Quarta-feira, 16 de maio de 2012 - 20h46
MONTEZUMA CRUZ
De CHINCHERO, Vale do Rio Urubamba, Peru
Mais ingerência norte-americana no Peru: a cadeia de lojas Starbucks, dos Estados Unidos, anunciou que a partir de junho substituirá pelo licopeno o uso do corante produzido pela colchonilha (Dactylopius coccus). Essa decisão afetaria grupos de mulheres pobres de Chinchero, nos Andes peruanos, cuja produção diária utiliza cerca de 30 plantas nativas e o corante carmim, obtido com a dissecação da colchonilha.
Esse inseto serve também para a fabricação de cosméticos. Dentro da classe dos insetos, elas são classificadas na ordem Hemiptera, a exemplo dos pulgões e das cigarras. Existem mais de 67,5 espécies de Hemiptera. Para defender-se da predação por outros insetos, a colchonila produz ácido carmínico. Extraído do seu corpo e ovos, ele é utilizado para fazer o corante alimentício que leva seu nome. No Brasil ela é também uma praga de jardim.
Preocupação ambiental ou interesse financeiro? Cerca de seis mil pessoas assinaram nos Estados Unidos uma petição contra o uso da tinta produzida pelo pequeno inseto, cujo hábitat se estende por todos os arredores das pequenas cidades dessa região peruana, cujas vielas e ruas construídas há séculos com paralelepípedos dão acesso a picos nevados, pedras e terraços nos quais a civilização inca usava técnicas de irrigação avançadas para sua época.
A associação das artesãs desta cidade situada 28 quilômetros a nordeste de Cusco, no Vale do Rio Urubamba, não depreda a natureza: o inseto se reproduz aos milhares, a exemplo de cigarrinhas, das cigarras e dos pulgões, na América do Sul.
A produção de uma toalha artesanal em Chinchero demora até 30 dias, informa a associação. As peças – toalhas, tapetes, mochilas, bonecas, ponchos e objetos para mesa e cozinha – são vendidas entre 20 e 80 soles (respectivamente, R$ 14 e R$ 55).
MILITARES AMEAÇAM FAMÍLIAS MISERÁVEIS
Agressões das Forças Armadas Peruanas em Kiteni e Echarati, na região de Cusco, revoltam setores sociais e surpreendem a própria imprensa. O Exército enviou soldados para lá um “centro de operações com apoio da Defesa Civil.” Por trás dessa manobra, o objetivo é acuar jovens senderistas sob a liderança de Martín Quiste Palomino, o Camarada Gabriel.
Desde abril o Sendero Luminoso tirou o sono do gerente Humala, ao decidir sequestrar 36 trabalhadores do Consórcio de Gás de Camisea, todos liberados sem sinais de violência antes do final daquele mês. Dois policiais foram mortos quando desciam de helicóptero na região onde estavam os guerrilheiros, no Valle del Río Apurímac e Ene (VRAE). A TV peruana diz que os senderistas “derrubaram o helicóptero.”
Na caçada, os membros das Forças Armadas Peruanas não identificam plenamente a população pobre da região, cuja vida é praticamente “ilhada” na floresta de Cusco. Em editorial, El Diario del Cusco protestou contra a situação, deixando claro que o líder Gabriel acredita em sua luta e “ela é digna, porque o Estado não tem presença efetiva, nem coordenada na região.”
Se viviam em situação de penúria, sem energia elétrica e sem comunicações, os moradores vivem agora intranquilos por causa de abusos e da crueldade militar. Há denúncias de invasão de casebres pobres de campesinos. Por esse motivo, o jornal alertou que as Forças Armadas correm o risco de se tornarem “enemigas del pueblo, de los que buscan refugio y solo hallan agresiones y faltas de respeto.”
Há muitos anos, queixa-se o jornal cusquenho, o Estado Peruano “não exerce qualquer tipo de presença na região”, e agora dirige ataques diretos à população. “Não vamos permitir isso”. Apesar de manifestar confiança nas Forças Armadas, El Diario del Cusco lamenta: “Não é possível que os militares, desde Lima, só acusem a população de estar em conluio com os senderistas, quando tem demonstrado que sua presença é agressiva”. E conclui: “Não esperem apoio, pois só encontrarão mais inimigos, inclusive fantasmas onde eles não existem.”
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