Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019 - 10h41
Dias depois do seu discreto desembarque
de um voo procedente de Manaus (AM), o capitão de engenharia do Exército
Anachreonte Coury Gomes mandou prender diversos notáveis da então pacata Porto
Velho.
Na primeira tacada foram 20
pessoas que se manifestariam opositoras ao regime militar instaurado
no País no dia 1º de abril de 1964.
“Ele agiu com arrogância e arbitrariamente, pois o
governador que viria assumir o cargo era o tenente-coronel José Manoel Lutz da
Cunha e Menezes, e estava nomeado desde 24 de abril pelo presidente Humberto de
Alencar Castelo Branco”, avalia o professor e historiador Abnael Machado de
Lima.
Anachreonte nem reconhecera as dificuldades enfrentadas
no exercício do cargo por ex-governadores do Território Federal de Rondônia,
entre os quais os tenentes-coronéis Paulo Eugênio Pinto Guedes e Abelardo de
Alvarenga Mafra, este, duas vezes governador. Paulo Guedes, por exemplo, com
créditos cortados pelo comércio, pediu exoneração [matéria no próximo
capítulo].
Com a exoneração do governador Alvarenga Mafra, que
ocupara duas vezes o cargo, o secretário geral* do Território Eudes Campomizzi
Filho assumiu interinamente, mas Anachreonte o expulsou do Palácio Presidente
Vargas. Eudes havia sido prestigiado por Mafra e tinha total conhecimento da realidade
rondoniense.
Nem juiz de direito foi poupado nos dias cinzentos entre
o final de março e início de abril de 1964 no Território Federal de Rondônia.
Segundo consta na Memória do Judiciário de Rondônia, mesmo
com expressiva produção de sentenças e despachos, o que fazia com rapidez,
sem se desdobrar a interesses políticos, o juiz de direito da Vara Cível Joel
Quaresma de Moura foi compulsoriamente aposentado pelo Ato Institucional
nº 5.
“Sou agente da Revolução”, foi logo dizendo o capitão ao
subir a escada até o 1º andar. No gabinete, depois de alguns dias de passeio e
de conversas na cidade, o oficial que até então se mantinha incógnito, mandou
prender pessoas, especialmente líderes políticos, estudantis, e servidores
públicos.
Somente em seis de maio de 1964 o presidente Humberto de
Alencar Castelo Branco assinava e fazia publicar o Ato Institucional
constituindo a Comissão Geral de Investigações (CGI). Ou seja, mais de um mês
depois das prisões decretadas por Anachreonte. A Comissão teve amparo no
primeiro Ato Institucional.
Ânimos agitados entre servidores e muita fofoca nos
mercados públicos de Porto Velho decorriam não apenas das prisões, mas do
comportamento do capitão, que passou a ser observado mais de perto. Durante o
dia ele investigava a vida das pessoas, à noite se dava a encontros festivos.
Um funcionário antigo do governo territorial conta que o soldado
conhecido por Sebastião fazia serestas para ele na casa onde se hospedara.
Anachreonte não
quis no palácio o então secretário geral e governador interino, obrigando-o a
se declarar impedido de permanecer no cargo. “Fique doente, pegue uma
gripe qualquer, tire atestado de saúde, mas adoeça”, teria sido sua ordem a
Eudes Campomizzi”, menciona o historiador Francisco Matias.
Embora não exista só cópia desse atestado de saúde, muito
menos do decreto de afastamento, o capitão intitulou-se interventor, ocupando o
palácio às 21h do dia 23 de abril de 1964.
“Entre os antigos há quem diga que Anachreonte, homem
invisível, viera de Manaus com ordens para fazer o que fez, ou que só aqui,
onde teria vindo como pagador do Exército recebera determinação de agir”, diz o
jornalista Lúcio Albuquerque. “O capitão pode ter chegado no sábado (28 de
março), observando tudo até terça-feira (31), por isso, ninguém prestou atenção
nele”, analisa.
No início da noite de 31 de março, o
homem que ninguém sabia quem era e nem o que estava fazendo chegou à redação do
jornal Alto Madeira, na Rua Barão do Rio Branco, em frente à Praça Jônathas
Pedrosa.
“Eu estava na porta, Anachreonte deu boa-noite, perguntou
se era ali o jornal, e puxou conversa; quis saber a respeito do deputado
federal Almino Afonso (PTB-AM), líder do partido na Câmara, e eu disse a ele
que o Almino foi garoto criado aqui entre nós, seu pai foi prefeito”, conta o
jornalista Euro Tourinho, hoje com 97 anos.
