MONTEZUMA CRUZ
O português é hoje a segunda língua entre os índios do Estado de Roraima, que constituem 50% da rede pública de ensino. O estado possui a maior população indígena do País — cerca de 46 mil indivíduos. Embora o xamanismo permaneça forte nas aldeias, especialmente entre os Ianomâmis, o contato com o homem branco e a invasão de garimpeiros — entre o final da década de 80 e início dos anos 90 (do século 20) — trouxe problemas ambientais e de saúde às aldeias. Os índios tornaram-se dependentes do sistema tradicional de saúde, remédios e vacinas. São hoje assistidos pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
As observações foram feitas hoje pela coordenadora do Programa de Educação Intercultural da Comissão Pró-Ianomâmi, Lídia Montanha Castro, ao anunciar a regularização de 24 escolas indígenas, depois de seus anos de reivindicações. Até o fim deste mês, o Conselho Estadual de Educação de Roraima vai autorizar o funcionamento dessas escolas e reconhecê-las, definitivamente. O Decreto nº 7.973/2007, que trata da criação, foi publicado em maio. “As escolas ianomâmis foram incorporadas ao sistema de ensino do Estado há quatro anos; faltava um instrumento legal para regularizá-las”, disse o secretário Educação, Cultura e Desportos, Luciano Fernandes Moreira.
Lídia Castro lembrou que os serviços se tornaram deficitários ao longo dos anos. “Doenças já controladas, entre as quais a malária, voltaram a se manifestar”, assinalou. Além da dependência do sistema público de saúde, os Ianomâmis necessitam de bens de linha, anzol e facas, bens de consumo adquiridos fora da comunidade. A economia de subsistência indígena é autônoma, com predominância de atividades de caça, pesca, coleta e extrativismo.
Parcerias essenciais
Os efeitos da medida serão retroativos ao Censo Escolar de 2003, alcançando escolas dos municípios de Alto Alegre, Amajari e Iracema. Segundo Moreira, 214 escolas estaduais são indígenas e formam a metade da rede pública, um fenômeno nacional ainda não totalmente conhecido.
Moreira explicou que o Projeto Tamikan, da Universidade Federal de Roraima, dá formação superior aos indígenas. A primeira turma concluirá o curso em julho de 2008. As comunidades ianomâmis também freqüentam um curso específico para formação de professores. Outro projeto, o Yarapiari, funciona desde 2001 e possui 32 alunos. A primeira turma que recebeu formação do Ensino Fundamental ao nível médio em magistério indígena termina as atividades no ano que vem.
Pela atual concepção metodológica, os professores trabalham com três das quatro línguas ianomâmis, em busca da criação de neologismos nas línguas nativas para a incorporação de termos não-indígenas. Assim, conforme Lídia Castro, as línguas continuam vivas, dinâmicas e em condições de sobrevivência. “Hoje, a educação indígena em Roraima é o foco principal do MEC”, afirmou.
Agora será criado o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena, com a produção de materiais didáticos específicos. Paralelamente deverá funcionar um projeto de educação a distância, em parceria com o governo federal, para a integração de diversas escolas geograficamente distantes. Escolas sem eletricidade vão utilizar kits de geração de energia desenvolvidos pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente eles estão em fase de testes.
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Saiba mais
Roraima, o 14º Estado brasileiro em extensão territorial, com 225,1mil quilômetros quadrados, situa-se no extremo norte, no ponto mais setentrional do Brasil. Faz fronteira com a Venezuela e a Guiana e abriga em seu território o Monte Caburaí, o ponto mais setentrional do País. A Floresta Amazônia cobre mais de 60% da sua área.
É o Estado menos populoso e o de menor densidade demográfica do país. Tem 324,1mil habitantes, a 27ª população do País. Mais da metade da sua população vive na capital, Boa Vista.
Áreas indígenas ocupam 104,01 mil km², ou seja, 46,37%.
As principais tribos indígenas do Estado são Macuxi, Taurepang, Ingarikó, Ianomâmi, Wapixana, Maiongong, Waimiri e Wai-Wai
A abertura da BR-174 (Manaus-Boa Vista e Boa Vista a Pacaraima) em 1977, provocou a primeira corrida migratória a Rodaima. Os garimpos foram responsáveis por essa atração.
Origem do nome: Roro, rora, significam verde; ímã quer dizer serra, monte, no idioma indígena Ianomâmi. Serra Verde reflete o tipo de paisagem natural encontrada na região.
Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)