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Montezuma Cruz

Jaru já foi o ‘campeão’ da malária na Amazônia


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 MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 Até o final dos anos 1970, a fama pertencia a Ariquemes, pejorativamente conhecida por Aritremis, mas em 1984 Jaru passava à frente nas lamentáveis estatísticas da malária. Publiquei na edição de 6/2/1984 no Jornal do Brasil a informação do médico Olivar Emmanoel Coutinho da Fonseca, então diretor da Unidade Mista de Saúde daquele município da BR-364, a 280 quilômetros de Porto Velho: de cada quinhentos internamentos, pelo menos trezentos eram motivados por essa doença, campeã das endemias no mundo.


“É impossível acabar com ela”, desabafava o médico Emannoel Fonseca. Em trabalho conjunto com a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), ele destacava 15 agentes de saúde para conscientizar a população rural – especialmente nos projetos de colonização – sobre os efeitos de drogas à base de quinino e as maneiras de evitar a malária.

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A doença atacava os jaruenses, deixando sua marca no mato e na cidade, exigindo a atenção do Banco Mundial, que financiava a colonização de Rondônia desde o início dos anos 1980 /SEMCEL JARU
 

 
 Ah! Projeto Padre Adolfo Rhol! Não levava a culpa sozinho, eis que, 15% dos casos ocorridos em Jaru haviam sido detectados na zona urbana, principalmente entre homens. A situação piorava com a chegada de garimpeiros à Serra Sem Calças, constatava o então secretário de saúde, José Adelino da Silva.
 

A angústia dos colonos crescia, na medida em que visitavam a cidade, onde já preocupava a ocorrência de tifo, leishmaniose e hanseníase. A 30 quilômetros dali, a malária matava quatro pessoas em Ouro Preto do Oeste. Atacados pelo mosquito anofelino (transmissor da doença) no Distrito de Abunã, um geólogo, um administrador, um motorista e 20 trabalhadores braçais tiveram que paralisar a pesquisa de ouro e cassiterita. Os maiores focos nessa região alastravam-se nos garimpos de Mutumparaná e Paredão.
 

A partir de Jaru, a doença era reconhecida não apenas nos relatórios da Saúde Pública, mas despertava o Banco Mundial. Oscar Echeverría, economista dessa instituição, informava a respeito do interesse do banco em apoiar o combate aos focos da doença. Prometia aumentar para 55% a parcela de recursos ao setor de saúde em Rondônia. Explica-se: o banco financiava o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), que custeava a ferro e a fogo a colonização rondoniense, investindo só em 1984 o montante de 80 bilhões de cruzeiros no mais novo estado brasileiro.
 

Para controlar a malária, o banco buscava o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da extinta (e ressuscitada em 2010) Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Mas  a doença seguia matando não apenas em Jaru, mas por todo canto de Rondônia.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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