Alfonso, nascido em Calama, fora ministro do Trabalho do
presidente João Goulart. O capitão também quis saber sobre o deputado
federal Renato Borralho de Medeiros (PSP-RO), que seria depois preso em Porto
Velho e cassado pelo AI 1.
Luiz Tourinho, segundo relata Albuquerque, dizia que
Anachreonte era “uma espécie de oficial pagador do Exército”, que voava em
avião da Força Aérea Brasileira para vir a Porto Velho, Guajará-Mirim e
Forte Príncipe da Beira fazer pagamentos nos quartéis.
“NINGUÉM ENTRA”
“Ele se apresentou: Capitão Anachreonte, da Arma da
Engenharia, vindo de Manaus, onde servia no 27º Batalhão de Caçadores. Em
seguida, falou de sua missão, perguntou se poderia entrar e usar a sala do
diretor para uma reunião, eu consenti”, prossegue Euro.
Instantes depois, conforme relata Euro, chegava o diretor
superintendente Luiz Tourinho. “Foi quando ele convidou meu irmão para ir com
ele a alguns locais da cidade. Mais tarde houve uma reunião, e nela anunciou
sua condição de interventor, destituiu o governo, foi à Prefeitura, onde pegou
as chaves do prédio e deu ordem para ninguém entrar”.
Uma simples nota publicada no jornal Alto
Madeira divulgava a formação do seu gabinete constituído por
partidários do PTB, partido do Presidente deposto.
Ainda naquela noite de 23 de abril o interventor nomeava
os membros do novo governo: empresário Luiz Tourinho (Comunicação), Dorival de
Souza França (chefe de gabinete), Eduardo Lima e Silva (comandante da Guarda
Territorial), tenente do Exército Orlando Freire (Delegado de Polícia da
Capital), professor Lourival Chagas da Silva (Secretário de Educação), médico
Calmon Viana Tabosa (Secretário de Obras), Mário de Almeida Lima (Secretário
Geral e de administração), médico Elias Gorayeb (Secretário de Segurança
Pública), médico Rubens Cantanhede (Chefe do Serviço de Geografia e
Estatística), e Hayden Couto (Chefe do Serviço de Navegação do Guaporé).
Prefeitos nomeados pelo capitão: Hamilton Raulino Gondim, médico (Porto Velho), e Clementino Gomes Pinheiro Castelo Branco, comerciante (Guajará-Mirim). Prefeitos destituídos dos cargos eram filiados ao PSP, partido fundado pelo ex-governador de São Paulo Adhemar Pereira de Barros, apoiador em primeira hora do golpe militar.
PRISÕES QUE ABALARAM A CAPITAL
Em menos de um mês no poder rondoniense, Anachreonte
“limpou a área”, começando pelo próprio secretário geral do governo. Quando
Cunha de Menezes desembarcou em Porto Velho, opositores da Revolução de 1964
estavam fora de circulação.
O advogado e procurador do município, Franco Pinheiro
Mártires, foi compulsoriamente aposentado. O deputado Renato Medeiros seria
depois cassado pelo Ato Institucional nº 5. Entre outros, o capitão ordenou a
prisão de Floriano Riva [prefeito em 1961] e das seguintes pessoas: médico
Rafael Vaz e Silva, oficial da Guarda Territorial Oswaldo Távora Buarque,
engenheiro Harry Covas, Raphael Jayme Castiel [prefeito em 1951], prefeito
interino José Oliveira Barroso, Carmênio, contabilista Cloter Saldanha
Mota [vereador nos anos 1970], comerciante Miguel Chaquian, e sambista
Eliezer Santos, Bola Sete, criador do bloco As
Pastorinhas.
As prisões ocorriam à noite. Primeiro vendedor de
bilhetes da loteria federal na cidade, o baiano Eliezer chegou a Porto
Velho em setembro de 1943, como soldado da borracha, trabalhou no
Hospital São José, foi também jardineiro na Praça General Rondon, e vendedor de
bombom.
Ironia do líder estudantil João Lobo, cujo nome originou
a formação do bairro Cidade do Lobo: “As instalações da Guarda Territorial eram
bem modestas, e para lá levaram os funcionários públicos, enquanto nós
[apontados como comunistas] fomos levados para o quartel da 3ª Companhia e
instalados no confortável cassino dos oficiais; era como se nós fôssemos presos
de primeira categoria e eles de segunda”.
