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Montezuma Cruz

LIÇÕES DA EMBRAPA


 
Merendeiras do Acre vão à Bahia 
aprender a fazer bijus coloridos e geléias 


MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

BRASÍLIA – Merendeiras do Acre viajarão para Cruz das Almas, entre o final de agosto e início de setembro, para treinar a fabricação de bijus coloridos, suco de mandioca e geléias de frutas. A iniciativa surgiu após as palestras feitas na semana passada pelo pesquisador da Embrapa Mandiocultura e Fruticultura Tropical, Joselito da Silva Motta, a convite do deputado Fernando Melo (PT-AC). O criador dos já famosos bijus falou para associados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Acre, Organização das Cooperativas Brasileiras, técnicos da Embrapa e agricultores próximos à capital, Rio Branco, e do Vale do Juruá.

Elas deverão levar para casa não apenas receitas, mas o exemplo de sucesso de melhora na merenda a partir do uso desses produtos, o que já ocorreu em Santo Antonio de Jesus e Conceição do Coité, ambas na região do Recôncavo Baiano, que tem cerca de dois mil bijueiros.

"Em vez da dependência de produtos edulcorantes que chegam até deteriorados às regiões mais distantes, o programa adotado por esses municípios privilegiou em boa hora um rodízio de produtos do campo e com olhar social, e é isso que o Acre e outros estados amazônicos também podem fazer", explica o pesquisador Joselito da Silva Motta. 

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Próspero e Isabel experimentaram vendas e planejam entrar no negócio /KELLY SOUZA


Ele já conduziu produtores daquela região à Terra Madre, o Salone del gusto, uma feira internacional de alimentos em Turim, na Itália, promovido com o apoio da Fundação Slow Food para a Biodiversidade (endereço no final desta matéria).

O Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), as prefeituras dos municípios de Sena Madureira, Cruzeiro do Sul e Rio Branco apoiarão a viagem. Outros municípios deverão confirmar participação. Da reunião com o deputado Fernando Melo participaram o secretário municipal de Educação de Rio Branco, Moacir Fecury da Silva; a secretária-adjunta de Educação do Estado, Maria Luiza de Assis; o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Milton Cossom; e o gerente do Sebrae no Acre, Orlando Sabino.

"Estamos unidos para resgatar e valorizar a cultura da mandioca, que teve sua origem há 12 mil anos nas regiões onde surgiram o Acre e em Rondônia, segundo exames de DNA feitos pela Embrapa", entusiasma-se o deputado. 

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Bijus coloridos já são conhecidos no Salão do Gosto, em Turim, na Itália /EMBRAPA
Alternância de sabores

Joselito Motta explica a razão do sucesso do empreendimento em Santo Antonio de Jesus e Conceição do Coité: "Hoje, os alimentos consumidos na merenda refletem no organismo e na saúde das crianças. As secretarias municipais de agricultura e educação adotam uma alternância de sabores", ele conta. Assim, o pesquisador pede para o Acre não se limitar aos bijus ou ao suco de mandioca.

"Tem que partir mesmo para o aproveitamento da castanha no mingau, bolos de mandioca mansa. O de carimã é igual ao de aipim. O mingau de carimã, feito com a goma da mandioca pubada, é ótimo. A farinha de Cruzeiro do Sul e o coco podem ser bem temperados, unindo uma série de proteínas", sugere.

Para Motta, a exemplo da Bahia, as prefeituras acreanas têm condições de mobilizar suas associações de produtores para incorporar as práticas de fabricação. O treinamento das merendeiras proporcionará, por exemplo, a fabricação do pirê de aipim, o "escondidinho" cremoso ou líquido. "Com alternância de sabores é possível utilizar ainda na merenda a banana-da-terra, a banana-prata, goiaba, açaí, beterraba e o inhame, tendo sempre a mandioca como carro-chefe", argumenta o pesquisador. "Com certeza, esse possível desvio de rota, essa atitude ousada, irá beneficiar quem precisa", acrescenta. 

