Domingo, 5 de agosto de 2012 - 17h11
Nas águas do interior amazônico, japoneses viveram o jugo, a resistência e a epopeia. E venceram /MONTEZUMA CRUZ E A CRÍTICA |
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Em outubro de 2011 imigrantes e descendentes de japoneses ouviram, em ato solene na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, um pedido de desculpas por injustiças sofridas 70 anos atrás. Vila Amazônia, por eles fundada em 1931, voltava a ser notícia.
Quase um ano atrás, a mídia mostrava o modo de vida dos Koutakusseis. Agora, o escritor, historiador e acadêmico de letras no Estado de Rondônia, Antônio Cândido, resgata um pouco dessa gente, em romance histórico-ficcional. Lançará o livro Vila Amazônia – Os Koutakusseis no próximo sábado, dia 11, em Porto Velho.
Amores proibidos e de caboclas seduzidas pelos japoneses nos milharais da terra firme ou nas planícies da várzea cobertas por arrozais e plantações de juta. Retrata as diferenças culturais entre os povos japonês e brasileiro, enfatizando crendices, mitos, lendas e mistérios que povoam o cotidiano do ribeirinho na Amazônia.
Koutakusseis eram japoneses escolhidos entre os jovens da classe média e alta para frequentarem a Escola Superior de Colonização do Japão, onde se preparavam para servir de orientadores e intérpretes para os outros japoneses em Vila Amazônia.
Sofreram forte perseguição. O governo confiscou-lhes, quando o Japão foi declarado inimigo na 2ª Guerra Mundial. Nada restou de suas terras, indústrias de beneficiamento da juta, e companhia de exportação. Os imigrantes que permaneceram na Vila Amazônia foram presos e depois levados ao Estado do Pará e lá foram confinados na localidade de Acará. Para os japoneses e descendentes, o lugar “não passava de um campo de concentração em plena Floresta Amazônica”.
Com os japoneses, a juta, fibra natural asiática, tornou-se fundamental para a economia brasileira, porque dela eram fabricados sacos para exportação do café. Tiveram êxito nesse aspecto, pois em pouco tempo o Brasil deixava de importar a fibra da Índia.
Um destacamento de 249 jovens escolhidos entre os melhores das escolas de nível médio, pertencentes à classe média alta veio sob juramento de permanecerem para sempre na Amazônia. Todos cursaram a Escola Superior de Agricultura do Japão.
A vinda desse numeroso grupo ocorreu entre 1931 e 1937. Em 1942, 265 famílias japonesas se juntaram a famílias de caboclos e formaram uma população de, aproximadamente 1,5 mil pessoas que produziam, além de juta, feijão, arroz, milho e farinha. Vendiam toda produção aos mercados de Manaus e Belém, e ainda exportavam excedentes para o Japão.
Segredos que a Vila escondia
Na página 85:
– Jonga! Acorda menino – falou tio João, segurando nas mãos a espuma branca retirada da água – olha! Vamos embora que o gigante já babou.
Jonga, como se despertando de um sonho, olhou para o rio cujas águas estavam serenas como se nada houvesse acontecido, desceu o barranco calado, olhou para a imensidão do Paraná do Espírito Santo, sentindo que aquela era uma despedida definitiva.
Nunca mais ele voltaria a habitar as palafitas do varjão, onde a única obrigação de uma criança era ser feliz, sentiu um aperto no peito e uma grande vontade de chorar.
Do capítulo da página 255:
Dona Rita estava de volta à escola e, sem uma explicação convincente, as aulas do professor Kimura estavam suspensas. Dona Rita sabia os motivos, mas guardava para si esse conhecimento.
Os japoneses antes contentes com o desenrolar da guerra, agora andavam preocupados embora os súditos do Imperador continuassem com um excelente desempenho bélico.
A alegria declarada de antes dava lugar à preocupação. Sabiam que depois que o Brasil declarou guerra aos participantes do Eixo, a qualquer momento poderia haver retaliações contra eles, os italianos e contra os alemães.
Os navios continuavam sendo atacados na costa brasileira e as notícias conseguidas, provavelmente através da “Voz do Brasil”, davam conta de que no sul e sudeste do País o povo cobrava do Presidente Vargas ações mais enérgicas, inclusive, contra os imigrantes vindos dos países que compunham o Eixo. Só então, o Doutor Ono percebeu que não fora uma boa ideia ter casado agora, pois obrigaria Mitsue a sofrer com ele as consequências que a guerra pudesse trazer e ela não estava preparada psicológica e fisicamente para enfrentar a adversidade numa terra distante e estranha aos seus costumes.
UM POUCO DO GLOSSÁRIO
■ Aninga – Planta da família das aráceas de fibras aproveitáveis para cordoalha.
■ Canarana – Gramínea de grande porte abundante nas margens dos rios amazônicos.
■ Gueixa – Mulheres japonesas que estudam a tradição milenar da arte da sedução, dança e canto, e se caracterizam distintamente pelos trajes e maquiagem tradicionais.
■ Hanafuda – Jogo silencioso de cartas entre o casal.
■ Hinomaru – Bandeira do Japão.
■ Jikatabi – Modelo de sapato japonês “unha de vaca”.
■ Kisimayo – Hino Nacional do Japão.
■ Makegumi – Derrotistas (corações sujos).
■ Saikerei – Reverência que faziam ao acordar ao imperador, no rumo do sol nascente e, um minuto de silêncio pelos mortos na guerra.
■ Tokkotai – Pelotão especial de ataque (justiceiros).
CONTATO
a.candido.silva@hotmail.com
O livro com 342 páginas foi impresso em fevereiro de 2012 pela Prol Gráfica para Editora Schoba, de Itu (SP): atendimento@editoraschoba.com.br
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