“O rancho (comida) no quartel da Guarda era
intragável, já os subversivos alojados no Comando da 3ª Companhia de Fronteira
(atual 17ª Brigada) tinham direito à mesma alimentação servida aos oficiais”,
lembra Barroso.
NOVO PREFEITO INTIMADO À NOITE
Mais ironias, uma delas contada pelo historiador Esron
Penha de Menezes: a mando do interventor, uma patrulha militar chegou à noite
ao portão da casa do médico Hamilton Raulino Gondim (PTB), intimando-o a se
dirigir ao palácio. “De pijama e nervoso, ainda sem saber que seria
nomeado prefeito, Gondim apontava para a casa ao lado, dizendo: o comunista
mora ali” – contava o falecido historiador.
O vizinho dele era outro médico notável, Ary Tupinambá Pena Pinheiro,
intelectual que participara de uma das campanhas de saúde pública na fronteira
Brasil-Bolívia.
Gondim substituiria o funcionário Barroso, que ocupava
interinamente o cargo anteriormente exercido por Raphael Jayme. Ativo
participante da campanha vitoriosa do médico Renato Medeiros à Câmara dos
Deputados, Barroso acumulava a experiência de secretário da prefeitura e de
interino de Castiel. Contra ele pesava acusação de malversação de verbas
públicas.
“Fui preso pela ditadura na madrugada do dia 1º de abril
de 1964, e em 2012 o Ministério da Justiça acatou o meu pedido de anistia
política”, lembra. Ex-vereador em Jaguaruana (CE) e ex-funcionário do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, ele chegou a Rondônia em 1959.
Colaborou com os jornais Alto Madeira e O
Guaporé, formou-se técnico em contabilidade em 1963. Também lecionou
Português e Contabilidade Pública na Escola de Comércio, Estudo e Trabalho.
Quando estudante secundarista, fundou o Grêmio Oswaldo
Souza e dirigiu o jornal Tribuna Estudantil. Elegeu-se duas
vezes presidente da União dos Estudantes do Guaporé. Com amigos, também fundou
o Clube Bilu Teteia, que durou 25 anos. Montou o Bar Caiçara,
depois transformado em restaurante com o nome de Taba do
Cacique, em homenagem ao seu pai, Augusto Barroso, que gostava de
literatura indigenista e o influenciou na escolha do nome. É escritor e
poeta, com coletâneas publicadas.
O sucessor Gondim tinha larga experiência de sanitarista.
Em 1948 estudou em Washington, DC (EUA), e dois anos mais tarde fora
designado para uma missão do governo territorial em Guajará-Mirim, então
atacada pela febre amarela. Em 1951, também exercera o cargo de prefeito
nomeado daquela cidade. “Ele foi o segundo médico a utilizar a penicilina em
Porto Velho; o primeiro foi seu amigo Rubens Britto”, conta o médico Viriato
Moura, diretor do Hospital Central.
ALVOROÇO NO AEROPORTO CAIARI
O delegado Orlando Freire recebera a ordem para ir ao
aeroporto prender, na escada do avião da Panair, o ex-prefeito demitido Raphael
Castiel, que retornava a Porto Velho. Era amigo pessoal dele.
Conta Abnael de Lima: “A população sabia da chegada e
muita gente foi recebê-lo, lotando o pequeno saguão do Aeroporto do Caiari. Um
contingente reforçado da Guarda Territorial tomou posição, porque se cogitava
que iriam resgatar o ex-prefeito, mas isso não aconteceu, e dali Castiel seguiu
para o quartel da Guarda, a cerca de 500 metros da pista de pouso”.
A 3ª Companhia de Fronteira era comandada pelo major
Carlos Augusto Godoy, depois coronel. Anteriormente fora comandante do 6º
Batalhão de Fronteira em Guajará-Mirim, a 362 quilômetros de Porto Velho, na
fronteira brasileira com a Bolívia.
Filha de Raphael e da ex-professora, diretora de educação
e vereadora Marise Castiel, a escritora Sandra Castiel relata: “Nessa
situação, minha mãe que era muito corajosa, ficou desesperada, porque se viu
com sete filhas das quais apenas uma era casada. Aí eu vi sua valentia: ela
arregaçou as mangas, escreveu uma carta para comandante, denunciando os desmandos
do interventor Anachreonte, que só prendia pele curtas. Ao tomar
conhecimento da carta, o interventor a suspendeu do serviço público por 15
dias.
