 de outubro de 2008 - 12h53
Ditadura expulsou padre Jentel do País
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
BRASÍLIA – Em abril de 1967 o povo de Santa Terezinha (nordeste mato-grossense), no Araguaia, a 1.311 quilômetros de Cuiabá, enviava ao Ministério da Agricultura um longo memorando no qual descrevia a situação precária da posse da terra na região e pedia a criação de um distrito. A Polícia Militar defendia os interesses dos fazendeiros. Os posseiros apelavam então ao padre francês François Jentel.
Ele procurava pessoalmente em São Paulo os diretores da Companhia de Desenvolvimento do Araguaia (Codeara), para reivindicar os direitos dos posseiros. Esforçava-se, mas não os convencia. No poder estava o general Arthur da Costa e Silva, que assinou em 29 de novembro de 1967 um decreto autorizando o antigo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra) a intervir em favor dos camponeses. Em outubro de 1969 o Ibra atendeu-os, mas logo a Codeara conseguiu anular a decisão.
Acusado de subversão, padre Jentel foi julgado e condenado /PRELAZIA S.FÉLIX |
No período em que o padre Jentel trabalhava na Prelazia de São Félix do Araguaia, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia incentivava empresários do sudeste brasileiro a abrir grandes fazendas em Mato Grosso.
Subversão
Sucederam-se, então, atentados contra posseiros. A ditadura militar usava muito a palavra "subversão". Não demorou muito para que o padre Jentel e o líder camponês Edival Pereira dos Reis fossem rotulados de subversivos.
Entre 1971 e 1972 os ânimos se exaltaram. Com um trator, empregados da fazenda derrubaram as paredes de uma clínica construída pelos moradores apoiados pela Igreja. As denúncias desse e de outros atos de violência chegavam à longínqua Cuiabá, no entanto, as autoridades não tomavam medidas contra os fazendeiros.
"Ameaça à segurança nacional"
Em três de março de 1972, novamente homens da Codeara e PMS à paisana, armados, foram até a clínica. Os paroquianos pegaram em armas e atiraram. Sete pessoas ficaram feridas. O povoado foi posto sob controle militar.
Processado, o padre Jentel entrava para os arquivos militares. Ele e os líderes paroquianos. Foi levado a julgamento em maio de 1973 numa auditoria militar, diante de um juiz civil e quatro militares. Estes ignoravam o fato de a Codeara ter invadido terras da Igreja e dos camponeses.
O promotor acusava Jentel de "ameaçar a segurança nacional" e de "atacar a legitimidade do regime militar". Junho de 1973: contra o voto discordante do juiz civil, o tribunal sentenciou o padre a dez anos de prisão. Ele passou um ano preso e em seguida foi expulso do País.
Pecuária na região do Araguaia colocou fazendeiros em oposição à Igreja |
Arquivos da CNBB guardam história
BRASÍLIA – Em sua tese de mestrado em comunicação social na Universidade de Brasília, em 2007, Eliane Muniz Lacerda lembra que no mês de dezembro de 1968, três padres franceses e um diácono, todos da Congregação dos Agostinianos, foram detidos pelos militares em Belo Horizonte por seu envolvimento com a Pastoral Operária. Quase um ano depois, em novembro de 1969, onze dominicanos foram presos, alguns deles torturados, acusados de apoiar o ex-deputado comunista Carlos Marighella.
Seis anos após a prisão dos dominicanos (1975), o padre Jentel foi expulso do Brasil por apoiar a luta dos camponeses pela posse de terra. Dois anos mais tarde, mais dois religiosos foram ameaçados de expulsão: o espanhol dom Pedro Casaldáliga, na época bispo de São Félix, e o sacerdote suíço Romain Zufferrey, ligado à Pastoral Operária da arquidiocese de Olinda e Recife.
Segundo Ismar Soares revela no livro "Do Santo Ofício à Libertação: o discurso e a prática do Vaticano e da Igreja Católica no Brasil sobre a comunicação social", Paulinas, 1988, pág. 270), entre 1968 e 1978, 122 religiosos e 273 leigos foram presos e nove padres expulsos do Brasil. Os cinco casos lembrados acima são, portanto, apenas uma pequena amostra do grande número de padres e freiras acusados pela ditadura de praticar atividades subversivas. Um arquivo jornalístico com 18 desses casos, no período de 1968 a 1979, é cuidadosamente guardado na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília. (M.C.)
