Conflito agrário aumenta após assassinato de Dutra, que voltaria a se candidatar em Rondônia
|
Ex-vereador foi morto próximo à BR-421, na conflagrada região de Buritis / ARQUIVO AGAmaz |
Montezuma Cruz
montezuma@agenciaamazonia.com.br
PORTO VELHO, RO – O motorista de caminhão Edson Dutra, 51 anos, morreu na tarde do feriado de 1º de maio, no Hospital Municipal de Buritis, a 330 quilômetros da capital de Rondônia, próximo à BR-421 (antiga Rodovia da Cassiterita), em conseqüência de um tiro na barriga que varou suas costas. Ele fora internado no dia 29, às oito horas, depois de ser vítima de um cerco feito por empregados da Fazenda Catâneo.
O presidente do Diretório Estadual do PT, Tácito Pereira, informou que ele era pré-candidato a vereador. Dutra deixou mulher e seis filhos. Anteriormente, fora vereador em Alvorada do Oeste, iniciando o mandato em 1996. O PT pediu ao Governo de Rondônia segurança de vida para os sem-terra. O Arcebispo de Porto Velho pediu justiça contra os crimes praticados contra líderes sem-terra no estado.
Segundo nota da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), momentos depois do conflito, soldados da Polícia Militar visitaram a casa de familiares de um acampado atingido no conflito. “No entanto, não se identificaram, já que não usavam tarja com o nome”. Pelo que se apurou, na manhã do dia 29, seis homens armados atacaram o acampamento Conquista da União. Dutra dirigia um caminhão, encontrou uma barreira numa estrada interna, na fazenda. Desceu e foi desimpedi-la, quando foi morto numa emboscada.
A nota critica as autoridades policiais da região, “por fazerem vistas grossas à ação de pistoleiros”. “Acusam os acampados de estarem armados, mas no conflito quem morreu e quem saiu atingido com tiros foram apenas os acampados”, assinala o documento. Depoimentos gravados mostram o desespero das pessoas que presenciaram o ataque. O movimento acusa ainda o jaguncismo, atribuindo sua autoria à família Catâneo. “Eles impõem o terror em Rondônia, invadindo terras da União, com a conivência dos órgãos do Estado”.
Acampamento Raio de Sol: terras na mira da Justiça, para reintegração de posse
Mais ameaças
Na semana passada, após a audiência pública na Câmara dos Deputados, na qual foi ouvido seu dirigente, Nilo Hallak, a LCP denunciou um clima de ameaça a 40 famílias no Acampamento Raio do Sol, na linha C-50, Km 80, em Ariquemes, a cerca de 200 quilômetros de Porto Velho.
“Durante ações de reintegração de posse pela Justiça, os acampados que produzem há dois anos, tiveram seus pertences furtados, pilhas de arroz queimadas, plantações destruídas, casas demolidas e muitos foram presos de forma arbitrária”, diz a LCP.
Para a direção do movimento, as terras onde estão os acampados pertencem à União, embora sejam motivo de uma ação movida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Justiça Federal, contra os licitantes João Luiz da Fonseca e Dalmi Rodrigues de Morais.
“Uma terra que antes era só capoeira e abandono, usada apenas com fins especulativos, hoje possui uma produção anual de 500 sacos de arroz, 270 mil pés de mandioca, 25 mil pés de café, 1,2 mil sacos de milho, 5 alqueires de feijão, 700 galinhas, 5 mil pés de banana, 4 vacas de leite, 6 eqüinos e 40 suínos”, assinala. De acordo com a LCP, a reintegração de posse seria fatal para essas famílias.
A Justiça em Ariquemes concedeu-a em favor de Edilson Neuhaus. Isso, segundo o movimento, “garante a permanência da especulação imobiliária, já que as pessoas que se dizem donas da terra e que não são poucas (entre elas o ex: ex-prefeito de Vale do Anari, Nego Maturana, Diana Maria das Mercês Galhardi, Antonio do burro, Dalmi Rodrigues de Morais, Moacir José da Silva, João Luiz da Fonseca) nunca fizeram nada além de cometer crimes ambientais, destruindo a floresta sem plantar ou construir qualquer coisa na terra”.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)