Anteriormente, Anachreonte visitara o colégio, onde
também conhecera o professor Dourival de Souza França, que lecionava Português
e Francês. “Trancaram-se na sala, conversando durante mais de uma hora”,
testemunhou o historiador Abnael de Lima. “Quando visitava uma escola, se não
havia professor para uma turma, ele perguntava qual o assunto que estavam
estudando e aí aplicava a matéria; era um excelente professor de matemática”.
As prisões repercutiram em Brasília e São Paulo, pois
atingiu membros do governo e da prefeitura, e muitos tinham ligação com o
Partido Social Progressista. O PSP, conforme publicamos em matérias
anteriores, era liderado pelo governador paulista Adhemar Pereira de
Barros, um dos líderes civis na deposição do governo João Goulart. Do que se
concluiu: o capitão prendera até correligionários do governo.
O prefeito Raphael Castiel construiu a Praça Aluízio
Ferreira, o Mercado do Km 1, urbanizou o bairro do Areal entre outras obras.
ESTUDANTES E TRABALHADORES
Porto Velho tinha sindicatos atuantes e os jovens
ginasianos eram filiados à União dos Estudantes. Na Escola Carmela Dutra
destacava-se o aluno João Lobo, ativo participante da entidade que se reunia
com segmentos de trabalhadores aos sábados na casa do jornalista acreano
Dionísio Xavier, Dió. Almoçavam feijoada e, em seguida,
se revezavam na doutrinação com Cloter Saldanha Mota, que com ele organizava
o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
“Moradores do bairro Arigolândia também participavam das
reuniões e novas lideranças se destacavam, entre elas, Otávio Félix e
Zacarias”, recorda o historiador Abnael Machado de Lima.
Em outubro de 1963 o Grupo dos 11, liderado pelo então
deputado federal do extinto Estado da Guanabara, Leonel de Moura Brizola,
também tinha seguidores em Porto Velho. Esse grupo pressionava o presidente
João Goulart para fazer as Reformas de Base, mas teve vida curta a partir do golpe
militar de 1964.
JORNALISTA PRESO NO QUARTEL
A população só tomaria conhecimento da situação na
quarta-feira, 1º de abril. Euro Tourinho, atualmente com 97 anos, relata:
“Patrulhas mistas do Exército e da Guarda Territorial circulavam pela cidade,
impedindo reuniões nas esquinas, prendendo gente e bloqueando ruas; as prisões
aconteciam mais à noite, quando uma viatura com a patrulha chegava, soldados
batiam na porta, e aí quem estava procurado era levado preso”.
Para sobreviver politicamente, Dió,
filiava-se à Arena (Aliança Renovadora Nacional). Já o jornalista Inácio
Mendes, proprietário do jornal O Combatente, foi o preso político que
mais sofreu. Levado ao quartel da 3ª Companhia de Fronteira, ficou exposto ao
público numa cadeia próxima à rua.
Irreverente, quase no final de abril publicara na
primeira página que o capitão “era veado”. À meia-noite, o delegado de polícia
Sebastião Corrêa, invadiu a sede do jornal, disparou um tiro para cima,
acusou-o de ter feito o disparo, e o prendeu por tentativa de homicídio. Mendes
ficou quase um ano na prisão e, ao ser libertado, voltou à atividade, fazendo
circular O Combatente. Em 1969 ele foi eleito vereador pelo MDB,
ganhou prestígio e se apresentou para disputar a convenção do partido para se
candidatar à Câmara dos Deputados. O MDB preferiu o advogado Jerônimo Santana.
JUÍZES MALVISTOS PELO INCRA
“Havia Lei, e o juiz tinha que cumpri-la, mas o Incra
[Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] achava que a lei era
ele”, depõe o advogado Pedro Origa Neto, um dos fundadores da Seccional de
Rondônia da Ordem dos Advogados do Brasil.
“Tanto o juiz federal Antônio Alberto Pacca [cassado
depois] como o juiz Joel Quaresma de Moura apresentam uma atuação forte quanto
à quantidade de trabalho, não tendo sido, portanto, a incompetência o motivo da
exoneração, mas possivelmente tenha sido provocada por questões ideológicas”,
analisa o ex-desembargador Aldo Castanheira.
Em depoimento ao Centro de Documentação Histórica Memória
do Tribunal de Justiça, Castanheira menciona: “Algumas informações dão conta de
divergências desses juízes nas decisões tomadas com relação ao Incra, outros
falam em improbidade, mas, mediante observações feitas por juízes aposentados e
advogados que à época exerciam as atividades, vamos perceber que dentre os
membros do judiciário havia discordância e atitudes contrárias que foram
punidas”.
Flagrado em atos de pederastia na casa onde se hospedava
em Porto Velho e terminado o seu período de intervenção, o capitão Anachreonte
retornou a Manaus, onde foi interventor na prefeitura. Dali, o Exército o
retirou do oficialato,
Morreu assassinado no apartamento onde morava, no centro
do Rio de Janeiro, por um jovem com quem se relacionava e para o qual na noite
do crime, oferecera um jantar. Seu retrato na consta na galeria de governadores
do Palácio Rio Madeira.
SECRETÁRIO GERAL MANDAVA
*A Secretaria Geral, órgão central da administração territorial, auxiliava o governador na coordenação e orientação das atividades das repartições, estabelecimentos e serviços; coordenava e controlava a execução orçamentária das municipalidades [Porto Velho e Guajará-Mirim]. Pessoal, material, contabilidade, comunicações, tesouraria, delegacias e sub-delegacias de Polícia também estavam sob seu controle. O secretário geral exercia, cumulativamente, as funções do chefe de segurança pública.
1964, A QUEDA DE JANGO
O golpe militar foi precipitado pelo comandante da 4ª Divisão de
Infantaria, general Olímpio Mourão Filho, oficial de pouca expressão, que pôs
seus recrutas em marcha de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro na manhã
de 31 de março.
Nas horas seguintes, diante da falta de reação do
dispositivo militar de apoio ao presidente João Belchior Marques Goulart, Jango,
que temia a eclosão de um guerra civil, os principais chefes militares foram se
alinhando com o esquema golpista. O general Arthur da Costa e Silva, um dos
principais chefes do movimento, autonomeou-se ministro da Guerra (Exército), em
nome da Revolução.
Também falhou a articulação do Comando Geral dos Trabalhadores
para decretar greve geral. Sindicalistas e defensores da legalidade foram
presos nas principais cidades. O governador de Pernambuco, Miguel Arraes, foi
deposto e preso pelo comandante militar da região. A resistência civil, concentrada
na sede da União Nacional do Estudantes (UNE), foi violentamente atacada por
policiais civis e militares, que incendiaram o prédio da entidade na praia do
Flamengo. Protestos foram reprimidos em todo o País.
Jango voou do Rio para Brasília. O presidente do Senado,
Auro Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República, alegando
falsamente que o chefe de Estado teria fugido do País. No dia seguinte tomava
posse, interinamente, o presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli. Por
duas semanas, este se comportou como refém dos ministros militares. Consumado o
golpe, Jango deixou o Brasil pela fronteira sul para exilar-se
no Uruguai. O então deputado Leonel de Moura Brizola tomou o mesmo destino.
Durante uma semana de anarquia institucional, milhares de pessoas foram presas sem
qualquer formalidade. Porões de navios foram transformados em cárceres. No
Recife, o ex-deputado e líder comunista Gregório Bezerra foi amarrado a um jipe
do exército e arrastado pelas ruas. Em Belo Horizonte, a sede do jornal
popular O Binômio foi invadida e destruída. Políticos ligados
ao governo Jango buscaram asilo em embaixadas. Sindicalistas e
militantes de esquerda entraram na clandestinidade.
Somente no dia 9 de abril os três ministros militares
apresentaram-se ao País como “Comando Supremo da Revolução” e editaram um Ato
Institucional – o primeiro de uma série de atos arbitrários. O AI-1 suspendeu
as garantias constitucionais e determinou a eleição, pelo Congresso, de um
presidente para completar o mandato de João Goulart (até janeiro de 1966), com
amplos poderes para mudar a Constituição. No mesmo dia foi divulgada a primeira
lista de cidadãos com direitos políticos cassados por dez anos – uma centena,
entre parlamentares, militares, sindicalistas e intelectuais.
Intimidado e mutilado pelas cassações, o Congresso
entregou a presidência ao general Castelo Branco no dia 15 de abril. Menos de
um ano depois, seu mandato seria prorrogado até 1967, com o cancelamento das
eleições previstas para 1965. As listas de cassações se sucederam até o
penúltimo governo militar. O Amapá ficou sob controle da Marinha; Roraima, da
Aeronáutica, e Rondônia, do Exército. [Com informações do Memorial
da Democracia].
“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”
Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado
Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025
A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa
PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho
Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre
"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta
Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o v