Casal vende toda a produção em meia hora 
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Motta: um estímulo a toda prova e receita bem aplicada /EMBRAPA


KELLY SOUZA
Agência Amazônia 

SENA MADUREIRA, AC – Começou e vai pegar. Em meia hora, R$ 50 faturados. O casal Próspero Soares e Izabel Soares ouviu a palestra de Joselito Motta, assimilou a técnica e colocou a mão na massa. Caprichou nas dezenas de bijus e foi vendê-los na feira da cidade.

"Não deu para quem quis", ele comemora. Bastou o estímulo do pesquisador da Embrapa e o casal tomou a frente dessa nova fase da mandiocultura no Juruá. Aprendeu rapidamente. Os primeiros bijus, com o sabor de maracujá, abacaxi, milho e beterraba, foram vendidos rapidamente. "As vendas dobraram. Eu fico muito animado porque é uma renda a mais para nós", diz Próspero.

Em vez de receber água, a fécula (goma) é hidratada com o suco ou a polpa das frutas e hortaliças. Os bijus ainda podem ser consumidos com leite condensado, melado de cana, mel, doces e geléias. Quem experimenta, aprova a iguaria. Tanto que o prefeito Nilson Areal (PL) já estuda a posssibilidade de incluí-la na merenda escolar. Para Areal, a medida mais vai agregar valor à mandioca, beneficiando centenas de agricultores familiares.

"As palestras feitas pelo pesquisador para técnicos e agricultores em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira despertaram o Acre para um novo tempo na cultura mandioqueira", comentou o deputado Fernando Melo. As pessoas que ouviram Motta na Rádio FM Juruá e na Rádio Gazeta em Rio Branco entraram em contato com a assessoria do deputado e querem receber mais informações da Embrapa Mandiocultura, a respeito dos bijus e de outros produtos à base de frutas. 

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Agricultores de Sena Madureira agora têm alternativa de renda /ASSESSORIA

Degustação em escola

Nesta segunda-feira, 11 de agosto, ele promove degustação dos bijus na Escola Messias Rodrigues, e se houver aceitação o produto será incluído na merenda escolar definitivamente. "Se a sugestão do deputado Fernando Melo der certo, como estamos esperando, nós iremos atender prontamente. Isso vai melhorar a qualidade da merenda escolar e a vida dos produtores", destaca Areal. 

Para as 45 famílias assentadas no Pólo Agroflorestal Elias Moreira, na zona rural de Sena Madureira, a única fonte renda provém da mandioca e depois, do cultivo de hortaliças. Segundo a Secretaria Municipal de Agricultura a produção chega a cinco toneladas por hectare, o que tornou o município no maior pólo mandioqueiro do Estado.

Tamanha produtividade não garante dinheiro no bolso em quantidade que o esforço dessas famílias merece. O mercado local paga apenas 50 centavos pelo pé de mandioca e em distâncias maiores esse preço baixa ainda mais. A farinha, principal derivado, é produzida artesanalmente e o esforço dos agricultores não traz o retorno esperado. 

Baianos põem biju, suco e geléia na merenda

SANTO ANTONIO DE JESUS, BA – Onze mil crianças da rede escolar deste município do Recôncavo Baiano, a 200 quilômetros de Salvador, consomem produtos nativos à base de frutas e de derivados da mandioca. Os bijus coloridos com hortaliças e frutas e o suco que substitui o refrigerante viraram sensação na cidade.

Com cem mil habitantes, dos quais apenas 15% na zona rural, Santo Antonio de Jesus vivia o desânimo por conta do acentuado êxodo rural, contou à Agência Amazônia o secretário municipal de Agricultura, Galdino Modesto. Lá chegaram pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical e técnicos do Sebrae. "A conscientização chegou com as oficinas para alunos e familiares. Todos viram surgir cerca de 60 produtos industrializados com a melhor qualidade e com isso participam da Expomandioca, que este ano está na quarta edição", ele conta.

O prefeito Euvaldo Almeida Rosa (DEM) está satisfeito com os resultados desse aprendizado. Ele conta atualmente 14 produtos regionais, entre os quais cítricos (laranja-pêra, por exemplo), com prioridade para as nutricionistas. Além dos alunos da rede pública, crianças de creches, de orfanatos e de asilos se alimentam diariamente com a fartura de produtos.

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Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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