Áreas (em hectares) com incentivos fiscais
Agropecuária Suiá-Missu 695,8 mil
Companhia de Desenvolvimento do Araguaia (Codeara) 196,4 mil
Agropecuária do Araguaia (Agropasa) 48,1 mil
Tapiraguaia Agrícola e Pecuária 21,9 mil
Colonização e Representações do Brasil (Corebrasa) 52,2 mil
Agropecuária São Francisco do Xingu 21,0 mil
Agropecuária Guanabara 25,8 mil
Agropecuária São José 19,9 mil
Agropecuária Santa Rosa 19,3 mil
Agropastoril Nova Patrocínio (Fazenda Porta da Amazônia) 26,8 mil
Agropecuária Tapirapé (Fazenda Tapirapé) 27,06 mil
Buritizal Agropecuária 30,6 mil
Porto Velho Agropecuária 49,9 mil
Agropecuária Foltran 13,7 mil
Agropecuária Três Marias 20 mil
Tabaju Agropecuária 19,9 mil
Urupianga Agropecuária 50,4 mil
Rancho Santo Antônio 21,7 mil
Pastoral Agropecuária Couto Magalhães 50,1 mil
Agropecuária Duas Âncoras 23 mil
Agropecuária 7 de Setembro 18,5 mil
Agropecuária Médio Araguaia (Agropema) 11,3 mil
Companhia Agropastoril Sul da Amazônia 24,2 mil
Joaçaba Agropecuária 9,7 mil
Cia.de Desenvolvimento Agropecuário de Mato Grosso (Codema) 26,8 mil
Empresa Agropecuária Ema 8,9 mil
Agropecuária Alvorada Mato-grossense (Apame) 29,7 mil
Santa Luzia Agropecuária 4,9 mil
União Gaúcha Colonização Agropecuária (Soguacha) 26,3 mil
Fazenda Tanguro Agropecuária 33,5 mil
Agropecuária Santa Sílvia 39,5 mil
Fazenda Nova Viena 29,5 mil
Sociedade Agropecuária do Vale do Araguaia (Sapeva) 72,5 mil
Agropecuária Califórnia Comércio e Indústria (Agroinsa) 29,8 mil
Agropecuária Duas Pontes Área não revelada Área não revelada
Agropecuária Nova Amazônia (Frenova) Área não revelada
Agropecuária Cocal Área não revelada
Curuá Agropecuária 9,4 mil
Noidori Agropecuária Área não revelada
Elagro Pecuária 29,4 mil
Pabreulândia Agropastoril do Brasil Central Área não revelada
Nativa Agropecuária Área não revelada
Fazenda Nova Kênia Área não revelada
Agropecuária Brasil Novo 27,9 mil
Agropecuária Planalto (Agroplasa) Área não revelada
Agropastoril Barra do Garças 9,9 mil
Agopecuária Tamakavy 24,9 mil
Agropecuária Roncador 24,2 mil
Agropecuária Colorado 5,4 mil
Fazendas Associadas do Araguaia (Faasa) 10 mil
Agropecuária São João da Liberdade Área não revelada
Agropecuária Rio Manso Área não revelada
Companhia Agrícola e Pastoril São Judas Tadeu Área não revelada
Rio Fontoura Agropecuária 14,8 mil
Tracajá Agropecuária 29,8 mil
Independência Agropecuária Área não revelada
Sociedade Agropecuária Brasil Central 31,1 mil
Agropecuária Tatuibi 19,3 mil
Norte Pastoril Mato-Grossense Área não revelada
Companhia Agropecuária Sete Barras 19,3 mil
Companhia de Desenvolvimento Garapu (Codesga) 9 mil
Agropastoril Campo Verde 64,8 mil
Agropastoril Aruanã (Ciagra) Área não revelada
Colonização e Representações Brasileiras (Colbrasa) 24,9 mil
Agropecuária Bela Vista 36,1 mil
Agropecuária Remanso Açu Área Área não revela
Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
E o secretário de segurança injuriava advogados de Ji-Paraná: “São feras”
Abril de 1981: A Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Território Federal de Rondônia transferia “para data oportuna” a sessão de desagravo
“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”
Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado
Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025
A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa
PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho
Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre